31 DE JULHO DE 2024.
18h15 DA NOITE.
LONDRES, REINO UNIDO.A porta do quarto de hotel se abriu lentamente, e Kuroo adentrou o espaço silencioso, exalando um suspiro de cansaço que parecia estar preso durante todo o dia. Seu expediente finalmente terminara, e agora ele poderia, ao menos, buscar algum descanso. Ele fechou a porta atrás de si e se dirigiu à varanda, atraído pela vista que, para ele, era uma das raras dádivas daquele lugar solitário.
Enquanto caminhava, os dedos lutavam para desfazer o nó da gravata vermelha em seu pescoço, como se estivesse se libertando de algo mais que apenas uma peça de roupa. Aquela parte da noite, ao chegar ao hotel, era talvez a mais amarga: o silêncio profundo e impessoal o envolvia, lembrando-lhe que não havia ninguém à sua espera, ninguém com quem pudesse compartilhar o peso do dia.
Ligar a TV estava fora de questão, pois sabia que corria o risco de ver o rosto que tentava, em vão, esquecer. Conversar com os amigos tampouco era uma opção, pois inevitavelmente ele perguntaria sobre Kei, abrindo uma ferida que ainda doía muito. Restava-lhe apenas a paisagem quieta, a promessa de um copo de bebida e a esperança de que o sono o acolhesse antes que as memórias o invadissem.
Era como se o mundo conspirasse contra ele. De repente, um outdoor digital se iluminou em frente à sua varanda. Era uma propaganda das Olimpíadas e, em destaque, Tsukishima executava um bloqueio magistral. Abaixo da imagem, uma pequena frase fazia o coração dele acelerar: “Destaque Mundial das Olimpíadas: O Fenômeno do Japão, Tsukishima Kei”' Kuroo fechou os olhos por um instante, sentindo o peso de algo que não podia descrever, e, sem hesitar, virou-se para deixar o local.
Ele fechou a porta da varanda e puxou a cortina até cobrir toda a visão externa, bloqueando a imagem insistente do rosto de seu ex-namorado, que parecia sempre espreitar, impregnado nos cantos da memória. Kuroo caminhou lentamente até a estante ao lado da cama, os passos ecoando no silêncio do quarto, e apanhou a garrafa de whisky. Era a mesma que comprara em seu primeiro dia em Londres, já quase vazia, testemunha das noites em que o álcool oferecia uma trégua temporária ao peso das lembranças.
Serviu-se de um pouco, observando o líquido âmbar deslizar pelo copo com uma tranquilidade que contrastava com o turbilhão em sua mente. Sentou-se na cama, tirando os sapatos com os pés, num gesto automático e desprovido de cuidado, como quem não tem pressa para nada. Levou o copo aos lábios e, ao primeiro gole, sentiu o calor da bebida espalhar-se pelo peito, misturando-se ao cansaço que lhe pesava nos ombros. Kuroo suspirou, um som pesado que parecia absorver o silêncio ao redor. Ele odiava o vazio da quietude, que apenas amplificava as vozes do passado e as inquietantes de sua própria mente.
Enquanto os olhos de Kuroo vagavam pelo quarto, sua visão se fixou no reflexo que o espelho ao lado da cama lhe devolvia. Ali estava ele, esgotado e vulnerável, uma versão distante do homem despreocupado e determinado que um dia fora. A cada gole, lembranças reprimidas emergiam como fragmentos de um filme: sorrisos e provocações, toques rápidos e olhares trocados em silêncio. Momentos que, ao mesmo tempo que traziam conforto, lhe traziam um amargo sabor de perda.
Ele deixou o copo de lado e cobriu o rosto com as mãos, num gesto de quem tenta apagar o próprio reflexo e a avalanche de memórias. No entanto, sua mente insistia em lhe pregar peças, trazendo a imagem de Tsukishima com clareza inquietante. "Por que não consigo seguir em frente?", pensou ele, num sussurro rouco que apenas o vazio do quarto poderia ouvir. As promessas não cumpridas e as palavras deixadas pelo caminho formavam uma corda invisível que o mantinha preso a algo que ele sabia não mais existir, mas que continuava a pulsar, teimosamente, em seu peito.
Quase sem perceber, ele apanhou o celular sobre o criado-mudo, e seus dedos pairaram sobre a tela, indecisos. O nome de Tsukishima parecia brilhar entre os contatos, um fantasma eletrônico que, de alguma forma, se recusava a ser esquecido. Bastaria uma mensagem, uma ligação... Mas o que ele diria? E como suportaria ouvir a voz que tanto lhe fazia falta, ainda que pudesse estar carregada de uma frieza dolorosa?
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𝐅𝐎𝐑𝐄𝐕𝐄𝐑 & 𝐀𝐋𝐖𝐀𝐘𝐒 • KuroTsuki
FanficㅤQuando seu irmão mais velho, Akiteru, morre devido a uma doença crônica, Kei se vê sozinho e assume a responsabilidade de cuidar dos seus sobrinhos gêmeos quando o tribunal concede a guarda das crianças a ele, transformando-o de jogador de vôlei de...