Dia 44

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Richard

Estava no vestiário, momentos antes do jogo começar, ajustando as caneleiras e tentando focar totalmente. O jogo contra o Flamengo era crucial, e eu queria estar mentalmente preparado. Cada partida era uma chance de mostrar meu valor, ainda mais depois de tudo que vinha acontecendo com a Ananda. Minha cabeça ainda estava meio tumultuada, mas estava tentando focar apenas no campo.

Foi quando o Agustín se aproximou com um sorriso meio safado. Ele parecia animado com algo, e me cutucou, interrompendo minha concentração.

  – Richard, preciso que você faça um favor, hermano — começou ele, com aquele tom de voz que já indicava confusão.

  – O que foi agora, Agustín? — perguntei, já meio desconfiado. Ele sempre aparecia com alguma ideia mirabolante.

  – Tá vendo aquela mulher ali no camarote mais pobrinho? — Ele apontou discretamente para uma mulher elegante, com vestido sofisticado e postura impecável, que estava sentada sozinha. — Preciso que vá até ela e diga que eu vou subir para o camarote depois do jogo, mas que ela pode aproveitar o espaço por enquanto.

Levantei uma sobrancelha, achando aquele pedido estranho.

  – E por que você mesmo não vai lá? — questionei, sem entender muito bem o motivo.

Agustín riu, passando a mão pelo cabelo, quase envergonhado.

  – Ah, você sabe... Sei que você é casado, não tem nada pra você ali. Eu... bem, digamos que eu poderia me distrair demais. Só vai lá rapidinho e diz que mandei um abraço — ele insistiu, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Bufei, não muito a fim de participar de mais uma das investidas de Agustín. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ele não me deixaria em paz.

  – Agustín, eu realmente não queria me envolver nessas suas confusões... — respondi, ainda indeciso.

Ele suspirou, fazendo uma expressão quase derrotada.

  – Vamos lá, Richard. Vai ser só um segundo, e ela já sabe que sou eu que mandei a mensagem. Além do mais, você é casado, não daria nada para você — disse, tentando me convencer de qualquer jeito.

Revirei os olhos, mas acabei concordando, só para ele parar de insistir.

  – Tá bom, vou lá só porque estou querendo paz para me concentrar no jogo — disse, me levantando e seguindo em direção ao camarote.

Ao me aproximar da mulher, percebi que ela realmente era impressionante. Olhos brilhantes e um sorriso tranquilo, como se estivesse apenas curtindo a atmosfera antes do jogo. Me aproximei com um sorriso contido, já me preparando para ser o mais objetivo possível.

  – Olá, desculpe interromper — comecei, tentando ser educado. — O Agustín pediu para dizer que ele vai subir para o camarote depois do jogo e mandou um abraço.

Ela me olhou com um certo interesse, como se estivesse analisando cada detalhe do que eu dizia. Então, deu um sorriso de canto e respondeu com uma voz suave.

  – Oh, que gentil da sua parte vir me avisar. Vocês jogadores são sempre tão atenciosos assim?

Sorri educadamente, mantendo o profissionalismo.

  – Ah, nem sempre... só estou aqui como mensageiro. Mas espero que aproveite o camarote. O jogo de hoje promete — respondi, já me preparando para me despedir e voltar para o vestiário.

  – Muito obrigada, Richard — ela disse, claramente reconhecendo meu nome, e completou com um sorriso sugestivo. — Talvez eu encontre você e Agustín mais tarde, então.

Assenti, tentando ser o mais diplomático possível, e me afastei. Por dentro, já sabia que essa história renderia algumas brincadeiras por parte do Agustín, mas, sinceramente, só queria que ele entendesse que eu não estava mais para aventuras bobas.

Assim que voltei ao vestiário, lá estava ele, me esperando com aquele sorriso convencido.

  – E então, como foi? — perguntou, quase rindo.

  – Foi tranquilo. Dei seu recado, mas, só para constar, da próxima vez, vai você mesmo, certo? — rebati, tentando manter a seriedade.

Agustín apenas riu e me deu um tapa nas costas.

  – Valeu, hermano. Você é uma boa alma. Agora vamos ganhar esse jogo!

Ananda

Arrumar a Thaís para assistir ao jogo virou quase uma rotina. Ela estava tão animada quanto eu, vestida com a camisa do time do pai, cheia de energia, perguntando sobre o Richard e quando ele apareceria na TV. Eu fazia de tudo para manter meu sorriso e a animação dela, embora, no fundo, minha mente estivesse distante, preocupada com essa fase turbulenta que estava vivendo com o Richard.

Assim que terminamos de ajeitar a sala, tocou a campainha. Camila chegou com pipoca e refrigerante, já pronta para o evento. Ela sabia que ultimamente ver os jogos era um misto de ansiedade e nervosismo para mim. Quando a Thaís correu animada para ela, Camila me lançou um olhar cúmplice, entendendo que aquela noite talvez precisasse de um suporte extra.

Enquanto o jogo ainda não começava, resolvi checar rapidamente as redes sociais. Foi nesse momento que, sem querer, vi uma imagem que fez meu estômago revirar. Ali, no estádio, Richard estava perto de uma mulher — linda, carioca, bem arrumada, e o sorriso dela parecia de quem estava muito à vontade. Para mim, foi como uma bofetada.

Fiquei em choque, e Camila percebeu na hora.

  – Ananda, o que foi? — Ela se aproximou, claramente preocupada.

Mostrei a foto para ela, que franziu a testa imediatamente.

  – Mas o que é isso? O que ele tá fazendo do lado dela? — perguntou, surpresa, enquanto olhava de volta para mim, esperando alguma explicação.

Eu suspirei, tentando manter a calma, mas era como se aquela imagem se repetisse na minha mente em looping.

  – Não sei, Cami... não sei. Ele saiu dizendo que ia se concentrar, focar no jogo. E aí... isso — falei, sentindo o peso das palavras e tentando manter uma expressão neutra para a Thaís não perceber o que estava acontecendo.

Camila, percebendo minha tentativa de disfarçar, colocou a mão no meu ombro e me guiou para o sofá, puxando a Thaís para sentar entre nós, o que ajudou a distraí-la. Ela continuou assistindo aos desenhos, sem notar a tensão no ar.

Camila virou-se discretamente para mim e sussurrou:

  – Amiga, tenta não pensar o pior, tá? Pode ser uma coincidência, ou sei lá, ele deve ter algum motivo.

Assenti, mas sabia que Camila estava tentando aliviar a situação. Aquela imagem mexeu comigo, e eu não conseguia afastar a sensação de traição, de que tudo pelo que passamos estava sendo jogado fora.

A cada segundo, a vontade de mandar uma mensagem, ligar, perguntar o que estava acontecendo crescia. Mas eu sabia que, se ligasse agora, a discussão seria feia, e o pior é que Thaís estava aqui. Eu não queria que ela presenciasse uma briga, muito menos que ouvisse qualquer coisa que pudesse manchar a imagem do pai.

Camila segurou minha mão e apertou de leve, tentando passar força.

  – Não se deixe abalar por isso agora, Nanda. Vamos assistir ao jogo, e depois você conversa com ele. Pode ser que ele tenha uma explicação que faça sentido, mas você não precisa passar por isso sozinha, tá?

Assenti mais uma vez, forçando um sorriso para ela, e agradeci baixinho.

A partida começou, e Thaís estava animada, torcendo e gritando cada vez que via o pai na TV. A alegria dela me trouxe uma pequena sensação de conforto, lembrando que, por mais complicado que fosse o relacionamento com Richard, minha prioridade sempre seria ela. Olhei para Camila e vi que ela me observava, compreendendo cada uma das emoções que eu tentava esconder.

Durante o jogo, cada gol, cada comemoração, eu tentava focar apenas na alegria da Thaís. Camila, ao meu lado, me deu espaço para processar as coisas, mas sabia que eu podia contar com ela a qualquer momento.

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora