Dia 17

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Richard

Levantei mais cedo do que o habitual, ainda meio grogue, mas determinado. A casa estava em silêncio, e a luz da manhã começava a invadir as frestas da janela. Era o momento perfeito. Olhei para o relógio: sete da manhã. A Nanda provavelmente ainda estava dormindo, e a Thaís, enrolada nos cobertores do quarto dela.

Caminhei devagar até a cozinha, lembrando das vezes que eu costumava fazer surpresas para ela, pequenas coisas que a faziam sorrir. Tinha sido há tanto tempo que, honestamente, nem me lembrava da última vez que preparei algo especial.

Comecei a reunir os ingredientes. O velho Richard sempre foi atencioso, romântico, o cara que sabia exatamente o que fazer para ver o rosto dela iluminado por um sorriso. E era isso que eu precisava ser agora.

Peguei algumas frutas – morangos, amoras, um pouco de mamão – e comecei a cortá-las com precisão, arrumando tudo em uma travessa. Lembrei que ela adorava essas frescuras no café da manhã. Depois, coloquei a água para ferver para o café, sabendo que ela não gostava de nada muito forte, mas ainda queria sentir o sabor encorpado.

O cheiro de pão quentinho se espalhou pela cozinha assim que coloquei as torradas na frigideira. Puxei um pouco de manteiga para derreter e dei um sorriso leve ao lembrar de quantas vezes eu fizera isso antes, nos nossos primeiros anos juntos. Eu era o cara que acordava antes dela só para fazer o dia dela começar bem. Era aquele que não deixava passar um detalhe despercebido, como se cada pequeno gesto fosse parte de um grande plano para mantê-la ao meu lado.

A mesa estava ficando impecável: suco de laranja fresco, as frutas organizadas em um prato que mais parecia uma obra de arte, torradas crocantes e um café quente e perfumado. Peguei flores que ela gostava e coloquei num pequeno vaso no centro. Nada muito grande, só o suficiente para dar um toque especial.

Enquanto arrumava o último detalhe, ouvi passos lentos vindo do corredor. Era a Nanda, ainda com o rosto sonolento, os cabelos bagunçados. Ela parou na porta da cozinha, surpresa. Seu olhar percorreu a mesa cheia de frufru e parou em mim, claramente tentando entender o que estava acontecendo.

  – Bom dia — falei, com a voz mais calma do que me sentia por dentro. — Preparei café pra você.

Ela piscou, ainda meio atordoada. Seus olhos foram da mesa para mim várias vezes, como se estivesse processando o que via. Ela não disse nada imediatamente, mas eu podia ver o brilho de surpresa em seus olhos, e aquilo já era um começo.

  – O que é tudo isso? — ela finalmente perguntou, a voz baixa e ainda carregada de sono.

  – Eu só queria fazer algo diferente pra você hoje — respondi, me aproximando devagar. — Lembrei de como você gostava quando eu fazia isso. Só quis... te dar um bom começo de dia.

Ela continuou me olhando, os olhos se estreitando levemente, como se estivesse tentando decifrar minhas intenções. Mas eu sabia que isso ia ser assim. Ela não ia confiar tão fácil, depois de tudo o que aconteceu. Ainda assim, fiz um gesto para que ela se sentasse.

  – Tá tudo aqui. Do jeito que você gosta — falei, tentando manter o tom leve.

A Nanda hesitou, mas se aproximou da mesa e puxou uma cadeira. Aquele foi um pequeno alívio. Ela não estava me empurrando para longe dessa vez.

Sentei-me em frente a ela, observando cada pequeno movimento. Ela pegou uma fatia de torrada, passou um pouco de manteiga e, antes de dar a primeira mordida, me olhou nos olhos, como se estivesse esperando algo.

  – Tá tudo bem? — perguntei.

Ela deu de ombros, mas havia um pequeno sorriso de canto de boca, quase imperceptível.

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora