Ananda
Deixei Thaís na escola, beijando-a antes de vê-la sumir pela porta do prédio com aquele jeitinho feliz e inocente. Mas, no fundo, minha cabeça estava a mil. A noite passada ainda pulsava na minha mente, e a ideia de voltar para casa e lidar com a falta de explicações de Richard me deixava agitada.
Ao chegar em casa, destranquei a porta, entrei na sala, e fui surpreendida ao dar de cara com ele. Estava sentado no sofá, mexendo distraidamente no celular, mas ergueu o olhar ao me ver. Seus olhos encontraram os meus, e, por um instante, pude jurar que ele parecia surpreso – ou até um pouco apreensivo – ao me ver ali, como se soubesse exatamente o que eu estava prestes a dizer.
Cruzei os braços e me aproximei devagar, sem tirar os olhos dele.
– Richard... — comecei, mantendo o tom firme, tentando não deixar o nervosismo tomar conta. — Onde você foi ontem à noite?
Ele ergueu as sobrancelhas, e vi um leve desvio no olhar antes de responder.
– Eu já te disse, Nanda. Fui encontrar o Joaquín, resolvemos algumas coisas, conversamos sobre o time... essas coisas.
Soltei um riso incrédulo e balancei a cabeça.
– Sério? Foi isso mesmo? — Me aproximei mais, cravando meu olhar no dele, esperando que alguma faísca de sinceridade aparecesse. — Porque, se você saiu com o Joaquín, ele deve ter um clone, então, já que, logo depois que você saiu, a Camila veio aqui em casa. E adivinha? Ela disse que o Joaquín estava com ela até aquele momento.
Ele engoliu em seco, e por um momento, a máscara dele pareceu vacilar. Mas logo ele recompôs a expressão, cruzando os braços defensivamente.
– E daí? Talvez ele só tenha dado uma passada rápida lá depois... Não sei, Nanda, você tá fazendo uma tempestade em copo d'água.
Senti a raiva pulsar em minhas veias. Era a falta de clareza, a forma como ele parecia enrolar sem jamais dar uma resposta direta. Me aproximei ainda mais, me impondo, encarando-o com uma mistura de incredulidade e frustração.
– Eu tô fazendo uma tempestade? — perguntei, a voz saindo um pouco mais alta do que eu pretendia. — Sabe o que eu acho, Richard? Eu acho que você simplesmente não tem coragem de admitir o que realmente estava fazendo. Se você quisesse que eu acreditasse nessa história toda, teria dado uma explicação que fizesse sentido!
Ele passou a mão no rosto, claramente irritado.
– Nanda, por que você tá agindo assim? Eu não fiz nada de errado. Só saí pra dar uma volta com um amigo. Preciso mesmo justificar cada passo que eu dou?
Aquela postura defensiva dele me irritava ainda mais.
– Precisa, Richard! Porque essa história tá cheia de buracos. Se você tivesse sido honesto desde o começo, eu nem estaria te questionando agora. Mas toda vez que eu pergunto onde você foi, você enrola, esconde, e parece que tá mentindo.
Ele ficou em silêncio por um segundo, olhando para o lado, como se estivesse buscando paciência. Em seguida, respirou fundo e voltou a me encarar.
– Olha, Nanda, eu já te disse onde eu fui. Se você não quer acreditar em mim, é um problema seu.
Aquelas palavras foram o suficiente para fazer meu sangue ferver.
– Um problema meu? Richard, eu estou te dando uma chance de ser honesto comigo! E, se tem algo que eu não suporto, é mentira. Eu fui sincera em cada situação com você, até sobre coisas difíceis, e você vem com essa desculpa esfarrapada esperando que eu simplesmente aceite?
Ele desviou o olhar mais uma vez, o que só aumentava minha desconfiança. Me aproximei mais um passo, quase o desafiando a encarar de frente.
– Me olha nos olhos, Richard, e me diz a verdade. Em que lugar você foi ontem? Porque se você não consegue nem sustentar isso, como espera que eu confie em você?
Ele suspirou novamente, mas ainda assim manteve o olhar em mim, como se estivesse cansado daquela discussão, porém sem a intenção de realmente ser sincero.
– Nanda, eu já te disse a verdade. Não vou repetir mil vezes, porque claramente você já tem sua opinião formada. E, francamente, não quero ficar discutindo isso.
Eu o observei, sentindo um misto de tristeza e exaustão. Era como se cada palavra que ele dizia apenas cavasse um buraco mais profundo entre nós. Balancei a cabeça, exasperada.
– Sabe, Richard, eu queria acreditar em você. Eu realmente queria. Mas essa sua postura, essa falta de transparência... Isso só me faz sentir que você tá escondendo algo. E, se você continuar assim, eu realmente não sei como poderemos continuar.
Ele se calou, mas não demonstrou qualquer intenção de ceder. Me virei, deixando o peso daquela discussão no ar, enquanto sentia uma amargura que eu não esperava. Era doloroso perceber que, talvez, o homem que eu tinha ao meu lado não fosse capaz de ser honesto comigo. E isso, por si só, era algo que eu não poderia ignorar.
Richard
Estava no vestiário, já quase pronto pra ir pro treino, tentando focar no jogo do fim de semana. Era uma das poucas vezes que conseguia deixar as coisas de casa um pouco de lado. Mas não demorou muito até o Joaquín aparecer, todo desconfiado, com aquela cara de quem já sabia demais.
Ele se apoiou na lateral do meu armário, cruzou os braços e ficou me encarando, com um sorrisinho de canto que eu conhecia bem. Ele estava pronto pra soltar alguma coisa, e eu sabia que não era boa.
– Então, Richard... — começou ele, com aquele tom de provocação. — Quer dizer que você usou meu nome pra sair escondido?
Fiz que não ouvi, me ocupando em colocar as caneleiras, ajeitando o uniforme, tentando passar o máximo de naturalidade possível.
– Tô falando com você, cara. Desde quando você usa meu nome pra fugir?
Revirei os olhos, ainda ignorando, mas ele não desistiu. Senti ele puxando meu braço pra me virar de frente pra ele.
– Que foi, Joaquín? — perguntei, fingindo irritação.
Ele soltou uma risada debochada.
– Ah, agora vai fingir que nem sabe, é? Ananda me ligou ontem, confirmando onde você tava. Eu quase engasguei quando ouvi que eu tava 'te fazendo companhia'. Genial, hein?
Soltei um suspiro, tentando manter a calma, mas, claro, ele não ia deixar passar tão fácil. Sabia que Joaquín me conhecia bem o suficiente pra saber que eu só fazia isso quando tava com a corda no pescoço com a Nanda.
– Cara, foi só uma saída rápida. Precisava de um álibi, tá entendendo? — respondi, tentando ser evasivo.
Ele riu de novo e deu aquele olhar que misturava julgamento e diversão.
– Sério, Richard? Usar meu nome pra isso? — Ele cruzou os braços e ficou ali, me observando, esperando uma justificativa decente, como se eu tivesse mesmo.
— Tá, mas olha... — comecei, ajeitando o cabelo e tentando me fazer de desentendido. — Eu não queria que ela achasse que eu ia sair com alguém que ela não conhecia. E, pra falar a verdade, achei que você não se importaria.
Ele deu uma risada irônica e me deu um tapa nas costas.
– Sabe, se eu ganhar um churrasco por isso, pode até ser que eu esqueça.
Revirei os olhos e fiz uma careta.
– Beleza, tá combinado.
e voltamos aos caos?
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Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard Ríos
FanfictionOnde Ananda e Richard estão se divorciando ᴄᴏᴘʏʀɪɢʜᴛ ᴡɪᴋɪᴍᴀʏʙᴀɴᴋ ꜱᴇᴛᴇᴍʙʀᴏ 𝟸𝟶𝟸𝟺