46.🍷

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Kitra

- Que ódio, o Gabriel não me responde!- resmunguei olhando que ele tinha visualizado mais uma mensagem que eu tinha enviado mas não tinha respondido. 

- Vocês vão acabar se matando.- Dhiovanna respondeu enquanto respirava fundo. Me estendeu um balde de pipoca e colocou o brigadeiro entre nós duas.

- Tá tudo bem?- perguntei observando tudo - Pipoca, brigadeiro e Para todos garotos que já amei?- arqueei as sobrancelhas - Brigou com meu irmão?

- Bingo!- disse sem ânimo - Ele tá fingindo que nada está acontecendo.- respirou fundo novamente - Mas não quero falar sobre isso agora. Por que você e meu irmão discutiram mesmo?

- Naquele dia que eu fui buscar meu colar na casa dele me dei de cara com a Ester.- ela me olhou surpresa - Pior que ela parecia ter dormido lá.- ela me olhou ainda mais surpresa - Você fala que nós somos complicados mas quem complica tudo é seu irmão.

- Não que isso justifique mas fiquei sabendo que os pais dela estão se separando, talvez ela estivesse lá por conta disso. Eles meio que se "apoiam" nessas coisas.- fez aspas com as mãos - Parece que um tem uma dívida um com o outro, não importa o quanto estejam brigados, sempre acabam se ajudando. Enfim, eu que não tento mais entender a confusão deles. 

- O que me deixa mais chateada é que eu nunca iria saber disso pela boca dele. O Gabriel me trata como se eu fosse uma pirralha, eu nunca sei o que de fato ele quer.- larguei o balde de pipoca de lado - Em um dia ele aparece na porta da minha casa tarde da noite e parecendo estar sendo sincero sobre tudo e no outro eu dou de cara com a ex na casa dele e sem ao menos ter noção de que os dois ainda tem esse contato.

- Você não tá se envolvendo com qualquer cara, Kitra. Meu irmão é uma bagunça, vai por mim, você nunca vai conseguir entender ele por completo.

Eu gostava e não gostava de conversar com a Dhio sobre o Gabriel, até porque ela conhece ele mil vezes mais do que eu e isso significa que ela sabe de coisas que talvez eu ainda não esteja pronta pra saber. 

Peguei o balde novamente e me ajeitei na cama dando espaço para que ela também se ajeitasse ao meu lado, desligamos as luzes e demos play no filme. 

{...}

Estávamos no final do segundo filme e a Dhio acabou pegando no sono, já eu ainda estava tão acesa que tinha certeza de que não dormiria tão cedo. Levantei da cama com cuidado, peguei os potes vazios e fui descendo as escadas até chegar na cozinha. 

Olhei o celular por uma última vez e vi que meu irmão tinha enviado algumas mensagens avisando que já estavam voltando. O jogo tinha sido ontem pela tarde, eu sabia que eles viriam logo após mas não achei que seria pela madrugada.

Lavei os potes e coloquei eles no escorredor, limpei a pia e deixei tudo como tinha encontrado. Quando estava prestes a dar costas tomei um susto ao ver meu irmão parado na porta da cozinha, com a mochila nos ombros e uma cara de sono. 

- Puta que pariu, Victor!- gritei colocando a mão no peito - Qual é o problema de vocês, ein?- resmunguei e peguei o copo de água que eu tinha enchido pra levar pro quarto e a virei toda de uma vez - Chegam sem fazer barulho e me assustando.

- É madrugada, como que eu ia imaginar que você ia estar acordada?

- Eu acabei de te responder!

- Ah, foi mal eu não vi.- levantou o celular - Descarregou. 

Revirei os olhos e voltei a encher o copo, minhas mãos ainda estavam trêmulas por conta do susto. Tudo que eu tenho mais pavor é de coisas sobrenaturais aparecerem justo quando estou sozinha, isso me apavora mesmo eu sabendo que talvez não exista.

- A Dhio tá lá no quarto.- falei ainda de costas pra ele - Dorme com ela.

- Não é uma boa, a gente ainda não conversou.

- Vai magoar ela muito mais se você a ignorar.- respondi ele. Guardei a água de volta e fechei a geladeira, quando me virei ele já não estava mais aqui.

Respirei fundo e sorri de canto por saber que dessa vez ele soube me escutar. Dei a volta por trás da cozinha e fui até o armário onde guardamos alguns travesseiros e cobertores. Peguei dois de cada já que estava bastante frio e o aquecedor da sala tinha quebrado mais cedo. Desliguei as luzes da cozinha e ao chegar na sala me deparei com o Gabriel sentado e mexendo no celular.

Tornei a respirar fundo e pensei se valeria a pena cumprimentar ele, no final das contas só seria mais uma perda de tempo. Ajeitei os travesseiros em baixo do braço e caminhei até a ponta da escada.

- Eu saio daqui.- ouvi ele falar e parei antes mesmo de subir um degrau - Mas tá muito frio pra você dormir aqui.

- E desde quando você se importa?- respondi ainda de costas - Não haja como se não tivesse me ignorado por três dias. 

- A gente não iria se resolver conversando daquele jeito, só iria piorar ainda mais as coisas.

- E ignorar iria ajudar?- me virei pra ele e o encarei, percebi que ele nem ao menos tinha saído do celular - Você é patético.- tornei a dar de ombros e subi as escadas com tanto ódio que meu calcanhar passou a doer.

Abri a porta do quarto do meu irmão e quando iria fechar, uma mão a empurrou de volta e o Gabriel entrou. Ele agiu de fato como se eu não estivesse ali, tirou o moletom e os sapatos ficando apenas de calça, desligou as luzes e ligou o abajur, abriu as cortinas, ligou o ar, se jogou de bruços no canto da cama e se cobriu. 

Por algum motivo me deu uma tremenda vontade de chorar, eu odiava a forma como ele conseguia ser frio e irresponsável com suas atitudes. Fui até a cama e me deitei no outro canto, me cobri com os cobertores que tinha pego e usei os travesseiros.

Tempo depois, senti ele se ajeitando na cama e passando o braço pela minha cintura puxando meu corpo para colar no dele. Quanto mais eu tentava me soltar, mais ele me prendia.

- Não vale a pena ficar chateada comigo.- disse baixinho enquanto passava a ponta dos dedos pela minha cintura - Vacilei em ter te deixado sem resposta, mas foi o melhor que eu pude fazer.

- Me ignorar foi o seu melhor?- senti minha voz ficar trêmula e aquela vontade de chorar tornou a tomar conta de mim.

- Exatamente.- deu um beijo no meu pescoço - Conversar com você da forma como eu estava iria te magoar ainda mais, vai por mim.

- Você me magoa de qualquer jeito.- minha pouca voz falou. 

Gabriel pareceu perceber que eu estava chorando já que me virou para ele e se levantou um pouco na cama apoiando seus cotovelos no colchão. Seus dedos passaram pelos fios do meu cabelo que invadiam meu rosto, e o polegar dele parou na minha bochecha fazendo um leve carinho.

- Eu não sou boa pessoa pra você, Kitra.- disse baixinho - Você vai se machucar e ficar nessa pelo resto da vida se tentar me entender ou tentar entrar nessa loucura, vou acabar não te levando pra canto nenhum.

- Mas naquele dia...

- Naquele dia eu estava bêbado.- me interrompeu - Além do mais, não perde tempo comigo sendo que tem uma pessoa disposta a fazer tudo por você.

- E você não está?-perguntei e o olhei profundamente.

Sagrado Profano🍷• Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora