chapter 45 ✔

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Kim Taehyung

Deitado no colchão fino e malcheiroso que faz as vezes de cama, encaro o teto sujo e corroído da cela. A tinta descascada revela manchas de umidade que formam desenhos irregulares, como se até mesmo o teto quisesse me lembrar do caos da minha vida.

A penumbra da lâmpada fraca no corredor projeta sombras grotescas na parede, quase como espectros zombando de mim. O ar aqui é espesso, pesado, carregado de um cheiro que mistura ferrugem, suor e desespero. Respiro fundo, mas é como se o oxigênio não me alcançasse por completo. Cada inspiração parece insuficiente, como se o peso no meu peito me impedisse de encher os pulmões. Talvez seja culpa. Talvez seja a ausência dela.

Ou, mais cruelmente, os dois.

S/N.

O nome dela ecoa em minha mente como um sussurro fantasmagórico, persistente e inescapável. Meu coração, já tão acostumado à dor, aperta-se uma vez mais. A lembrança dela é vívida, quase cruelmente detalhada. Vejo-a com tanta nitidez que, por um instante, quase me convenço de que se trata de algo além da memória. Consigo visualizar seus olhos brilhantes, tão cheios de vida, tão cheios de tudo o que eu destruí.

Consigo ouvir sua risada.

Ah, aquela risada.

Um som leve e despreocupado, que agora parece um luxo que nunca deveria ter me pertencido. E então, o pensamento mais devastador de todos me invade: ela estaria viva, se não fosse por mim. Se eu tivesse permitido que ela fosse livre, se eu não tivesse insistido em controlá-la, se eu não a tivesse perseguido naquela noite, talvez ela ainda estivesse aqui. Minha mente pinta a cena que nunca existiu, mas que eu desejaria mais do que tudo ter vivido: S/N, radiante, com sua barriga grande, carregando nosso filho. O brilho nos olhos dela não seria apagado pelo medo, mas sim pela alegria de esperar por uma nova vida.

Eu consigo quase ouvir sua voz me chamando, brincando sobre como eu seria um pai ansioso demais. Mas nada disso é real. Porque, no final, tudo o que toquei, eu destruí.

De repente, o teto parece mais próximo.

A cela, pequena e claustrofóbica, parece ainda menor. Viro-me na cama, mas o desconforto físico é um alívio insignificante em comparação ao turbilhão emocional dentro de mim. Com um suspiro pesado, eu me forço a sentar, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo meu rosto. Minha pele parece áspera contra meus próprios dedos. Estou cansado, não apenas fisicamente, mas de uma forma que nenhuma noite de sono poderia curar. É como se minha alma estivesse exaurida, drenada de qualquer resquício de esperança.

— S/N... — Murmuro, a voz mal saindo da minha garganta seca.

Pronunciar seu nome em voz alta é um ato que me rasga por dentro, mas ao mesmo tempo, é a única coisa que me mantém preso à realidade. Como se, ao dizer seu nome, ela pudesse, por um momento, voltar para mim. Mas ela não volta. Ela nunca vai voltar.

Me forço a levantar, os pés descalços tocando o chão frio e áspero. Cada passo é um esforço colossal, como se o peso de minha própria existência estivesse sobre os meus ombros. Caminho até a pia, onde um pequeno espelho rachado pende precariamente na parede. A luz fraca faz o reflexo parecer ainda mais fantasmagórico, mas não é a rachadura que me incomoda, é o homem que vejo ali. A figura diante de mim é um estranho.

Meu rosto, outrora orgulhoso e forte, agora parece vazio, desgastado. A pele está pálida, com olheiras profundas que denunciam as noites insones. Minha barba, que antes era inexistente, cresceu de forma irregular, dando ao meu rosto um aspecto ainda mais desleixado e velho. Olho para meus próprios olhos, ou pelo menos tento. É difícil encarar aquele olhar vazio, desprovido de qualquer traço de quem eu costumava ser. Estou morto.

BLOOD SAMPLE | JK + Tae + S/NOnde histórias criam vida. Descubra agora