CAPÍTULO 5 - Como uma árvore

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Continuo o treinamento chato com Lauriet. Não imaginava que esse tal de kata fosse tão entediante. Já é noite e já está me dando sono e fome.

— Acorda! — Diz Lauriet dando um peteleco na minha orelha. — Ainda não é hora de descansar.

— Ai! Sua louca! Estou morrendo de sono e de fome e essa porcaria de kata não está servindo para nada, ainda continuo com as minhas feridas.

— Claro que não serve! Eu te peço para seguir os meus movimentos e se concentrar, mas você leva tudo na brincadeira e fica aí cochilando!

— Não aguento mais, eu preciso descansar!

— Humm... então você quer descansar? — Pergunta Lauriet rindo e fechando os olhos. — Tudo bem, pode descansar.

— Oba, Finalmente um cochilo! — Digo me preparando para deitar no chão.

— Calminha aí! — Diz Lauriet posicionando a mão para frente, paralisando o meu corpo. — Eu disse que você podia descansar, não tirar um cochilo.

— O que vou fazer então?

— Próxima prova... usar o dom de operar maravilhas para tornar os átomos do seu corpo iguais ao meio ambiente em sua volta.

— Hã? — Olho com cara de bobo. — O que devo fazer?

— Nada.

— Nada? Como assim nada?

— Apenas permaneça imóvel nessa posição... — Diz ela abrindo as pernas e dobrando os joelhos, posicionando os braços para frente com os punhos fechados.

— Isso parece fácil. — Digo imitando a posição dela. — Quantos minutos eu vou ficar nessa posição?

— Até o amanhecer.

— O quê! Você está louca? — Pergunto tentando me mexer. Porém, quanto mais me mexo, mais meu corpo parece pesado e não me obedece.

Lauriet sorri e dá voltas em mim, falando:

— Agora os átomos do seu corpo estão se unindo ao solo e vegetação em sua volta, você não conseguirá se mover até que tenha aprimorado esse dom.

— Ai meu Deus, em que enrascada eu fui me meter! Agora vou ficar aqui paradão feito um espantalho!

— E é melhor que se concentre, Celso! Se você quiser aprimorar esse dom até amanhã, terá que se tornar terra, água, ar, vegetação... tudo que estiver em sua volta.

— Eu vou me transformar nessas coisas?

— Não literalmente. Mas será forte como uma rocha, Veloz e leve como o vento, puro como a água... resumindo você vai adquirir atributos da natureza e talvez mais para frente possa utilizar esses elementos em forma de projéteis. Aliás, o dom de se curar instantaneamente virá assim que você dominar esses atributos.

— E o que devo fazer? — Pergunto quase cochilando. — Só ficar aqui paradão esperando as horas passarem? Tem nem um filminho para passar o tempo?

— É só isso mesmo Celso. — Diz ela com um riso debochado. — Parece simples né? Veremos se você consegue suportar as adversidades das condições climáticas e ocasiões importunas da natureza.

— Ah, Isso é moleza! Deixa comigo.

— Se você diz... — diz Lauriet se afastando, sentando numa pedra, começando a tocar uma melodia com uma flauta feita de bambú.

Os minutos se passam lentamente... escuto a melodia irritante da Lauriet enquanto sou mordido por formigas e pernilongos. E agora até uma cigarra maldita e grilos começam a fazer barulho. "Ai meu Deus, eu mereço!" Penso comigo mesmo estressado. Minhas pernas ficam trêmulas e dormentes de tanto permanecer na mesma posição. A noite sopra um vento frio que faz com que o sangue de minhas feridas coagule e estremece os pelos do meu corpo, dos pés à cabeça. "Que agonia imensa! Não suporto mais isso!" Penso indignado, morrendo de dor, sono, fome, sede e frio. Como se não bastasse, começa a chover forte e a trovejar. Uma forte ventania faz com que os galhos das árvores se agitem soltando suas folhas que caem sobre mim, juntamente com os fortes pingos de chuva. Lauriet termina a melodia e se aproxima de mim com um ar de preucupada, dizendo:

Dark Thoughts - O Caminho do Anjo (volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora