CAPÍTULO 1.

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Desde muito cedo, Rayza sempre esteve focada com tudo que estivesse relacionado aos seus estudos. Sonhava em ser médica, estava no último semestre do seu curso, e era a sua mãe quem arcava com todas suas despesas, incluindo moradia, alimentação, e a própria mensalidade que a faculdade cobrava.

O que realmente emocionava, era saber que a sua mãe, dona Maria - como era conhecida - diante de todas as dificuldades, fazia de tudo para ajudar a filha, e não seria diferente até hoje, claro, se ela não viesse à falecer há duas semanas atrás. As duas semanas em que Rayza ficara sem estudar, as duas semanas de tristeza, duas semanas de dor, e o resto de uma vida numa espécie de luto eterno que jamais acabaria.

Já era a hora de Rayza voltar a estudar, pois infelizmente, a vida estava seguindo e o seu diploma de medicina não cairia do céu, então o que devia ser feito, foi feito, ela voltou para as aulas. Chegou atrasada, mas chegou.

- Atrasada mais uma vez, Rayza! - disse o professor García.

Ele não era nem velho e nem jovem, possuía olhos grandes e castanhos, tinha furos nas bochechas, lábios rosas e carnudos, e os cabelos em um topete negro.

- A minha mãe faleceu há duas semanas, esse foi o motivo de não ter comparecido nas outras aulas, e por ter chegado atrasada hoje. - explicou Rayza enquanto enxugava uma lágrima que espontaneamente caiu.

- Mil desculpas, Rayza. Meus sentimentos! - disse o professor, com uma expressão de arrependimento, talvez por tê-la tratado daquele jeito meio que grosseiro.

- Enfim, professor... Posso entrar? - indagou Rayza.

- Claro, querida. Sente-se ali na frente e, mil desculpas novamente. - respondeu García, apontando para o local em que Rayza deveria sentar-se.

Tudo aquilo que o professor falava, aquilo que um dia fora tão importante para aquela doce garota, estava entrando em um ouvido, e saindo por outro... Mas como não ser dessa forma? Só quem já passou por isso, sabe como é difícil, não passa de um labirinto onde todos procuram a saída e poucos encontram, isso é o que a vida injusta nos oferece. E desse labirinto, a garota ainda não havia conseguido sair.

Rayza ficaria a aula toda pensando nesse tipo de coisa, isso se o Diretor Rubens não aparecesse em sua sala com aquele olhar de "você está encrencado (a)", e a chamasse para conversar.

- Srta. Rayza, preciso falar com você! - anunciou o diretor.

Ele tinha em média uns 48 anos, com alguns fios grisalhos espalhados ao seu cabelo castanho escuro, possuía marcas da experiência que eram os traços marcados pelas rugas, os seus olhos eram pretos, e tinha os lábios bastante finos.

- Um minuto, por favor? - respondeu Rayza.

O diretor Rubens assentiu com a cabeça e Rayza levantou-se.

- Com licença, professor Garcia! - ela disse gentilmente.

Com o coração disparado, ela foi de encontro ao diretor, com pensamentos fracos e com aquele belo rosto mostrando um enorme grau de preocupação. O que seria dessa vez? Será que a sua situação iria piorar ainda mais? Foi o que pareceu, aliás, o que aconteceu.

- Boa tarde, Srta. E meus sentimentos! - adiantou-se o diretor cumprimentando-a.

- Boa tarde! E obrigado. - foi o que ela conseguiu responder.

- Vamos direto ao assunto... Acontece que a sua mensalidade está vencida há duas semanas, e precisamos que o pagamento seja efetuado daqui há dois dias. Gostaria de ter como lhe ajudar, mas não posso, entende? - disse o diretor, tentando passar um ar generoso.

- Claro que entendo, senhor! Garanto que daqui há dois dias, o pagamento já estará efetuado, agora voltarei a aula, obrigado!

O mundo da garota, havia acabado de cair, como ela iria conseguir aquele dinheiro em dois dias? Como iria se sustentar? Realmente, ela enfrentaria muitos problemas dali pra frente.

A aula continuou como estava, um clima tenso ou triste, indescritível na verdade. Demorou eternidades para que a campainha tocasse e anunciasse o fim das aulas daquele dia, mas assim que isso aconteceu, Rayza ligou para Victória, a sua melhor amiga.

- Vick amiga, você tá onde? - indagou Rayza com a voz chorosa, e se esforçando para que não fizesse jus ao que sua voz estava supondo.

- Oi amiga, estou com um carinha aqui no jardim dos perdidos - tinha recebido esse nome por ser um lugar onde só podíamos encontrar pessoas viciadas em drogas - Mas, enfim... O que aconteceu com você? Está chorando? - perguntou Victória.

- Amiga, te encontro ai e te explico tudo direito. Tchau! - desligou o celular.

Saindo da faculdade, seu rumo estava definido, iria encontrar a sua amiga no Jardim dos Perdidos, e enquanto ela caminhava para lá, não cansava de pensar em uma solução para os seus problemas. Não cansou, mas também não achou. No meio do caminho, ela encontrou uma velha amiga, que era evangélica, mas que havia se afastado por conta das novas companhias de Rayza, melhor dizendo, por conta da companhia de Victória.

- Quanto tempo, Rayza... Por onde esteve?

- O tempo inteiro dentro de casa. - retrucou cabisbaixa.

- Soube do que aconteceu, meus sinceros sentimentos. Não pude comparecer por que estava viajando, mas orei pela alma da sua mãe.

- Obrigado! - foi a única coisa que ela conseguiu responder.

E por iniciativa da Rayza, as duas abraçaram-se e ficaram de tal maneira por longos segundos.

- Pra onde você estava indo? - indagou Letícia.

- Estou indo encontrar uma amiga!

- Entendi... Mas se você puder evitar andar por esses locais aqui, é bom. Até porque aqui é muito perigoso.

- Não, pode ficar tranquila. Beijos! - disse Rayza em meio ao abraço apertado entre elas, era tudo que ela precisava no momento.

Aquelas qualidades que Rayza possuía, estavam se dissolvendo, ela estava perdendo o foco, e muitas outras boas características. Mas, foi andando para encontrar sua amiga, que o seu interesse por viver decaiu ao máximo, aquela garota prodígio, de ideias brilhantes, já não passava de uma criança carente necessitando de consolo... Sua mente já não tinha mais espaço para pensamentos distantes de uma futura realidade, na qual ela seria uma renomada médica. A sua mente só tinha espaço para pensamentos de uma atual realidade, na qual ela se encontrava no fundo do poço sem saber como sair.

Um final nada feliz!Onde histórias criam vida. Descubra agora