CAPÍTULO 35.

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Uma semana após, os preparativos para o casamento estavam sendo bem encaminhados, a barriga de Rayza estava enorme, devia ter em média oito meses e meio, e o Alemão ainda não sabia dessa gravidez, era chegada a hora de ela contar tudo para ele, e jogar aquele dinheiro sujo, ganho de má fé no rosto dele.

- Chega! Vamos contar sobre os bebês para o Alemão. - Rayza gritou como se estivesse colocando para fora, um peso que carregara por muito tempo.

- Tem certeza que quer fazer isso? - Ele indagou e ela assentiu. - É que... ele não precisa nem saber, eu vou criar os nossos filhos, vou estar sempre do seu lado, amor. - Ele dizia confiante enquanto passava a mão no rosto dela.

- Eu sei John, mas ele vai ter que aprender a ter responsabilidade, e se os filhos forem dele, ele vai ter que registrar. E além disso, eu tenho que entregar uma coisa pra ele. - Rayza disse com raiva nos olhos e ele assentiu decepcionado.

O silêncio no carro era constrangedor, e ambos não fizeram questão de quebra-lo, mas assim que chegaram ao morro que o Alemão morava, trocaram olhares espantados. O local estava repleto de viaturas, policiais cercavam a área inteira, dois helicópteros sobrevoavam todo o morro, e algumas mulheres e crianças se viam desesperados.

- O que está acontecendo aqui? - Rayza perguntou a uma idosa que aparentava estar mais calma.

- Operação policial! - Rayza assentiu sem saber o que dizer, e aparentava estar preocupada. - A situação aqui na comunidade estava feia, um tal de Alemão tocava o terror por onde passava, ninguém tinha segurança aqui, cinco horas da tarde, todo mundo tinha que estar com porta e janela fechada... - A velha senhora continuou falando, mas Rayza não dava atenção, estava muito preocupada. John a puxou pelo braço e a levou para um lugar mais afastado da senhora.

- Porque essa preocupação toda? Isso é porquê estão procurando pelo Alemão? - John gritava, estava fora de si.

- Você é louco? - Deu um tapa no tórax dele o afastando. - Eu não estou nem aí pro Alemão, estou preocupada com a Victória, isso sim! - Caiu no choro.

- Me desculpa, eu não sei o que deu em mim, eu... - Nem precisou terminar de falar, ela o abraçou e colocou a cabeça sobre o seu ombro direito, e soluçava de tanto chorar. - Fica calma, vai dar tudo certo, sua amiga vai se safar dessa. - John tentou acalma-la.

- Não, ela não vai se safar dessa. A essa altura ela deve estar drogada, sem reação alguma, ou presa, sei lá... - Ela gritava.

- Shh, me abraça. - John a abraçou. - Vai dar tudo certo, vou ficar aqui do seu lado, até quando quiser embora, eu te amo. - Depositou um beijo carinhoso nos cabelos macios de Rayza.

Quanto mais tarde ficava, mais viaturas policiais apareciam. No morro haviam milhares de usuários, que agora deveriam estar sofrendo nas mãos dos policiais. Exatamente as onze e trinta e cinco da noite, os policiais começaram a descer do morro, com armas enormes nas mãos, e com algumas pessoas algemadas. Rayza despertou, quando viu que uma dessas pessoas algemadas, era o Alemão.

- Cadê a Victória? - Rayza correu até ele, tentando quebrar a barreira que os PM'S faziam. - Cadê a Victória? - Ela gritava e Alemão não respondia. John tentou puxa-la, mas ela resistiu.

- Olha mocinha, se você não sabe, esse vagabundo aqui...- Deu um tapa na cara do Alemão. - É o pior marginal de todo esse morro, mas se mesmo assim quiser falar com ele, vá até a delegacia amanhã, no horário de visitas. - Afastou Rayza da barreira, e John a abraçou.

- Vamos pra casa, amanhã você fala com ele. Vamos? -Ela assentiu, e se direcionaram para o carro.

Dentro do automóvel, enxergava-se os desesperos alheios de pessoas que perderam seus familiares, muitos choravam tanto, que Rayza também começou a chorar pensando em Victória.

- Eu já disse, vai dar tudo certo! - Deu um beijo na testa dela, e arrancou o carro com toda velocidade que podia, para tirar a namorada daquele inferno.

De volta para a casa, John abriu a boca várias vezes para falar com Rayza, mas vendo a sua situação acabava desistindo todas as vezes. Mas, finalmente ela disse algo.

- Eu quero dormir na minha casa hoje. - Ela disse enxugando a lágrima no rosto e John assentiu.

Assim que chegaram lá, ela ligou a televisão e colocou num noticiário da região. E a primeira notícia, foi sobre essa operação policial.

- Boa noite... Hoje, uma operação policial prendeu um dos traficantes mais procurados de São Paulo. Cujo o nome é Thiago Kennedy, mais conhecido como o Alemão. Passará duas noites na delegacia municipal, e depois será transferido para um presidiário em Guarulhos. - Um dos jornalistas falou.

- Essa mesma operação, gerou muitas mortes. Até agora, foram encontrados vinte e três pessoas mortas, e trinta e cinco pessoas feridas em estado grave. Fique por dentro de mais notícias aqui! - A jornalista concluiu, e quando mudou de assunto, John desligou a televisão.

- Vamos dormir, você precisa descansar. - Ela assentiu. - Amanhã iremos na delegacia falar com o Alemão. - Se direcionaram ao quarto, onde se deitaram e não precisou muito esforço para que conseguissem dormir.

No dia seguinte, assim que acordaram, foram direto a delegacia e pediram para falar com o Alemão. Minutos depois estavam frente a frente, porém um vidro blindado e uma parede os impediam de ter qualquer contato físico. Ela tirou o telefone do gancho, e o Alemão também.

- O que você quer? - A voz grossa e rústica surgiu na linha telefônica.

- Eu quero saber o que aconteceu com a Victória.

- Ninguém sabe da Victória, um dia antes da operação aquela vadia fugiu e me roubou. - Rayza suspirou aliviada.

- E porquê só prenderam você?

- Porquê todos morreram, a Chilena, meus dois parceiros...

- Sinto muito, eu vim aqui te dizer que estou grávida e você pode ser o pai!

- Haha, eu vou passar dois anos presos e você vem me dizer que estar grávida? - Sorriu sarcasticamente. - Pede pra esse playboyzinho criar. - Apontou com a cabeça para o John.

- Se os filhos forem seus, você vai criar, entendeu? - Ela gritou, ele colocou o telefone no gancho, e saiu da sala.

- Idiota! - Rayza gritava, mas ele não podia escutar. - Idiota!

- Vamos embora daqui! - John a abraçou e saiu com ela em seus braços.

- A Victória fugiu um dia antes da operação. - Finalmente Rayza quebrou o silêncio no carro.

- Que bom, ao menos está viva e não está presa. - John disse.

''Pena que não sei se ela não está em uma situação pior!" - Rayza pensou.

- Não deixa a mamãe perceber a sua tristeza, ela se preocupa muito com você. - Rayza assentiu e deu um sorriso quadrado.

Depois de todos acontecimentos, o tempo restante serviu para concluir alguns preparativos que faltavam para o casamento. O tempo inteiro, Rayza não conseguia tirar uma dúvida da cabeça: ''Onde a Victória está?''. Não entregou o dinheiro ao Alemão, muito menos jogou em sua cara, como ele estava preso, decidiu guardar e se um dia o reencontrasse iria lhe devolver tudo.

Esse ano foi tão triste para Rayza, a morte misteriosa da sua mãe, ter que se vender para não passar necessidades, o envolvimento com o Alemão, a entrada de Victória no mundo das drogas, o aparecimento do seu pai, a ameaça do Jorge; o homem da padaria. Mas, uma só coisa foi capaz de deixa-la feliz, o surgimento de John em sua vida, e iria ficar mais feliz ainda, quando eles estivessem casados, e com os seus bebês nos braços.


Um final nada feliz!Onde histórias criam vida. Descubra agora