CAPÍTULO 21.

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Rayza...



Na terça-feira, assim que Rayza acordou e foi ao banheiro, uma coisa havia mudado, ela não manteve o hábito de escovar os dentes primeiro, dessa vez ela urinou, e estranhou isso ter acontecido. Geralmente não era dessa forma.

Depois de arrumada, fez ovos mexidos e comeu. Logo em seguida, foi para a faculdade e a professora Júlia já estava no comando da sala, o professor García já havia tirado férias, e a essa altura deveria estar curtindo uma praia, e um sol escaldante.

- Amores, hoje eu tenho uma pequena tarefa para vocês, e quero que formem duplas. - Rayza olhou para trás, e todas as duplas estavam formadas, o único que estava sozinho, era John.

- Professora, não pode fazer essa tarefa individual? - Rayza levantou a mão para falar.

- Ah não, tem que ser em dupla. Deixa eu ver... - Por cima do óculos com aquele olhar azul da cor do mar, procurava por algo, até que encontrou. - Olha ali, o John está sozinho, faça com ele! - Rayza assentiu. - John, seja cavalheiro e venha sentar-se perto da moça. - John emburrado, veio e sentou-se. - Agora que todos estão com as duplas formadas, quero que cada um pegue um papel e diga o que acha do seu parceiro, qualidades, defeitos, elogios, não economizem palavras. - Todos na sala bufaram, mas começaram a fazer o que a professora havia ordenado.

Rayza olhava para John para saber o que escrever, mas ele não demonstrava emoção alguma. Quando todos terminaram, a professora pediu para que as duplas fossem a frente da sala e lessem o que tinham escrito. Antes de John e Rayza, três duplas foram a frente e começaram a elogiar uns aos outros.

- John e Rayza? - A professora Júlia chamou, para que os dois fossem a frente. - Então podem começar, as damas primeiro.

- O John... - Suspirou - É um cara legal, bonito, humilde, simpático... Ah profess... - É interrompida.

- Ah nada, pode continuar. - A professora retrucou.

- Bom, ele é um cara legal, bonito, humilde, simpático, tem o temperamento bipolar, algumas vezes é tão calmo, e outras tão explosivo - Sem querer, um sorriso bobo surgiu em seus lábios - tem uma família maravilhosa, é competente, com certeza será um dos melhores médicos de São Paulo e eu estou na torcida por ele, são tantas qualidades que não sei nem por onde parar, então paro por aqui.

- John, é a sua vez... - Disse a professora.

- Eu não escrevi nada, vou dizer o que vier na mente. - O coração de Rayza acelerou.

- Então, pode começar. - Retrucou e deu de ombros.

- Bem, a Rayza é uma pessoa ótima, eu sei que posso dizer isso por experiência própria, muito bonita, tem um olhar hipnotizador, simpática, atenciosa, estudiosa e várias outras coisas. O único problema que ela tem, é o de ter medo de confiar em alguém, tirando isso ela é uma pessoa espetacular. - Rayza ficou sem graça.

- Podem sentar, os dois. - Esperou que John e Rayza sentassem. - Felipa e Matheus!

As outras duplas foram cada uma em sua vez a frente, e permaneceram no mesmo clichê de sempre, ninguém tinha defeitos naquela sala. O silêncio estava ficando constrangedor entre os dois, então Rayza resolveu quebrar o silêncio.

- Você acha que eu sou aquilo tudo? - Ela sorriu para ele, com expressão séria ele deu de ombros, e ambos desviaram os olhares para a professora.

- Bom, vocês devem estar se perguntando o porque dessa atividade idiota, não é?! - Todos concordaram. - De idiota, essa brincadeira não tem nada. Eu trouxe ela a essa sala hoje, com o intuito de mostrar a vocês que no mercado de trabalho, você vai ter que saber as qualidades e defeitos de todos que lhe cercam. Você terá que saber os pontos fortes e pontos fracos de todos os seus colegas. E não estou dizendo que você deve atacar a todos, estou dizendo que você deve estar preparado para o ataque. O mercado de trabalho, ultimamente vem sendo como um jogo, todos querem derrubar todos, então vocês devem estar preparados pra tudo. - Todos entenderam o sentido da brincadeira, e aplaudiram em pé a professora Júlia, em meio aos aplausos, Rayza caiu sentada. - Estão liberados por hoje!

- Rayza, você está bem? - John sentou-se ao lado dela.

- Eu estou bem, foi só uma tontura. - Olhou no fundo dos olhos de John.

- Quer que eu te acompanhe até em casa? - Retrucou.

- Não precisa! - Desviou os olhares.

- É claro que precisa. Vem! - Levantou Rayza e caminhou com ela até o carro.

Dentro do carro, o silêncio era constrangedor, ninguém falava com ninguém. Um pequeno diálogo aconteceu, somente quando já estavam na casa de Rayza.

- Você está bem, não é? - Perguntou John.

- Já disse que sim. - Retrucou.

- Então, já vou indo. - Foi andando em direção a porta.

- Fica! - Rayza gritou, e ele olhou para trás. - Eu quero lhe contar tudo o que aconteceu comigo e com o Alemão.

- Não, eu não quero saber nada desse assunto. - Deu de ombros.

- Fica, você precisa saber. - Ele aproximou-se e sentou ao lado dela.

- Então, o que você tem a dizer?

- Há algum tempo atrás, como você sabe, a minha mãe faleceu... - Soltou um suspiro pesado e continuou. - E a minha mensalidade na faculdade, já estava vencida e eu tinha 48 horas para efetuar o pagamento. Eu admito que pensei em trancar o meu curso, mas poxa cara, era o sonho da minha mãe que estava em jogo. Ai então, eu liguei para uma amiga, a Victória, e ela disse que me ajudaria, me explicou o que eu faria, por um momento eu pensei em desistir, mas ela ficou me incentivando, pondo algum tipo de pressão psicológica, e então eu fui a frente! - Os dois ficaram em silêncio, e depois de uns dois minutos John a encarou.

- Continua?

- Foi quando chegamos em uma casa, era a casa do Alemão. Ela contou a minha história para ele, e então ele trouxe uma maleta com dois mil reais pra mim, e a condição que ele tinha para me dar o dinheiro, era que tivesse uma noite... - Ambos deixaram lágrimas cair - Uma noite de amor comigo! No começo eu neguei, mas a Victória não sei como, conseguiu invadir a minha mente, e eu topei. Depois disso, eu e ele nos vimos mais uma vez, ele veio até a minha casa e eu fiquei com ele mais uma vez, eu ainda não estava namorando com você, e já havia mais outra mensalidade vencida. Não nos vimos durante um certo período de tempo, e nos reencontramos no domingo no parque, eu tentei afasta-lo de mim, foi quando você viu. E a noite, assim que você saiu, eu achei a chave do carro, e então bateram na porta e eu abri pensando que fosse você, e quando notei, ele já estava me agarrando as forças e você estava paralisado na porta, observando.

- Meu Deus, porquê não me falou isso antes? Porquê não me falou que já havia se prostituído? Eu me abri com você, lhe contei que havia fumado maconha, lhe contei que era adotado, e você não me contou nada. - Os dois estavam aos prantos.

- Eu tive medo de te perder John, você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Eu não queria te perder.

- Você deveria ter confiado em mim Rayza, eu jamais lhe julgaria. - Os dois derramavam lágrimas em silêncio, John levantou-se e foi em direção a porta.

- Por favor John, volta pra mim! - Suplicou.

- Eu não posso! - Secou as lágrimas, fechou a porta e foi embora.

Quando John foi embora, Rayza foi para o seu quarto soluçando feito criança, deitou-se na cama e deixou cair todas as lágrimas que tinha nos olhos, acabou dormindo e no momento que acordou estava com uma sensação estranha, correu até o banheiro, ajoelhou-se em frente ao vaso sanitário e começou a vomitar.

Preocupada, começou a analisar os fatos: Sua menstruação estava atrasada; urinava a todo instante; teve uma tontura na faculdade; e agora havia vomitado. Não podia ser, tudo indicava que Rayza estava grávida.

Correu a uma farmácia, comprou um teste de gravidez, e quando o fez, suas suspeitas eram verdadeiras. Rayza estava a espera de um bebê, não sabia ao certo qual a sua reação, mas uma dúvida calhou e fez com que ela se preocupasse: Quem é o pai?

Um final nada feliz!Onde histórias criam vida. Descubra agora