CAPÍTULO 23.

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Meu Deus, onde que será que a Victória está? Ela pensou. Necessitava encontrar a "amiga", por culpa dela, talvez... Poderia estar grávida do Alemão, e se isso fosse verdade, ele teria que assumir.

Quando havia chegado em casa, assistiu a nova temporada de The Walking Dead, e depois deitou-se na cama, com um fone de ouvido, ouvindo músicas e cantando sozinha, então pegou no sono e dormiu.

No dia seguinte, acordou disposta, e não perdeu essa disposição na faculdade, tinha um seminário para apresentar nesse dia, mas ela havia esquecido totalmente disso. Improvisar era um dos seus fortes, então não deixou que o despreparo lhe abatesse, foi a frente da sala, mostrou tudo o que sabia e o que pensava, e no final da aula, tinha uma nota 10 no seu boletim de notas.

Quando estava saindo da sala, viu que alguém estava correndo para lhe acompanhar, mas ainda assim continuou. Foi quando uma mão tocou seu ombro, ela conhecia aquele cheiro, ela conhecia aquele toque, era o John.

- Você já decidiu quando vai falar sobre a gravidez com o Alemão? - Perguntou sorrindo para Rayza.

- Ainda não, porque? - Retrucou.

- Quando quiser ir lá, eu posso ir com você!

- Ok, obrigado John, é bom saber que está cumprindo a sua palavra. - Sorriu para ele.

- Por nada, então eu já vou. Qualquer coisa, me liga. - Deu um beijo na bochecha dela, e tentou sair.

- John? - Ele virou para ver o que Rayza queria. - Nós podemos ir falar com o Alemão hoje?

- Claro, vamos almoçar. Depois das duas horas podemos ir lá, tchau! - Tentou ir mais uma vez.

- Quer almoçar na minha casa? - Ele virou-se mais uma vez, e olhou nos seus olhos.

- Você é mesmo insistente, hein? - Ele soltou um sorriso que estava preso desde o início da conversa. - Vamos! - Ela sorriu também.

Os dois começaram a caminhar, e não tinham assunto para poder conversar, tudo estava sendo muito constrangedor, mas o que fazer pra acabar com isso? Ambos não conseguiram uma solução, por dentro, os corações dos dois estavam sendo corroídos pela vontade que um tinha de falar com o outro, os batimentos cardíacos estavam acelerados, os lábios tremiam querendo o consolo um do outro, e a força que os dois mostravam ter por fora, estava se dissolvendo, querendo ou não, os dois se gostavam muito mais do que diziam, e uma hora ou outra, iriam se acertar.

- Senta aí John, o que você quer comer? - Ela perguntou assim que os dois chegaram em casa.

- O que você quiser fazer! - Retrucou.

- Vou fazer um arroz cremoso então, pode ser?

- Pode... Eu posso te ajudar a cozinhar? Sempre tive vontade de aprender. - Ela assentiu, e com as mãos fez um gesto para que ele entrasse a cozinha, e ambos entraram.

- Então, por onde começo?

- Eu gosto do arroz cremoso com frango, tomate, azeitonas e cebola. Então, iremos cortar os temperos e desfiar o frango. - Respondeu pegando duas facas na gaveta e pondo os tomates e cebolas sobre a mesa.

- Desse jeito está bom? - Perguntou John, mostrando a forma em que tinha cortado os tomates.

- Está ótimo! - Sorriu para ele, e ele retribuiu.

Pela primeira vez desde o dia em que tinham terminado o relacionamento, começaram a conversar descontraidamente. Terminaram de cozinhar e sentaram-se para comer, na segunda abocanhada de arroz John gargalhou.

- O que foi? - Rayza perguntou rindo também.

- Desculpa por ter queimado o arroz. - Retrucou com o sorriso ainda no canto dos lábios.

- Acontece com todos, até comigo.

Quando acabaram de almoçar, Rayza começou a lavar os pratos e John secava-os. Logo em seguida, sentaram para descansar um pouco e assistiram ao desenho Bob Esponja, os dois ficaram presos a televisão, pareciam crianças assistindo ao desenho preferido, que nem perceberam que já se passavam das duas horas, mas John lembrou do que ainda tinham que fazer, e olhou no relógio, eram duas e quarenta.

- Vamos Rayza, já passou das duas?

- Sério, nem percebi. - Deu de ombros. - Vamos então.

No caminho o silêncio constrangedor de antes já não havia mais, conversavam naturalmente, brincavam, e sorriam.

- Eu nunca te vi com amigas, você tem alguma ou as afastou com sua má educação? - Ele disse tentando parecer sério.

- É claro que tenho, e nem sou mal educada. - Deu um tapa nele, e ele gargalhou se esquivando. - Mas estou super preocupada com uma das duas amigas que tenho, a Victória... Tem quase um mês que tento falar com ela e não consigo.

- Deve estar viajando, quem sabe...

Os dois continuaram conversando, e John brincava com hipóteses de onde Victória poderia estar, foi quando chegaram a ponta do morro.

- Não acredito que vou ter que subir essa escadaria toda. - Ele disse já ofegante.

- Toda não, mas garanto que pelo menos metade dela. - Ela gargalhou e o puxou fazendo com que começasse a subir os degraus.

Na metade daquela escadaria enorme, Rayza viu algo que lhe chamou atenção, era uma aglomeração de pessoas que moravam na rua, todas usando das mais diversas drogas ao ar livre, e lembrou-se que foi naquele exato lugar que ela viu Victória e Chilena no dia em que ficou com o Alemão pela primeira vez. Começou a observar o lugar com mais cautela, e o que ela mais temia ver, viu... Era ela, Victória sentada sobre um papelão jogado ao chão, inalando um pó branco com um canudo, as suas olheiras estavam profundas, como se não dormissem a décadas. Instantaneamente, Rayza ficou imóvel, e John percebeu que ela estava pálida.

- Rayza, você está bem? - Ela acordou do transe e sem graça retrucou.

- Oi, eu estou bem. Tá vendo aquela moça bonita, dos cabelos ondulados sentada ali sobre o papelão? - Ele assentiu. - Ela é a Victória. - John olhou horrorizado.

- A sua amiga? - Rayza assentiu e foi andando em direção a Victória, e logo John correu para acompanha-la.

- Victória? - Rayza perguntou encarando a amiga.

- Oi Rayza. - Ela correu e abraçou a amiga, mas não foi correspondida.

- O que você tá fazendo aqui? - Rayza passava uma expressão triste e séria.

- E-eu? Eu... Eu não tô fa... fazendo nada. - Retrucou gaguejando.

- É claro que está Vick, por que você veio parar aqui, poxa? - Algumas lagrimas caíram.

- Eles me obrigaram Rayza, eu estou viciada. Eu já tentei me sair de tudo isso, mas é mais forte que eu, por favor Rayza, me entenda. - Caiu aos prantos.

- Eu não estou te julgando, nem preciso te perdoar, eu nunca te culpei a nada. - Abraçaram-se. - E cadê o seu celular, porquê não atende?

- Eu vendi, eu não tinha dinheiro pra manter meu vício, os homens já não se atraiam mais por mim, então foi minha única opção.

- Não acredito, vamos pra casa comigo, agora? - Ela assentiu. - Desculpa John, mas o que viemos fazer aqui, vai ter que ficar pra outro dia. Se eu entrar na casa daquele estúpido hoje, eu não vou dizer nada, só vou estapear a cara dele. - John assentiu, cada um pegou Victória por um lado e começaram a caminhar.

Assim que chegaram em casa, Rayza levou Victória ao banheiro, e deu-lhe um banho da cabeça aos pés, e todo o odor de suor que estava incendiando a casa, desapareceu. Victória estava com fome, então comeu um pouco do arroz cremoso que havia restado, deitou-se em um quarto que Rayza não usava e dormir. John despediu-se tentando dar um beijo na bochecha de Rayza, mas ela sem querer virou o rosto, e o beijo foi aos lábios, e durou pouco menos que dois segundos. Ele saiu e Rayza deitou-se no sofá, pensando em tudo o que Victória passou e tudo o que fez para manter seu vício.


Um final nada feliz!Onde histórias criam vida. Descubra agora