Cap.24

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"Mulher, cê sabe o que eu vou te dizer, seus problemas a gente tem que resolver..."
Acordei sem um pingo de ânimo hoje, já era 13:00 hora. Levantei, fiz minhas higienes, vesti um vestido soltinho azul, calcei minhas havaianas e desci. A Renata fez arroz, bife e salada pro almoço. Cumprimentei todos e me sentei a mesa.
Terminamos de almoçar e colocamos os homens pra arrumar a cozinha hoje. Estávamos sentados na sala conversando, olhei meu celular e eram 15:30.
- Beatriz: Vamos filha?
- Mari: Só vou calçar uma sapatilha.
Subi, calcei minha sapatilha, me despedi de todos e fui pro carro, mamãe pediu pra mim ir dirigindo.
- Mari: Pra onde vamos?
- Beatriz: Que tal aquela pracinha que você gosta?
- Mari: Pode ser.
Fomos pra pracinha, minha mãe colocou umas músicas pra ver se eu me animava, fez umas dancinhas esquisitas que me arrancaram algumas gargalhadas. Chegamos na pracinha, estacionei o carro e nos sentamos em um banquinho. Tinha algumas crianças pulando, casais se beijando... Isso doeu, me lembrei das vezes que o Gustavo me levou as pracinhas do Rio para fazermos piquenique.
- Beatriz: Eu vou ficar sem minha bebê em duas semanas. - fingiu uma voz de choro.
- Mari: Que isso mãe, vou estar bem ali, do outro lado do mundo.- caimos na gargalhada.
- Beatriz: É tão bom ver minha menina com esse sorriso. Eu não esperava isso da Keith, ela é sua amiga desde sempre. E o Gustavo, ele parecia ser tão bom rapaz.
- Mari: As aparências enganam mãe. Mas vamos falar de coisa boa. O que achou das meninas?
- Beatriz: Sem comentários, são lindas, educadas, prestativas e acima de tudo, gostam muito de você.
- Mari: Também gosto muito delas.
Ficamos conversando um bom tempo sobre coisas que nem faziam sentido, mas foi muito bom, me distrai bastante.
- Beatriz: Sabe filha, eu amo muito seu pai.
- Mari: E por que a senhora não quis voltar?
- Beatriz: Eu sou orgulhosa filha. Eu achava que se voltasse pra ele, ia acontecer a mesma coisa... - ela abaixou a cabeça e deixou escorrer uma lágrima.
- Mari: Me conta a história de vocês.
- Beatriz: Eu conheci seu pai na faculdade, nós fazíamos faculdade de administração. Sabe aquelas cenas clichê de filme, que o menino esbarra na menina, derruba os livros dela e eles se apaixonam? Então, não foi assim.- soltou uma risada contagiante. - Sim, ele derrubou meus livros, mas não foi sem querer. Ele era o garanhão do colégio, tinha a garota que queria, e isso me dava nojo. Por ele não conseguir ficar comigo, ele começou a me implicar. Derrubava meus livros, pregava recadinhos nada agradáveis no meu armário e por aí vai. Até que chegou as provas finais e adivinha quem veio me pedir ajuda? Isso mesmo, o Victor. Ele falou que fazia o que quisesse se eu o ajudasse, então eu concordei, se ele passasse ele teria que ir de vestido para faculdade. Ficamos um mês nos encontrando todos os dias para estudar. Disso nasceu uma paixãozinha, a gente ficou mas eu não tive esperança. Ele passou e no dia dele ir de vestido, ele apareceu na faculdade com um buquê enorme na mão, se ajoelhou na frente de todo mundo, fez uma declaração linda e me pediu em namoro. E sim, eu aceitei, era má mas nem tanto. Namoramos por cinco meses, ele me pediu em casamento, não sei qual dos dois tinha menos ideia, e com nossos 24 anos, casamos. Depois de três meses casados, engravidei. Você nasceu, fomos uma família feliz até seus cinco anos e você já sabe o resto da história. Mas mesmo com tudo o que aconteceu, o rumo que nossas vidas tomaram, eu nunca deixei de amar o Victor. Vamos indo pra casa, já ta escurecendo.- levantamos e fomos pro carro abraçadas.
- Mari: Fala isso pra ele mãe. Eu te garanto que o sentimento é mútuo ainda.
- Beatriz: Não posso, nós somos casados filha.
- Mari: Fala pra ele mãe, arrisca. Vocês não vão casar de novo, você só vai falar o que sente. E sem contar que a Renata e o Julio sabe que vocês se amam ainda.
- Beatriz: Ta, você me convenceu.- ela pegou o telefone e ligou pro meu pai. Eles conversaram por quase uma hora, minha mãe riu, chorou, riu, chorou...foi lindo. — Ele falou que está disposto a abandonar tudo e voltar pra mim.
— Mari: Que perfeito mãe!
— Beatriz: Agora é a sua vez de me contar.
— Mari: Eu conheci ele no supermercado. Depois que sai dali, eu vi que alguma coisa mudou dentro de mim. Eu não conseguia tirar da cabeça aqueles olhos azuis,aquele sorriso.— comecei a acelerar como se a dor que eu sentisse fosse passar. — Ele é amigo de infância do Lucas, ele foi na festa que dei na casa do papai, me levou pra sair, foi com ele meu primeiro beijo. Eu jurei pra mim que não iria entregar meu coração tão cedo pra alguém, por causa do que aconteceu com a senhora e com o papai, mas não saiu como queria, eu me apaixonei e entreguei meu coração pra ele.— nessa hora lágrimas já rolavam e o carro já estava a 100 km/h.
— Beatriz: Vai mais devagar filha.
— Mari: Por que com ela mãe? Eu considerava ela minha irmã, minha melhor amiga, confidente. Eu entreguei meu coração pra ele e minha confiança pra ela!
— Beatriz: FILHA O CAMINHÃO!
   Nessa hora voltei toda minha atenção pra estrada e vi um caminhão vindo em nossa direção. Não tive tempo pra fazer nada, só olhei pra minha mãe e a mesma pegou na minha mão. O impacto foi tão forte que senti o carro ser esmagado. Senti um líquido quente escorrer por meu rosto. Olhei pra minha mãe e ela tinha um corte na cabeça e o rosto machucado, sua blusa que antes era branca agora estava tingida de vermelho.
— Mari: Mãe me desculpa.— senti uma pontada horrível na minha cabeça e soltei um grito de dor.
— Beatriz: Filha, eu te amo, não esquece nunca disso, a culpa não foi sua.— minha visão começou a escurecer e logo em seguida apaguei.

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