"Deita aqui no meu colo pra desabafar, sei que não está bem, eu percebi a tristeza no seu olhar..."
2 dias depois
Enfim recebi alta. Fiquei só com alguns arranhões pelo corpo, o médico falou que foi sorte, pois pela gravidade do acidente era para ter quebrado uma costela, no mínimo. Nesse momento estou no cemitério, enfrente ao túmulo da minha mãe. Chorei, pedi desculpas, eu sei que ela não está vendo mas fiz mesmo assim, chorei mais. O Lucas me tirou de lá e me levou pra casa. Subi pro quarto e as meninas estavam lá me esperando. Me joguei na cama e elas ficaram conversando comigo pra me animar.
Toc Toc
- Mari: Entra.
- Lucas: Pequena trouxe uma coisa pra você.- ele entrou com um urso gigante.- Toma.
- Mari: Obrigada, o nome dele vai ser Pooh. - levantei e abracei ele.
- Briana: Eu quero ele pra mim.
- Mari: Sai, é meu.
- Briana: Eu sei que é seu, mas agora ele tá solteiro.
- Mari: Você ta falando do Lucas?
- Briana: Claro.
- Monica: Que assanhada.- falou em um tom brincalhão.
- Briana: Só não perco oportunidades.
- Blair: Meninas, foco na Mari.
- Mari: Ta bom nova cunhada, eu deixo você namorar meu irmão.
Ficamos conversando até umas 14:00 e as meninas deram a louca e quiseram ir ao shopping. Papai, Renata e o Julio saíram pra algum lugar e o Lucas tava no quarto. Fui até lá e ele tava deitado.
- Mari: Oi.
- Lucas: Oi pequena, vem cá. - me deitei do seu lado e ele me puxou mais, colocando minha cabeça em seu peito.
- Mari: Me fala como você está.
- Lucas: Eu to bem.
- Mari: De verdade.
- Lucas: Ta. To mal, muito mal. Primeiro, a galha da Keith, a única garota que eu amei de verdade.
- Mari: Única?- falei fazendo um draminha.
- Lucas: Você também. Mas ela era amor...sei lá, não dá pra explicar. Mas você entendeu né?- concordei com a cabeça.- Então, aí ela foi e fez isso. Depois, meu amigo de infância que eu confiei minha irmã a ele, vai e pega minha namorada. Acho que essa traição foi maior do que a da Keith, sem contar o fato dele te magoar. Aí minha pequena vai e sofre um acidente, fica em coma uma semana. Tia Beatriz morre. Minha mãe...parece que não me ama.
- Mari: Como assim Lucas? É claro que a Renata te ama.
- Lucas: Vou te contar uma coisa, ela me ama, me criou, mas aí ela conheceu seu pai e todo amor dela foi dirigido pra ele. Ela é possessiva, ela tinha ciúmes da sua mãe, ela tem ciúmes de você pequena. E eu escutei seu pai falando que queria o divórcio dela, pra poder voltar pra sua mãe. Ela não olha mais na minha cara, ela me ignora, ela queria que eu ajudasse a ela a ficar com o Victor.
- Mari: Se eles se divorciarem, você vai ser pra sempre meu irmão. Ta que vamos estar longe pra caramba, mas você nunca vai estar longe dos meus pensamentos e do meu coração. - ele me deu um abraço meio desajeitado.
- Lucas: Vamos ver um filme?
- Mari: Escolhe aí, vou fazer pipoca.
Desci e fui pra cozinha arrebentar pipoca. A campainha tocou, acho que são as meninas que resolveram voltar mais cedo.
- Mari: O que você quer?- disse assim que abri a porta.
- Gustavo: Eu quero conversar.
- Mari: Mas eu não quero.
- Gustavo: Por favor.
- Mari: 5 minutos.
- Gustavo: Posso entrar.
- Mari: Não.
- Gustavo: Okay. Me perdoa, por favor. Eu te amo, sei que foi um erro o que eu fiz e nem sei porque eu fiz, mas me perdoa por favor. Eu te amo Mari, não me imagino sem você.
- Mari: Primeiro, pra você é Mariana. Segundo, já te disse isso mas vou repetir, quem ama não trai. Terceiro, eu sei porque você fez isso, porque você é galinha e não presta. Quarto, fica com a Keith porque vocês se merecem. Quinto, passa a se imaginar sem mim, porque é assim que vai ser daqui em diante. Seu tempo acabou.- Fechei a porta antes mesmo dele pensar em alguma resposta.
Voltei pra cozinha, arrebentei a pipoca, fiz brigadeiro, peguei refri e voltei pro quarto. O Lucas escolheu um filme de comédia, não ri mas valeu a tentativa. O filme terminou era 15:00.
- Lucas: Como você ta?
- Mari: To suportando.
- Lucas: Quer me contar o que aconteceu aquele dia?
- Mari: A gente estava voltando pra casa e ela pediu pra mim contar minha história. Eu contei tudo pra ela, mas comecei a acelerar achando que aquela dor iria passar, ela falou pra mim ir devagar mais não escutei.Eu comecei a chorar e ela falou do caminhão. Quando olhei pra frente já era tarde demais, não tinha como fazer nada. Ela pegou na minha mão, eu pedi desculpa e ela falou que não era minha culpa e me amava, aí apaguei. - já estava chorando quando terminei de contar.
- Lucas: Quando ligaram aqui, eu que atendi, falei que era seu irmão e quando eles me contaram o que tinha acontecido, entrei em desespero. Eu e seu pai que fomos pro local. Quando chegamos lá eu vi você toda machucada, eu quis morrer. Os bombeiros tiveram que me segurar porque eu queria te arracar das ferragens e cuidar de você. Quando vi sua mãe... - ele parou de falar e me olhou com receio de continuar.
- Mari: Pode continuar.
- Lucas: Ela tava toda machucada. O bombeiro falou que você não machucou mais porque seu airbag abriu, mas o dela não. - nessa hora meu coração se apertou por não ter falado pra ela dirigir, ela estaria viva agora.- Ela teve traumatismo craniano e hemorragia interna. Seu pai ficou sem chão, ele me falou que as duas únicas mulheres donas do coração dele estavam entre a vida e a morte, que se algo acontecesse com vocês ele morreria.
Conversamos mais um pouco, chorei mais ainda, então resolvemos ir pra sala. Nos jogamos no sofá e ficou um silêncio irritante, até o Lucas o quebrar.
- Lucas: Eu bati no Gustavo quando você estava no hospital.
- Mari: Como assim?
- Lucas: A dois dias atrás, você dormiu e eu fui comer alguma coisa na lanchonete do lado do hospital. Quando sai, o Gustavo e a Keith estavam lá na porta. Ele queria te ver e eu falei que a única coisa que ele iria ver era meu murro, aí bati nele.
- Mari: Meu herói. - dei um sorriso de lado e ele me abraçou.
Por volta das 20:00 todo mundo chegou em casa. Fui pra cozinha com as meninas pra fazer a janta. Fizemos torta de frango e pra sobremesa torta de morango. Jantamos em silêncio, assim que a Renata terminou de comer, ela saiu da mesa e foi para o quarto.
- Victor: Filha, vamos voltar pra casa amanhã, a Renata vai ficar e morar aqui até arrumar uma casa.
- Mari: Vocês se separaram?
- Victor: Sim.
- Lucas: Acho que esse é nosso adeus.
- Victor: Sua mãe falou que se você quiser morar comigo até ir para a faculdade, pode vir.
- Lucas: Quero sim, obrigado Victor.
- Mari: Achei que ia perder mais uma pessoa que amo.- falei meio cabisbaixa por lembrar da minha mãe.
- Lucas: Hey, você nunca vai me perder. - sentou do meu lado e me abraçou.
- Monica: Meninas vamos subir pra arrumar as malas e meninos, limpar a cozinha.
- Bryan: De novo? Ontem foi a gente.
- Monica: Sim, de novo. Nós fizemos a comida e vocês lavam as vasilhas.
Subimos pro quarto, arrumamos nossas malas e ficamos com dó dos meninos e do papai, então arrumamos as malas deles. A Dália deu a ideia de acampar no quarto. Pegamos quatro cadeiras na cozinha, prendemos os lençóis nelas e entramos na nossa barraca improvisada. Ficamos conversando, chorando, rindo, cantando, a Dália e a Blair contado sobre Goiânia, um dia quero ir lá. As meninas dormiram e eu fui pro telhado. O céu ta tão lindo, as estrelas, a lua. Minha mãe me levava pro jardim quase todas as noites pra podermos ver o céu. Aquela sensação de culpa horrível me invadiu e lágrimas começaram a rolar descontroladamente. Minha mãe era meu "diário vivo", minha verdadeira melhor amiga. Eu a amo tanto e me sinto tão mal por não ter prestado atenção no trânsito, por ter causado aquele acidente, ela me falou pra ir devagar e não fui. Uma vontade incontrolável de gritar veio e foi isso mesmo que fiz, soltei um grito que me libertou (e acordou os vizinhos, eu acho). Fiquei ali em cima até as 3:00 da manhã, entrei, troquei de roupa e me deitei, pensei mais um pouco na vida e cai no sono.

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Meu Lugar
RandomMariana é uma jovem de 17 anos. Sempre sonhou com seu futuro e com sua independência. Seus pais se separaram quando ela tinha 5 anos, e então ela se mudou pra São Paulo com sua mãe. Garota sonhadora mas sempre com os pés no chão. Ama desenhar e pre...