Resplandecente - Completa

Capítulo 5 - A temporalidade

temporalidade: substantivo feminino. estado do que é provisório, temporário; interinidade.

Jesy procurou sair o mais tarde possível de casa para chegar na universidade em cima da hora de entrar na sala e fazer a prova. Assim evitaria a aglomeração de alunos do lado de fora da sala, evitaria as perguntas de por que estava com aquela cara e, principalmente, evitaria encontrar com Louis. Não suportaria aquilo. E todos perceberiam.

Não queria que todos comentassem. Odiava ser aquela de quem todos falavam. Os colegas já viviam criticando-a por ser a "nerd" que sempre terminava as provas primeiro e que sempre era adorada pelos professores. Não precisava de mais um motivo para ser alvo da fofoca dos colegas.

Quando chegou, percebeu que a porta da sala já havia sido aberta e as pessoas estavam entrando. Fez contato visual com Diana, mas a amiga entendeu que ela queria ficar sozinha. Seria melhor assim.

Jesy se sentou na ultima carteira, próxima à porta. Algo que nunca havia feito, mas ela só queria conseguir sair rápido dali. Suas amigas lhe olhavam e não entendiam nada. Seu rosto demonstrava que esteve chorando por horas, e não queria responder às perguntas curiosas. Estava difícil controlar a vontade de começar a chorar e contar tudo que tinha acontecido para as amigas, mas agora não era a hora. Logo a prova começaria e ela teria com o que ocupar a cabeça.

Como sempre, foi a primeira a entregar a prova que, milagrosamente, tinha conseguido fazer sem muita dificuldade. Levantou para entregar a prova à professora e, ao se virar, seus olhos se encontraram automaticamente, como imâs, com os de Louis. Seus olhos estavam tristes e piedosos.

De imediato sentiu as lágrimas enchendo seus olhos e se apressou para sair dali. Não aguentava mais chorar. Foi embora diretamente pra casa, sem nem mesmo cogitar a hipótese de passar pela clínica e ver se havia algo que ela pudesse fazer. Sempre estava disposta a ficar e ajudar nas horas vagas, mas não hoje. Chegou em casa e foi direto para o quarto. Precisava se deitar. Parecia que esteve o dia todo equilibrando um macaco malabarista nos ombros. Estava exausta e precisava urgentemente se desligar do mundo. Se deitou e, imediatamente, reconheceu o cheiro de Louis em seu travesseiro. Era tudo o que ela não precisava. Se levantou rapidamente e decidiu dormir no colchão do quartinho. Lá onde ele havia se deitado em seu colo e onde ela recebeu o primeiro abraço dele. Novamente, não conseguiu relaxar.

Todos os cômodos daquela pequena casa emanavam a presença dele. Sentia como se nunca mais fosse possível esquecer tudo aquilo que aconteceu, se sentia sufocando.

Abriu a porta e se sentou na varanda. Fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos. Precisava conseguir encontrar paz em algum lugar daquela casa.

Quando percebeu, havia alguém parado na sua frente.

"Deus, por favor, que não seja ele".

Quando levantou a cabeça viu que era Valerie. Sua amiga que, agora ela percebeu, foi totalmente ignorada durante todo o dia. Jesy e Valerie tinham assuntos a resolver na hora do almoço. Só Deus sabe quantas vezes Valerie deve ter ligado para Jesy, mas ela esqueceu de pegar seu celular com Diana. Valerie não estava brava com ela, pelo contrário, estava preocupada, com as mãos na cintura. Ela se sentou ao lado de Jesy e não disse nada, apenas abraçando a amiga. Sabia que algo muito grave devia ter acontecido e esperou que a amiga resolvesse lhe contar, em seu tempo.

O tempo passava e o dia estava escurecendo. A hora favorita de Jesy se aproximava. A hora em que o sol deixava de ser algo que lhe causava desconforto e queimava. Ele passava a ser algo que colore o céu com nuances tão lindas que hipnotizavam. Jesy se sentou no balcão da varanda e admirou o pôr do sol. Pedindo à Deus que conseguisse passar por tudo aquilo. E Valerie ficou ali, ao seu lado, fumando seu cigarro enquanto esperava Jesy querer se abrir. Esperou pacientemente.