Capítulo 6 - O deslocamento

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deslocamento. substantivo masculino. ato ou efeito de deslocar(-se); deslocação.
p.ext. mudança (de algo ou alguém) de um lugar para outro, ou transferência (de indivíduo ou grupo de indivíduos) de posto ou função.

Como as aulas práticas dividiam a classe em turmas, ela rapidamente arrumou uma maneira de mudar de turma, passando para a de Diana. Assim, seus horários já não coincidiam com os dele, sendo mais fácil para ela ter mais tempo longe de Louis. Já era sexta-feira e parecia que aquela sensação de que um buraco havia sido construído em seu peito estava diminuindo. Jesy buscava ir vivendo sua vida normalmente, sempre cercada pelas amigas, pelas músicas da sua banda favorita ou pelos animais que atendia na clínica. Não havia tempo para remoer a dor, o que parecia favorecer a cicatrização. Aos poucos iria se desapegar da presença dele. E esperava que ele estivesse fazendo o mesmo. Seria o melhor para ambos.

No fim da tarde, quando já estava reunida com as amigas na recepção, esgotada pelo cansaço acumulado pela semana toda, Jesy sentiu que o celular estava vibrando. Havia recebido algumas mensagens. Seu coração pareceu voltar no tempo e reviver toda aquela dor, já tão conhecida. Se recompôs, afinal não estava sozinha. Olhou suplicante na direção de Diana, e a amiga rapidamente captou a mensagem. Elas sutilmente se separaram do grupo, dizendo que iriam ao banheiro. Assim, foram para o lado oposto da clínica, onde não seriam incomodadas. Lá Jesy mostrou o celular à Diana. Uma das mensagens dizia "Eu estou sentindo falta de você". Era Louis.

Ele se manteve em silêncio e distante a semana toda apenas para planejar destruí-la na sexta feira, deixando-a assim por todo o fim de semana? Louis agora tinha consciência de como ela se sentia. Ele sabia o efeito que aquelas mensagens inesperadas causariam nela.

Além disso, era óbvio que ela também sentia falta dele. Era como se suas horas fossem vazias longe dele. Estava sempre ocupada, mas nunca completa. Agora, ela simplesmente contava as horas para que elas passassem depressa e ela pudesse ir pra casa. Porém, naquele momento, o tempo havia estacionado novamente. Como se de repente surgisse uma carruagem que parou com as rodas em cima de seus pés. Ela parecia não poder se mover. Ela não podia evitar sentir-se assim.

Resolveu responder, enquanto Diana ficava ao seu lado, sem dizer nada e aflita.

"Eu acho que não podemos fazer nada quanto à isso, não é mesmo?"

Apertou enviar e se arrependeu no mesmo instante. Odiava mensagens que podiam ser interpretadas de duas maneiras. Ele podia entender aquilo como um desafio a encontrar uma maneira de mudar aquela situação. Ou podia interpretar como uma grosseria que queria dizer que Jesy não faria esforço nenhum para vê-lo. Se sentiu um tanto quanto estúpida. Resolveu esperar em casa para continuar a lidar com toda aquela situação. Silenciou o celular e voltou até a recepção para se despedir de todos pelo fim de semana. Sugou a energia daqueles abraços calorosos para tentar mover a carruagem de cima de seus pés. Precisava seguir em frente.

Ao chegar em casa, abandonou o celular em cima do balcão, ainda sem checá-lo. Não queria lidar com aquilo nesse momento. Foi tomar banho, organizar suas coisas e arrumar algo para comer. Enquanto arrumava a mesa para servir o jantar, resolveu checar o celular. Havia apenas uma mensagem que lhe interessava entre todas aquelas conversas.

"Eu achei que poderíamos continuar a ser amigos, porque eu realmente sinto sua falta. Não é a mesma coisa sem você..."

Jesy estava destruída. Não é a mesma coisa sem ele também. Nunca mais seria. Se forçou a não responder nada que pudesse fazê-la se arrepender e acabou não respondendo. Ficou remoendo aquela mensagem enquanto jantava. Ainda incapaz de responder, reenviou a mensagem para Diana, pois precisava compartilhar daquilo. Chegava a sentir pena da amiga, pois lhe contava tudo que acontecia.

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora