Capítulo 28 - A revelação

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(Aos que leram e resolveram me ajudar, como pedi no capítulo anterior, obrigada! )

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revelação. substantivo feminino. ato ou efeito de revelar(-se). divulgação de um segredo, uma confidência.

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A primeira segunda feira pós-ausência-do-Louis-durante-as-férias chegou. Eu me sentia como um zumbi. E a cara com que Patrick me olhou quando cheguei à clínica às sete e meia da manhã só comprovou que eu parecia exatamente como me sentia.
- Meu Deus, Jesy. O que aconteceu? Você está doente? - ele tinha os lábios abertos e os olhos arregalados enquanto analisava os traços do meu rosto: meus olhos tristes, meio inchados, circundados por olheiras de quem não dormiu corretamente e minha postura que consistia em ombros caídos, típicos de uma pessoa que carregava um peso maior do que devia sobre os ombros.
- Não exatamente - resmunguei pra ele - mas não se preocupe, eu vou sobreviver - assim espero.
- Nossa, sua cara tá péssima - ele disse, meio sorrindo.
Patrick era meu professor favorito porque além de gay assumido, não fazia questão nenhuma de esconder isso de ninguém. Não gritava aos sete ventos, mas também não negava. Agradecia todos os dias por ser ele quem ia me aguentar nas férias, pois ele sempre tinha uma coisa engraçada a dizer, conselhos bons a dar e eu sei que poderia contar com ele quando precisasse. Eu me espelhava em Patrick e aproveitaria todas as oportunidades que surgissem de estar junto com ele na clínica.
Como todo dia, não tivemos muito tempo para pensar na vida, pois houve muito movimento. Vários atendimentos e retornos. Vários animais fofos para distrair ainda mais a minha cabeça. Como estamos em período de férias, eu era a única aluna ali, auxiliando os três professores responsáveis pela clínica. Eu não consegui parar um segundo, sempre tendo alguém para acompanhar ou algo para fazer. Os professores agradeciam a minha presença, pois realmente é muito difícil quando não há aquele monte de aluno para participar e ajudar nas consultas.
Patrick me chamou para almoçar com ele, o que eu prontamente aceitei porque estava aproveitando todas as oportunidades para não ficar sozinha. Eu não era uma boa companhia pra mim mesma ultimamente. Além disso, se fosse pra casa, eu dificilmente conseguiria levantar da cama, pois estava esgotada.
Fomos almoçar no restaurante que ele sempre frequenta e que não fica muito distante da universidade. Escolhemos nossos pratos e pedimos suco. Patrick me fitava com um olhar interrogativo.
- O que foi, Jes? O que está te incomodando? Eu posso ajudar?
Ele apoiou os cotovelos na mesa, cruzou os dedos e continuou me olhando, sem desviar. Seu olhar demonstrava curiosidade, mas também carinho, o que me fez tentar explicar pra ele a situação.
- É o Louis. Eu só estou me acostumando a ficar longe dele. Patrick abriu um sorriso.
- Eu fico tão feliz por vocês dois finalmente terem assumido o que sentem um pelo outro. Minhas bochechas coraram e meus olhos se arregalaram.
- Como assim?
- Ah, Jesy. Era óbvio para todo mundo que observasse vocês juntos que alguma coisa a mais rolava ali. Podia não ser óbvio para ele ou para você, mas sempre que vocês estavam juntos, a atmosfera que envolvia vocês mudava. Vocês mudavam. Era até bonito de se ver.
- Ai meu Deus, uma das minhas amigas me disse que eu era óbvia perto dele. Mas eu juro que eu tentava me segurar, só que nem sempre dá, né? Mas ele...ele não tinha nada de óbvio. Ele sempre foi um bom amigo, e nunca teve problemas em ficar sozinho comigo, por exemplo, mas isso é coisa da sua cabeça, Pat!
Ele gargalhou. Eu franzi a testa.
- Ei, pare de rir - e não resisti e ri junto com ele.
- Pode parecer que não, mas ele já se sentia diferente a seu respeito. Talvez nem mesmo ele tenha se dado conta até que vocês resolveram ficar juntos, mas alguma coisa ali já estava mudando. Pelo menos eu percebia.
Me lembrei da maneira com que Louis me olhava quando íamos estudar. Aqueles olhares dele sempre me deixaram confusa, pensando que ele talvez pudesse estar tendo algum sentimento por mim além da nossa amizade, mas eu dizia a mim mesma que era coisa da minha cabeça.
E aparentemente não. Esse sentimento que agora nos domina e nos entrelaça e nos mantém loucos um pelo outro talvez já estivesse surgindo antes mesmo da primeira vez em que eu o beijei e ele ficou confuso. Ele já devia estar confuso há tempos. Eu certamente ia ter que falar sobre isso com Louis quando ele me ligasse. Se ele ligasse...
- Mas afinal, o que está acontecendo?
- Eu estou preocupada. Porque Louis saiu pro estágio de férias agora e logo depois ele vai sair pro estágio supervisionado e depois vai se formar e ir embora. E eu não sei o que vai ser de nós quando isso acontecer. Eu nunca namorei. Louis é meu primeiro namorado - Patrick segurou uma risada - Pare de rir. É sério. Apesar de ter quase 30 anos eu nunca fui do tipo namorável, né? É só olhar pra mim. Mas enfim, eu não estou sabendo lidar com essa situação. Com essa distância - Estive falando como um trem desgovernado. Quando terminei tive que respirar fundo para recuperar o fôlego e pude ver algumas rugas se formando na testa de Patrick. Ele devia estar pensando em algumas coisas para me responder, pois demorou um tempinho bebendo seu suco de laranja em silêncio.
- Primeiro, você provavelmente nunca namorou porque eu tenho certeza de que viveu a vida toda trancada dentro de casa e insegura. Estou errado?
Apertei meus lábios em uma linha fina enquanto apenas respondi com um aceno de cabeça, afinal ele estava certo,.
- Segundo, relacionamentos à distância são mais difíceis, mas não são impossíveis. Eu estou com meu namorado há cinco anos e, por exemplo, desde que virei professor aqui, eu só o vejo nos finais de semana.
Eu já sabia daquilo, pois já tinha investigado toda a vida de Patrick quando ele entrou no quadro de professores. Porém nunca havíamos falado disso abertamente. Eu estava um tanto contente por ele sentir confiança suficiente em mim para se abrir sobre isso. E ele continuou.
- Eu e ele nos damos bem, nos respeitamos, mesmo com a nossa diferença enorme de idade. Que é algo que eu sei que você e Louis também têm. Não é?
- Sim. Eu sou sete anos mais velha que ele.
- Então. Eu aposto que isso não foi um obstáculo para vocês. E não será agora. O mais importante em um relacionamento assim é a confiança. Você tem que fazer o melhor que você puder enquanto está aqui, confiando que ele também irá fazer isso. O importante é vocês dois saberem que um está a espera do outro. Independente do tempo que passar.
Eu não pude deixar de pensar em tudo que Louis já havia me dito. Que ele iria voltar. Que ele iria esperar por mim. Que ele iria estar ao meu lado.
- Louis já deixou claro pra mim, mais de uma vez, que ele iria voltar e que ele não ia me deixar, por exemplo. E que a distância não seria um problema.
- Então, afinal, qual é o problema? Você não confia nele.
- Claro que confio. Confio completamente nele.
- Então?
- Ai, eu não sei. Eu agora estou confusa - e sorri timidamente pra ele.
- Eu sei bem qual o seu problema. Você pensa demais. Em tudo. Aproveite essa distância para fazer suas coisas. Pelo que bem me lembro, vocês estavam sempre juntos nas ultimas semanas de aula, não é mesmo?
- É... eu assumo. Porque eu simplesmente não conseguia e não queria ficar longe dele, oras - senti novamente minhas bochechas corando.
- Pois é. Não disse? Aproveite então esse tempo livre e ajeite sua vida. Fazendo isso você vai também colocar sua cabeça no lugar. E vai ficar menos confusa, tenho certeza.
Nossa comida já havia chegado e eu estava beliscando as batatas fritas que Patrick havia pedido enquanto ele falava. Ele estava certo. E aquilo tudo era tão óbvio. Porque não pensei por esse ponto de vista antes?
Estava tão concentrada que quando percebi que estava comendo batata frita quase me engasguei.
- Ai, que droga. Esqueci que estou tentando controlar minha alimentação. Tira essas batatas de perto de mim - disse empurrando a cesta de batatinhas. Patrick riu, mas obedeceu e colocou a cesta ao lado de seu prato.
- Pois eu não vou reclamar - ele disse, pegando algumas e colocando no seu prato - e, se serve de consolo, o seu esforço com a alimentação e com a academia está valendo a pena.
Lhe sorri, pois não havia como negar. Mesmo não gostando de receber elogios, vindo de Patrick eu sabia que era sincero.
Enquanto terminávamos o almoço eu pude sentir o peso em meus ombros diminuir gradativamente. Aquela conversa me abriu um ponto de vista diferente sobre toda aquela situação, e eu realmente achei que agora tudo seria mais suportável.
Iria me dedicar ao estágio, aos estudos e, principalmente, à academia. Aquilo iria melhorar minha vida em diversos aspectos e tenho certeza de que Louis não iria reclamar se, na próxima vez que me visse, eu estivesse um pouco mais magra e animada.
Tornei aquilo a minha motivação e quando voltamos para a universidade, após o almoço, eu estava muito melhor. Suportaria aquela ausência, investindo em mim. Eu sabia que Louis estaria comigo onde quer que eu fosse, pois o carregava profundamente impregnado em mim.

No fim da noite, Louis conseguiu me ligar. Parte da minha cara de zumbi pela manhã era devida ao fato dele não ter conseguido me ligar domingo. Apenas conversamos por mensagens, rapidamente, pois ele estava ocupado e logo depois eu dormi.
Quando ele me ligou, eu havia acabado de voltar da academia e estava arrumando meu
Atendi rapidamente, tomada pela expectativa de ouvir sua voz.
- Oi, meu amor, que saudade - mal havia atendido e já o sufoquei com minha falação.
- Hey, olha só. Essa é uma boa recepção. Oi, meu bem. Também estou com saudade - havia alegria em sua voz e aquilo me preencheu o coração.
Lhe perguntei como havia sido o dia e o fiz contar tudo o que fez, inclusive no domingo. Assim que terminou de me contar, fez com que eu fizesse o mesmo e lhe contasse sobre o primeiro dia de estágio com Patrick.
disse.
- Eu almocei com ele hoje, e ele me falou uma coisa interessante sobre... nós - eu lhe
- Ah, é? E o que ele disse?
- Que antes mesmo de ficarmos juntos ele já via alguma coisa acontecendo entre nós. Você vai precisar me dizer uma coisa... você já tinha algum sentimento por mim mesmo antes daquele beijo, enquanto ainda estava com a Lara? - eu nunca havia lhe perguntado aquilo, pois nunca foi relevante. Mas, naquele momento, eu estava curiosa.
- Oras... eu... - Louis ficou nervoso e de repente estava gaguejando. Louis só gaguejava quando estava lutando muito pra encontrar as palavras.
- Pare de me enrolar, homem - eu disse, rindo.
- Eu acho que sim - ele disse, tossindo nervoso.
Aquela revelação fez meu coração bater mais acelerando e senti meu sangue se aquecendo.
- E se aquele dia você não tivesse terminado com a Lara e eu não tivesse te beijado... o que teria acontecido? Você tinha alguma intenção de fazer alguma coisa a respeito do que estava começando a sentir por mim? - eu tive que perguntar, mais uma vez a curiosidade estava me dominando.
- Eu não sei bem, sei que alguns dias eu pensava em como seria se você fosse a minha namorada - era claro que ele estava envergonhado enquanto dizia aquilo. Eu não precisava vê-lo, pois conhecia todas as entonações em sua voz.
- E como seria?
- Bem...mesmo eu tendo pensado em muitas coisas, pode ter certeza de que tudo que tivemos até hoje foi a melhor coisa que me aconteceu. Só se eu fosse muito criativo para imaginar tudo que aconteceu e para saber que você acabaria sendo a mulher da minha vida. Porque a cada dia que passa eu tenho mais certeza disso.
Eu definitivamente não estava esperando por nada daquilo. E não pude controlar as lágrimas que subiram aos meus olhos. Tive que me encostar à parede para não cair, pois minhas pernas estavam moles após aquela declaração. Louis também era o homem da minha vida. O medo de perdê-lo apenas confirmava isso. E agora todos aqueles conselhos de Patrick faziam ainda mais sentido, pois eu apenas precisava cuidar de mim e ele voltaria.
- Oh, meu Deus. Eu te amo tanto, Louis - foi o que consegui dizer em meio as minhas lágrimas.
- Eu também te amo. E não quero que duvide nunca disso, tá bem?
Logo nossa conversa terminou, pois Louis iria entrar no plantão noturno aquela noite. E eu precisava tomar banho para poder jantar. Era tão difícil enfrentar aquele banheiro sozinha, já que sempre me lembrava dele. Agora eu teria suas palavras para me fazer companhia, não só enquanto tomava banho, mas por todos os dias dali em diante.

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"E amantes se apegam a qualquer coisa. Eu persigo seu amor ao redor do infinito. Preciso de você mais do que aguento ter". (Ellie Goulding)

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Obrigada pelas leituras.
Espero que estejam gostando! Continuem por aqui ♥

Até segunda um novo capítulo chega ;)

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora