Epílogo

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A partir de uma certa altura da minha vida eu sempre fui tão convicta de que nunca ia querer engravidar e nunca ia querer ter filhos que eu provavelmente devia pagar alguém para me dar uns tapas para parar de de rir igual idiota enquanto olhava aquele pequeno peitinho subindo e descendo enquanto respirava calmamente e dormia em meu colo. Eu devo estar sorrindo igual a uma idiota, o mesmo sorriso que vem povoando meu rosto desde o nascimento. Mas nem sempre foi assim.

Desde que aceitei me casar com Louis eu sabia que isso eventualmente aconteceria. Não porque eu seria obrigada. Não porque ele insistia. Mas porque eu queria. Eu de repente queria muito ser mãe. E não apenas ser mãe. Queria ser mãe junto com Louis. De um filho de Louis. Ele definitivamente havia reconfigurado todo o meu sistema e aquilo era quase inacreditável.

Minha idade não me permitia esperar muito, então quando Louis me propôs eu já parei de tomar meu remédio. Eu não queria mais esperar, eu queria que o nosso "pra sempre" começasse logo. Precisei de muitas horas sentada, sozinha, respirando fundo e pensando se era aquilo mesmo que eu queria, até que me decidi. Mas não contei a ele. Queria que fosse surpresa para nós dois.

E foi.

Quando comecei a me sentir estranha e resolvi fazer um teste (depois de outro e outro e outro) eu achei que o mundo fosse desabar na minha cabeça e precisei me sentar. Não conseguia nem mesmo segurar o celular para ligar para Louis. Nosso casamento seria dali a alguns dias e ele tiraria uns dias de folga, mas quando descobri ele estava trabalhando. Eu estava em horário de almoço, sentada em minha cama, incapaz de me mover.

Meu Deus do céu.
O que eu vou fazer?
Meu coração estava disparado.
Não tinha mais como voltar atrás.
Eu não conseguia respirar. Parecia que eu ia ter um ataque a qualquer momento.

Precisei me deitar porque tudo estava girando. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu nem sequer tentaria controlá-las, pois qualquer tentativa seria inútil.

Eu estava grávida.

E Louis precisava saber.
Meu Deus, Louis precisava saber.

Pareceu uma eternidade até que meu coração e minha respiração se estabilizaram. Consegui enxergar o visor do meu celular e já conseguia segurá-lo sem que o deixasse cair com a mão trêmula.
Eu não podia contar uma coisa dessa por telefone.
Disquei seu número mas ainda tinha um nó na garganta.
Após o terceiro toque, sua voz inundou meu sistema e as lágrimas recomeçaram. Um soluço foi a única coisa que ele ouviu e sua voz soou alarmada.
- Jesy, meu amor. O que foi? O que aconteceu?
Eu não conseguia falar. Eu precisava dele ao meu lado.
- Fala comigo. O que aconteceu?
Um novo soluço.
- Pelo amor de Deus...Você está em casa?
Apenas gemi, concordando.
- Não sai daí. Eu estou indo prai agora. Desliguei o telefone e desabei na cama. Já havia desistido de me controlar. Tudo iria mudar. E se ele não quisesse ser pai agora? Ele ainda era jovem e tinha todo o tempo do mundo. E se ele surtasse? Mil hipóteses passaram pela minha cabeça.
E se a criança tivesse os olhos de Louis? E se minha mãe estivesse certa e os meus descendentes nascessem com os olhos azuis do meu avô? Nenhum dos meus primos teve essa sorte e ela apostava que esse gene estava em mim, só esperando uma oportunidade para desaflorar pro mundo. Aparentemente ela terá uma chance de ver se estava certa.
Será que é uma menina? Eu ia adorar que fosse uma menina.
Eu vou engordar tudo de novo.
Eu vou ficar horrorosa de novo. Louis não vai mais me querer.
E deve ser horrível ficar grávida, com aquela barriga enorme, sentindo mexer la dentro. Meu Deus do céu, foi a pior ideia que eu tive.
Nem sei quanto tempo perdi divagando, só me dei conta que estava há muito tempo deitada ali choramingando, com os olhos fechados, quando senti as mãos de Louis em mim. Ele se sentou ao meu lado na cama, colocou as mãos em meu rosto, e eu abri os olhos, demorando alguns segundos para conseguir focalizar seu lindo e preocupado rosto.
- Eu vim o mais rápido que pude. Você quer me matar? O que ta acontecendo?
Eu fechei meus olhos novamente, suspirei fundamente e me levantei, me sentando na cama, ficando de frente pra ele.
- Não tem um jeito mais delicado de dizer isso então vou soltar de uma vez.
Pude ver seus olhos se arregalando e as sobrancelhas franzindo.
- Eu estou grávida.
Louis conseguiu ficar mais branco do que já era. Seus olhos verdes adquiriram um brilho úmido repentino... ele ia chorar? Ele olhava para minha barriga e para o meu rosto, e seu sorriso foi se ampliando quando a umidade de seus olhos transbordou e sim, ele chorou. Aquele baita homem estava chorando na minha frente. E pela cara dele, era um choro de felicidade. Graças a Deus.
Ele se aproximou, colocou uma mão de cada lado do meu rosto e me beijou tão ternamente como se eu fosse mais frágil que um cristal. Depois colocou uma mão em minha barriga.
- Você tem certeza? De quanto tempo?
O sorriso no rosto dele parecia ser eterno. E passou a ser o meu sorriso preferido.
- Não sei com certeza o tempo. Deve ser uns dois meses no máximo.
Ele olhou em meus olhos e o sentimento que me preencheu levou embora todas as dúvidas que me assombravam. Ele me olhava como se eu fosse sagrada e eu nunca imaginei que pudesse amá-lo mais. Só que eu podia.
Ali eu tive certeza de que tudo daria certo.

Mas nunca poderiam ter me preparado para os meses que estavam por vir.
A gravidez foi o pior período da minha vida. Não sou hipócrita. E nos últimos meses eu juro que achei que iria matar alguém. Ou morrer. Ou matar alguém e morrer. Era horrível. E eu me recusei a ter parto normal. Viraria um vegetal na cama após a cirurgia, ficaria semanas sem transar com Louis, usaria uma infinidade de cremes para amenizar a cicatriz mas nem Deus encarnado me faria aceitar parto normal. Isso estava fora de qualquer negociação.

O dia escolhido para a cirurgia estava nublado e frio, como os meus dias favoritos eram. Louis havia pedido a semana de folga e iria estar comigo o tempo todo. Eu jamais suportaria aquela transição imensa sem suas mãos fortes segurando as minhas. Nós seríamos pais dali pouco tempo. E isso era surreal. Eu me recusei a saber o sexo até o nascimento. Essa coisa de montar enxoval de acordo com uma cor não existe no meu mundo, afinal minha cor favorita é azul, então usamos cores consideradas "neutras" para comprar o que seria necessário para os primeiros meses e depois iríamos nos adequando. Mas, viva o azul!

E por falar em azul... eu disse que ficaria feliz se nascesse uma menina, mas fiquei transcendente com o nascimento de um menino. E Leo (meu pequeno leãozinho) nasceu com olhos azuis. Afinal, minha mãe estava certa o tempo todo. Mas as fagulhas verdes em suas íris indicavam que Louis quis ter sua participação naquela matiz, e o resultado foi magnífico. Sua pele era tão branca que seus olhos pareciam ainda mais coloridos quando ele os abría.

Mesmo que doesse até pra respirar eu não conseguia me conter de sorrir como idiota e choramingar a cada vez que olhava pra ele. E parecia que meu coração ia explodir em meu peito a qualquer momento.

Eu pensei que toda aquela felicidade que Louis trouxe para minha vida era imensa. Mas ela aumentou exponencialmente. Ela atingiu níveis extratosféricos. E eu nem sei se essa palavra realmente existe. Eu estava absurdamente, ridiculamente, invejavelmente, completamente feliz. E a cada vez que meu pequeno leãozinho abria aqueles lindos olhos em minha direção e envolvia meu dedo com seus microscópicos dedinhos, tudo era perfeito.

E enquanto adormecia pela primeira vez, com Leo no meu colo e Louis ao meu lado, eu percebi que até então eu não sabia o que estava fazendo nesse mundo.

ali eu descobri.

Tudo era perfeito.

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora