Capítulo 20 - A fraqueza

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fraqueza. substantivo feminino.
qualidade de fraco.
falta de vigor físico, de robustez; debilidade, fragilidade, fraqueira.

Jesy acordou sentindo cócegas. Aquela sensação era no mínimo curiosa. O que estava acontecendo afinal?

Ponto de vista da Jesy

Aquela sensação era estranha. Eu imediatamente entendi o que estava acontecendo. E Louis deve ter sentido que eu fiquei tensa, pois não pude controlar. Ele estava delicadamente beijando as cicatrizes no meu pulso e antebraço. Aquilo me deixou desconsertada. Ele havia "invadido" uma parte muito pessoal. Mais do que quando fazíamos amor. Mais do que quando ele dormia ao meu lado.
Aquelas cicatrizes eram lembranças de uma fase nada feliz e eu gostava de pensar que elas eram invisíveis para as outras pessoas.
Eu apertava meus olhos para segurar as lágrimas que queriam escapar. E, de repente, ele parou. E me apertou contra seu peito. Minha respiração estava forte.
Ele beijou o topo da minha cabeça
- Eu não quero que você faça isso nunca mais, entendeu? Não quero que você se machuque. Ou cause mal a você mesma.
Eu choramingava abraçada a ele. Como seria possível que ele soubesse que eu causei aquilo em mim mesma? Por que ele nem sequer perguntou o que havia acontecido?
Eu levantei meus olhos em direção aos dele. E, mesmo chorando, eu sorri e concordei silenciosamente com ele. Ele beijou minhas lágrimas e eu sentia como se nunca mais fosse capaz de sobreviver sem ele.

Lembrar da época em que eu causava dor em mim mesma como forma de punição por ser fraca era terrível. Todo dia era obrigada a olhar para minhas cicatrizes e me lembrar do quanto aquilo me destruía. Eu nunca quis me matar. Até mesmo para isso eu era fraca. Já haviam se passado mais de 10 anos, o tecido já era antigo e mais pálido que a pele normal, mas mesmo assim aquelas lembranças me invadiam quando queriam.
Ver Louis fazendo aquilo me derrubou. Ele esteve olhando para elas por quanto tempo? Ele sempre as viu? Será que ele teve vontade de tocá-las antes?
Aquilo era indescritível.
Estar com ele era uma das provas de que eu não era mais aquela menina medrosa e fraca. Eu me sentia poderosa ao lado dele. Mesmo que ele seja minha maior fraqueza.

Eu não queria largá-lo. Queria morrer e pertencer àquele abraço pra sempre.

Ponto de vista do Louis

Ela nunca contou sobre aquelas cicatrizes. Eu já as tinha visto desde quando nossa amizade ficou mais íntima. Ela sempre teve o sorrateiro costume de estar perto demais de mim (o que agora eu entendo porque) e era fácil notar suas particularidades.
Era impossível pra mim entender como alguém tão forte, guerreira e batalhadora como Jesy foi capaz de se causar tanto sofrimento. Eu nunca consegui encontrar essa resposta.
E talvez eu não precise mais saber disso. Eu só preciso evitar que isso aconteça novamente. Eu vou protegê-la. Serei seu porto seguro e nada irá, jamais, machucá-la novamente.

Ponto de vista da Jesy

- Baby, nós temos que levantar... - ele disse, sorrindo.
Eu soltei um gemido e me agarrei ainda mais a ele. Parecia que eu queria que meu corpo se fundisse ao dele.
Ele beijou mais uma vez o topo da minha cabeça e se levantou.
- Eu tenho que ir em casa. Preciso trocar de roupa. E já que você não vai comigo, vou esperar você levantar pra ter certeza de que não vai perder a hora. Sua dorminhoca!
Eu me virei na cama, assumindo o lado onde ele esteve deitado e que ainda tinha seu calor e seu cheiro. Senti minha cama cedendo quando Louis se deitou novamente ao meu lado. Ele passava sua grande mão pelas minhas costas, meus ombros, e depositava beijos por toda parte.
- Você sabe que fazendo isso você me convence a ficar mais tempo ainda na cama, né?
Ele soltou uma risada e eu pude sentir sua respiração perigosamente perto da minha orelha.
- Se eu disser que achei o tal banheiro você se animaria a levantar, trocar de roupa e ir pra universidade? - ele sussurrou e eu senti meus pelos se eriçando automaticamente.
Me virei rapidamente e logo estávamos frente a frente
Eu apertei meus olhos, desconfiada, investigando-o.
- Você não pode estar falando sério!
Ele me beijou e se levantou.
- Você só vai saber se estiver lá.
Ele puxou meu edredon, me puxou pelas pernas me obrigando a ficar na beirada da cama. E eu de repente estava tão ansiosa que rapidamente me levantei. Enlacei seu pescoço.
- Eu estarei lá.
Eu sussurrei perto de sua orelha, pagando com a mesma moeda.
Ele me apertou contra ele. Seu sorriso estava tão amplo que eu sorri junto.
- Então nos vemos lá.
E assim ele se afastou, pegou suas coisas e saiu. Me deixando sozinha, curiosa e, claro, ansiosa.
Me troquei e me arrumei em tempo recorde. Estava tão animada que saí mais cedo e fui a pé para a universidade. Morava tão perto que isso nem era um sacrifício e seria bom para me ajudar. Eu precisava colocar as idéias em ordem.
Aquele homem não existia.

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora