Capítulo 17 - A precipitação

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precipitação. substantivo feminino. queda, caída, descida rápida. extrema velocidade; grande pressa; afobação.

Continuo sem computador, então as atualizações estão sendo feitas pelo celular. E isso pode ser um saco.
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Obrigada a todos que acompanham. Espero que estejam gostando!

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Jesy sentia que seu cérebro ia derreter. Não conseguia parar de pensar. Em mil coisas. Ao mesmo tempo. Não estava ouvindo uma palavra do que estava sendo dito na aula, apenas um zunido. Se sentia incapaz de se mover. Ansiava com todo seu ser olhar na direção de Louis, mas não conseguia.

Ponto de vista da Jesy

"Essa situação é ridícula. Quem diria que íamos terminar assim? Eu não sei aguento essa situação. Eu não acredito que aceitei isso. Eu sou a pessoa mais patética que existe nesse mundo"
Eu repentinamente me senti mal. Parecia que não conseguia respirar. Puxei o ar o mais fundo que pude, arranjei forças sabe-se lá de onde e tive que me retirar da sala. Aquele ambiente estava me sufocando. Fui até o banheiro, que ficava estrategicamente ao lado da sala, e joguei um pouco de água no rosto. Sentia-me um tanto zonza e tive que me sentar. Quem diria que eu estaria, literalmente, tonta de tanto pensar?
Não sei quanto tempo passei sentada com os cotovelos nos joelhos e o rosto escondido por minhas mãos, concentrada apenas na minha respiração.
De repente ouvi uma tosse, daquelas que alguém faz pra chamar a atenção. Quando levantei os olhos era Diana.
- Oi - eu tentei sorrir em sua direção.
- Você estava tão branca quando saiu da sala e sua respiração estava estranha. Eu tive que vir checar se você não teve um ataque ou algo do tipo - ambas rimos.
- Eu estava me sentindo sufocada lá dentro. O dia mal começou e está cheio de eventos, Diana. Eu não sei o que fazer. Tô me sentindo ridícula por ter concordado com essa idéia maluca do Louis. Ou minha. Sei lá... - eu disse, abaixando meu rosto e apoiando-o entre minhas mãos de novo.
Diana se aproximou de mim e também se sentou. Ficamos um tempo ali em silêncio. Uma das vantagens de Diana é que ela não exige que você fale. Só quando você se sente pronto ou a vontade para isso. Mas ela sempre está ali.
Finalmente eu suspirei e lhe dirigi algumas palavras
- Sabe, Di. Tudo seria mais fácil se eu fosse diferente. Se eu fosse uma pessoa normal. Se eu não fosse essa coisa enorme e insegura que eu sou. Tudo seria mais fácil. Pra mim e pra ele. Eu estou estragando uma das melhores coisas que aconteceram comigo nos últimos tempos. E tudo isso porque eu sou insegura e estúpida. É óbvio que isso não vai dar certo. Não tem como dar certo.
Diana ficou séria. Sei que ela estava processando e pensando no que iria me responder. Ambas desfrutávamos das mesmas inseguranças e sei que no fundo, ela me daria razão mas nunca diria isso. E quando ela começou a falar eu soube que ela faria de tudo para que eu me sentisse melhor
- Pois eu acho que se você fosse diferente, talvez o Louis nem ia gostar de você como ele gosta. Talvez vocês nem se tornassem amigos, pra começar. Talvez você seria tão chata que ninguém ia gostar de você. E todos gostamos de você do jeito que você é. Poxa. Isso não vale de nada?
Eu senti que o inevitável havia chegado: lágrimas. Minhas melhores amigas nos últimos dias.
Lágrimas que pareciam arrancar um pedaço de mim a cada soluço. Queimavam e doíam.
Diana me abraçou e ficamos ali em silêncio até que ouvimos que mais alguém entrava no banheiro. Rapidamente eu me levantei e fingi que estava lavando o rosto. Não queria que ninguém visse essa cena e depois eu virasse, novamente, o assunto da sala.

Ponto de vista do Louis

Assim que vi que Jesy não respondia minhas mensagens eu percebi que algo estava errado. Ela estava inquieta na cadeira e visivelmente não estava bem.
Notei que algo estava errado e eu logo a vi se levantando, no meio da aula, e saindo. Isso era algo que ela não costumava fazer.
Logo quem ficou inquieto fui eu. O que piorou quando vi Diana se levantando logo depois de Jesy e saindo da sala também. Algo estava errado.
Passei minha mão pelos cabelos, olhando fixamente para a porta esperando que elas voltassem. E elas não voltavam. E aquilo parecia uma eternidade.
Eu não podia mais esperar. Me levantei e também fui em direção a porta. Precisava descobrir se Jesy estava bem. Ela parecia tão bem de manhã... a lembrança da maneira como acordamos de repente me fez sentir ainda mais a necessidade de encontrá-la.
Assim que saí da sala, olhei pros dois lados e não vi uma alma viva. Resolvi ser indiscreto e enfiei minha cabeça pra dentro do banheiro feminino. Pude ouvir um choro e imediatamente reconheci a quem ele pertencia. Sem ao menos me importar com a invasão imprópria de privacidade, ultrapassei a porta e me deparei com Jesy compulsivamente lavando o rosto enquanto Diana olhava atônita em minha direção.
- Eu sei que aqui é o banheiro feminino, mas você me deixou muito preocupado - eu disse enquanto andava em direção à Jesy. Era óbvio que ela estava chorando. De novo. Eu não suportava vê-la chorando. E ultimamente isso era recorrente. Eu me pergunto se todo esse sofrimento é por minha causa.
Eu a puxo pelo braço e a envolvo em um abraço.
- O que está acontecendo, Jesy? Você precisa falar comigo.
Ela se aninhou em meu abraço. Eu adorava abraçá-la. Ela era menor do que eu, e meu queixo encaixava no topo de sua cabeça enquanto ela se enrolava em torno do meu abdômen. E eu adorava aquilo.
- O que foi? - eu disse, me afastando um pouco e levantando seu queixo. Ela manteve os olhos fechados e suspirou.
Quando abriu seus olhos, eles estavam vermelhos e tristes.
- Eu estou ficando doida com essa situação. Isso tudo é muito difícil. Eu não vou conseguir fingir. Não vou conseguir ficar longe de você. Não quero ficar longe de você. Deus... - ela disse, fechando novamente os olhos - essa tem que ser a pior idéia que nós tivemos nos últimos tempos.
Eu ri e ela soltou uma risada em reflexo. Eu a preferia assim. Feliz. Sorrindo. Jesy já fez tanto por mim e eu a amava tanto que não suportava vê-la infeliz.
- Podemos desfazer o acordo nesse segundo se você quiser. Eu já disse que se dependesse de mim, nós estaríamos lado a lado e de mãos dadas.
- Eu sei - disse ela, olhando pra baixo.
Só nesse momento notei que Diana havia nos deixado a sós.
E nós continuávamos abraçados. No banheiro feminino.
Devo confessar que era interessante estar ali dentro. Estava me sentindo um rebelde.
- Eu sempre quis saber como era o banheiro das meninas... - e isso fez Jesy olhar em meus olhos, com uma sobrancelha arqueada.
- Ah, é? Seu tarado! - ela disse me dando um tapa de brincadeira no braço.
- Você podia ser uma anfitriã melhor. Ao invés disso, me recebe com lágrimas e pancadas.
Ela estava sorrindo amplamente agora, limpando o rosto que já não apresentava uma cascata de lágrimas. Isso era ótimo.
- Não há nada de especial aqui. E estamos no meio da aula, já parou para pensar que pode entrar alguém aqui a qualquer momento?
- Então você vai precisar arrumar um outro momento para fazermos um tour pelo banheiro feminino. Eu confesso que iria adorar - e dizendo isso, eu me aproximo de Jesy. Ela não me repele e entende minha mensagem. Logo estamos conectados por um beijo e eu preciso me controlar pra não levá-la pra uma das cabines e arrancar sua roupa. Ela está certa, a qualquer momento alguém pode entrar. Além do que, Jesy estava triste e insegura minutos atrás. Não acho que seja um bom momento, por mais que meu corpo envie sinais de que seria um ótimo momento.
- Acho que devíamos voltar pra sala - digo e ela me olha desconfiada.
- OK. Mas eu vou na frente. E você espera um pouco para entrar. Assim não levantamos suspeita.
- Tá bom. Desde que você responda minhas mensagens.
Ela pensa e acaba concordando.
Assim ela se dirige cautelosamente até a saída do banheiro para ver se é seguro para que eu possa sair. Ela acena para que eu saia e sai logo depois de mim, já entrando na sala. Eu espero alguns minutos e também entro. Vou até minha cadeira e sinto meu celular vibrando.

Ponto de vista da Jesy

Assim que entro na sala abaixo a cabeça pois não quero fazer contato visual com ninguém indesejável. Me dirijo até meu assento e busco meu celular na mochila. Havia uma avalanche de mensagens. Me distraí respondendo as curiosidades e perguntas das meninas primeiro. Sabia que elas teriam muitas.
"Por que vocês vão fazer isso?"
"Vocês estão doidos? Isso é maluquice!"
"Eu espero que dê certo assim"
"Vocês acham que isso vai dar certo?"
E por aí vai. Respondi rapidamente pois eu não poderia pensar naquilo devidamente. Afinal, nem eu sabia que rumo aquilo tomaria.
Depois de precariamente sanadas as dúvidas, me detive na conversa com Louis. Havia uma grande quantidade de mensagens. Enviadas desde antes, quando ele chegou na sala.
"Tá tudo bem com você? "
"Pq não responde?"
"O que tá acontecendo? Tô preocupado!"
Aproveitei que ele ainda não havia voltado pra sala e resolvi provocá-lo. Aquilo devia servir para me relaxar um pouco.
"Eu estava abraçando um cara muito gostoso no banheiro"
Assim que apertei enviar ele entrou na sala. E eu pude confirmar que havia usado o adjetivo correto para descrevê-lo: ele era gostoso.
Esperei ansiosa pela sua resposta. E quando ela chegou eu tive que me segurar pra não rir alto no meio da aula.
"Que coincidência. Eu também estava abraçando uma baixinha teimosa e bem gostosa no banheiro"
Resolvi continuar com a brincadeira
"Vou ter que te castigar por isso?" enviei, mas sem coragem de olhar em sua direção ainda.
"Eu posso pensar em muitas maneiras interessantes para você me castigar" ao ler aquilo, imediatamente senti um aperto entre as coxas.
"Estou curiosa" provoquei, duvidando que ele continuaria com aquilo.
"Pois eu posso te mostrar se você achar aquele banheiro que eu pedi para fazer um tour"
Senti meus olhos arregalando e minhas bochechas queimando. Tenho certeza de que esqueci como se respira nesse momento.
Esse safado estava propondo sexo no banheiro da universidade? Ele só pode estar maluco.
"Você só pode estar fora de juízo. Esse banheiro não existe. Aqui tem movimento em todo lugar. Você é doido, menino"
Eu disse, sorrindo enquanto olhava a tela do celular. Ele ainda ia acabar comigo. Com meu juízo. E com meu coração.
Sentia minha respiração se acelerando enquanto lentamente me virei, buscando-o no fundo da sala. Nossos olhos se encontraram e ele abriu aquele sorriso resplandecente que combinava com seus olhos, que brilhavam.
Eu tive que controlar os músculos do meu rosto para não retribuir abertamente seu sorriso. Fiz isso me virando rapidamente para a frente. E logo meu celular vibrou com sua resposta.
"Eu consigo achar esse banheiro. Basta você me autorizar."
Senti meu queixo caindo. Ele estava falando sério.
Deus do ceu, parecíamos dois adolescentes que acabaram de conhecer a função sexual dos órgãos genitais. E eu estava adorando aquilo. Adorava todo e qualquer contato com aquele corpo. Não queria ficar longe dele. Resolvi provocar mais um pouco
"Pois eu duvido que você encontre. Se encontrá-lo, eu lhe acompanho nessa tal tour que você quer"
Eu estava sorrindo estupidamente com tudo isso. Logo a aula acabou e eu percebi que comecei e terminei sem ter idéia do que foi falado ali. Diana ou Valerie iriam ter que me ajudar. Essa situação também era nova: Louis estava, de fato, atrapalhando meu rendimento.
Antes ele atrapalhava porque eu ficava imaginando situações com ele, mas não me afetava a ponto de abstrair toda uma aula. Agora ele atrapalha porque eu quero repetir aquilo que já sei que é maravilhoso.
Oh, Deus. Nada nessa minha vida era fácil.

Ponto de vista do Louis

Ah, Jesy. Você não devia ter me provocado. Eu sei o lugar perfeito para fazer o que tenho em mente. Você não vai poder fugir de mim, menina...

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora