Resplandecente - Completa

Capítulo 14 - O nevoeiro

nevoeiro. substantivo masculino. nebulosidade que se constitui de grande número de gotículas de água suspensas na camada mais baixa da atmosfera e que difere da nuvem apenas por estar mais perto da superfície terrestre; nevoaça. ausência de clareza, de entendimento; obscuridade, sombra, nevoaça.

Após Diana e Valerie terem se despedido, Louis e Jesy ficaram por mais um tempo deitados assistindo qualquer coisa na televisão, até que ele adormeceu.

Já era tarde da noite, e Jesy se sentia tão feliz que se recusava a dormir. Queria absorver tudo aquilo. Contentou-se em ficar ali, admirando o sono de Louis. Acariciava seus cabelos e sorria. Louis de repente acordou, assustado.

- O que houve? perguntou Jesy preocupada.

- Tive um pesadelo. Acho que eu vou pra casa, tomar um banho e dormir. Eu adoraria ficar aqui, mas preciso trocar essa roupa.

Jesy entendeu e deixou que ele se levantasse. Ela o seguiu até a porta, ambos sonolentos. Agora não precisava mais se esconder e podia levá-lo até a porta.

Ela o acompanhou e eles trocaram um beijo suave de boa noite.

Jesy decidiu que, já que ia ficar sozinha, ia então dormir pois precisava acordar cedo no dia seguinte.

Como era de se esperar, Louis foi buscar Jesy em casa para que eles chegassem juntos à aula. Será que ela se acostumaria com aquilo e deixaria de sorrir como uma idiota? Provavelmente não. Nunca havia sido tão amada e tratada dessa forma. Se sentia inquebrável.

Porém, ela mal sabia o que estava por vir.

Ao chegarem à universidade, se dirigiram ao bloco de aulas, como no dia anterior. Sentaram-se junto às amigas de Jesy (e agora, mais do que nunca, amigas de Louis). A conversa fluía naturalmente e tudo era muito agradável.

Até que um grupo de meninos, daqueles que já deviam ter se formado, mas ainda estavam ali estagnados, resolveu soltar comentários em voz alta em direção à Jesy e Louis.

- Ê, Louis. Ainda bem que você gosta de lidar com grandes animais, né? Porque pra dar conta disso aí, só assim...

E riam, em gargalhadas. Jesy sentiu seu rosto queimando e as lágrimas subindo para seus olhos. Seu coração disparou tão rapido quanto a reação de Louis: quando ela percebeu, Louis estava com um dos meninos presos pela gola da camiseta. Seus olhos flamejavam e ele estava vermelho como uma pimenta. Sua voz era grave e seu tom era assustador.

- O que você tá tentando dizer aqui, companheiro? - ameaçava Louis.

De repente, todos os olhos se voltaram para aquela situação. Jesy sabia que aquilo iria acontecer, eventualmente. Ela só não esperava que seria daquela forma. Afinal, ela sabia que a maioria de seus colegas estava julgando aquele relacionamento. Pessoas como ela não são isentas de preconceito nesses quesitos.

A situação parecia estar caminhando para uma briga corporal, quando Jesy se encheu de coragem, colocou a mão no braço de Louis

- Deixa isso pra lá. Você sabe que não pode brigar dentro da universidade e eu não quero que você seja expulso.

Ela percebeu o efeito que suas palavras tiveram em Louis, já que ele imediatamente soltou a camiseta do outro rapaz.

Ele se virou para ela, e ela não conseguiu decifrar o que viu em seus olhos.

Ele então empurrou o causador do problema, se virou e sumiu de Jesy. Ela percebeu que o professor estava chegando, olhando confuso à sua volta, tentando entender o que estava acontecendo. Jesy lhe cumprimentou e abaixou a cabeça, tentando não demonstrar seus sentimentos conflitantes.

Esperou o professor entrar na sala e se virou para procurar Louis quando ouviu uma voz

- Você não vai entrar pra aula, Jesy?

Era Diana. Parada na porta. Esperando pela resposta da amiga.

- Não, Di. Não consigo. Anota tudo pra mim, por favor?

E a amiga apenas concordou com a cabeça, com um sorriso frouxo e entrou na sala.

Era óbvio que todos estavam pisando em ovos com toda aquela situação.

Jesy perambulou pelo bloco para encontrar Louis em seu carro. Ele tremia, visivelmente ainda nervoso pela situação toda.

Ela se aproximou cautelosamente, como quem se aproxima de um animal encurralado.

- Você está bem?

Ele levantou os olhos, assustado.

Ele rapidamente andou em direção à Jesy e a abraçou. Aquele abraço se sentiu diferente. Era como se ele estivesse tentando lhe dizer alguma coisa.

- Me desculpa - disse Louis finalmente.

Jesy não entendia. Por que ele estava lhe pedindo desculpas?

- Do que você está falando? Perguntou-lhe, confusa.

- Eu queria poder te defender melhor desse tipo de situação, desse tipo de pessoa.

E de repente Jesy percebeu. Ele estava se culpando pelo que havia acontecido.

Pobre Louis. Ele era o menor dos culpados e o principal afetado.

- Do que você está falando? Quem deveria te pedir desculpas sou eu. Eu sou a causadora de todo esse desentendimento.

Louis a olhou ultrajado.

- Claro que não. Eles foram desrespeitosos com você, eles foram idiotas... - e antes que Louis terminasse de falar, Jesy o interrompeu.

- No dia que você foi lá em casa e nós conversamos eu te alertei sobre isso. Lembra?

Louis concordou com a cabeça, olhando para o chão.

- Pois eu sabia que esse tipo de coisa ia ser dita, mais cedo ou mais tarde. Eu te avisei... a culpa não é sua, é minha. É minha por acreditar que uma pessoa como eu poderia ter algo tão lindo assim ao seu lado e ser imune ao preconceito.

Jesy sentia as lagrimas subindo aos seus olhos novamente, e não conseguia mais contê-las.

Louis olhava para o chão, com os pulsos cerrados. Ele então a olhou, com a expressão séria.

- Você não sabe o que está dizendo. Quem está perdendo são eles. Eu já disse que você é muito mais do que o exterior mostra. E que é isso que importa.

Ele então a abraçou, novamente. E aquele era o seu abraço habitual. Jesy se sentiu envolvida em calor, carinho e sinceridade. Assim como ela se sentia quando estava com Louis.

E, naquele instante, aquilo foi o suficiente para apagar a chama da insegurança que resolveu se reacender dentro dela.

Por enquanto...