Capítulo 36 - A visita (2)

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Assim que Louis parou o carro em frente aquela que eu imaginei ser sua casa, fui atingida por uma atmosfera muito acolhedora. O irmão de Louis,  um baita garoto com 15 anos, cabelos negros, olhos verdes e o sorriso amplo como o do irmão ja vinha correndo em nossa direção. Davi já era praticamente do tamanho de Louis, o que me fazia ser pequena perto dele. Ele abraçou carinhosamente o irmão, dando-lhe tapinhas nas costas. Eu olhava em volta encantada com a amplitude de natureza a minha volta. O vento fresco que soprava em pleno meio do dia ajudava muito na impressão positiva que tive daquele lugar. Eu agora conseguia entender porque Louis era tão obcecado por voltar pra casa. Ele pegou minha mão,  me obrigando a olhar em sua direção.
- Jesy. Esse é o Davi.
Eu estendi minha mão para cumprimentar o meu cunhado, mas ele logo me envolveu em um abraço rápido, apertado e aconchegante.
Fiquei sem graça quando, ao me desvencilhar de Davi, pude ver um casal parado sorrindo ao longe em nossa direção. Imediatamente soube que eram os pais de Louis. Havia um pouco de cada um nele. Sua mãe,  baixinha e rechonchuda, sorria pra mim como se eu fosse a melhor coisa que lhe aconteceu. Louis segurou minha mão e me puxou em direção à casa. Ele olhou rapidamente pra mim e pude ver que ele sorria. 
- Mãe, pai. A sua bênção.
- Deus te abençoe, meu filho - sua mãe respondeu, mas não desviava seus olhos de mim.
- E você deve ser a famosa Jesy - ela andou em minha direção e me abraçou. Outro abraço aconchegante e carinhoso. Devo admitir que essa família sabe te deixar feliz e confortável em um abraço. Ela cheirava a ar puro, tempero e fumaça, como se isso fosse possível. Pude saber que ali tinha um fogão à lenha apenas pelo cheiro em seus cabelos. E o almoço já estava cozinhando. Aquele cheiro me lembrou do quanto estava faminta. Pude perceber que seu pai nos olhava ainda da porta. Precisava me lembrar de que seus pais ainda são do tipo tradicional.
- Seja muito bem vinda a nossa humilde casinha, Jesy - disse com sua voz grave o pai de Louis, Geraldo, enquanto me estendia sua mão grossa e calejada pelos trabalhos braçais que sei que ele faz.
- Muito obrigada.
Entreguei o pacote com o doce que estava com Louis à Rosa, minha sogra.
- Trouxe pra agradecer por me receberem. Espero que gostem.
Seus olhos brilharam e seu sorriso se ampliou enquanto abria e descobria o que havia no pacote. Louis se aproximou, pousou sua mão em minha cintura e beijou minha cabeça. Eu estava mais ansiosa do que devia.
- Olha, Geraldo. Ela trouxe doce de leite - ela exclamou animadamente virando o pote para ele.
- Eu amo doce de leite. Muito obrigada - ela agradeceu segurando minha mão livre e a apertando. A minha outra mão estava apoiada na mão de Louis que segurava minha cintura.
- Mas vamos entrar. Vocês devem estar cansados.
Fomos entrando e todo aquele ambiente rústico e bem cuidado foi me invadindo. Muitas fotos de familia esravam espalhadas pela sala.  Louis nos guiou até um sofá, onde me sentei sem muita atenção.  Em uma das inúmeras coleções de porta retratos, uma foto em especial me chamou atenção e eu não conseguia deixar de olhar e sorrir. Rosa provavelmente notou e trouxe a foto até minhas mãos. Um pequeno Louis, totalmente adorável, no colo de sua mãe. Ele não devia ter mais do que 5 anos e, tirando a barba que às vezes lhe preenche o rosto, é o mesmo menino. O mesmo olhar divertido, as mesmas bochechas e, o mais importante,  o mesmo sorriso encantador. Eu olhava para Louis ao meu lado, e para a foto e eu devia estar parecendo uma idiota.
- Não mudou nada, não é mesmo? Rosa já sabia a resposta àquela pergunta.
Olhei fixamente para Louis, que já estava vermelho de vergonha. Ele ainda era aquele menino. Meu menino grande. Apertei sua mão, olhei para sua mãe e sorri. Voltei a olhar para ele
- Não. Não mudou nada.
Ele estava com vergonha, mas me sorriu de volta. Me pergunto se ele estava se sentindo vulnerável em frente aos pais.
Rose interviu rapidamente com toda aquela agilidade típica de mães que têm visitas em casa e logo quis me mostrar tudo. Mas não sem antes saber se eu estava com sede ou com fome e me mostrar mais de uma vez onde era o banheiro. Louis ficou na sala com seu pai e Davi. Provavelmente conversando sobre a produção da lavoura ou sobre algum outro assunto de homens. Eu o deixaria ter seu momento com eles e me entregaria de vontade própria ao tour ao lado de sua mãe.
Ela me mostrou toda a casa, parando em alguns dos porta retratos pelo corredor e contando alguma história rápida de como Louis foi parar no hospital ou tomou pontos na boca ou quase morreu esmagado por um touro. Eu ja sabia de todas aquelas histórias,  pois Louis ja havia me contado de todas as vezes em que ele ja quase-morreu. Só que ouvi-las de um espectador diferente trazia novos ângulos e tornava cada evento mais especial ainda.
Ela finalmente retornou comigo à cozinha, onde eu finalmente me sentei. Me ofereci pra ajudar e ela se sentiu praticamente ofendida
- De jeito nenhum. Você deve estar cansada da viagem. Além disso, você é visita. Fica quietinha aí.  Davi? Vem ca? - ela chamou pelo caçula,  que logo apareceu na porta da cozinha.
- Oi, mãe?
- Pega um copo aí no armário e pega a jarra de suco na geladeira. Coloca aqui na mesa pra mim, por favor? Aproveita e leva um copo pro seu irmão que ele deve estar cansado também. 
Ele atendeu prontamente e, assim que ele começou a despejar o suco em um copo, eu reconheci aquele cheiro inebriante de maracujá. E eu amo suco de maracujá.  Será que Louis contou a ela ou foi uma feliz coincidência? Pois não seria eu quem iria reclamar.
Davi educadamente posicionou um dos copos à minha frente
- Obrigada, Davi.
Ele sorriu em resposta e saiu em direção à sala com o copo para Louis. Enquanto experimentava o suco, que estava gelado, doce e delicioso, olhei em volta e me senti confortável com aquele ambiente. Nada de modernidade ou extravagância.  Uma cozinha simples, com móveis de madeira e cores neutras. Claro que era uma cozinha maior do que normalmente se imagina porque, como eu tinha suposto, há um enorme fogão à lenha em um dos cantos. Eu reparei na mesa à minha frente,  toda de madeira e com uma linda toalha bordada decorando. Aquela toalha me lembrava minha mãe e me peguei acariciando o bordado
- Eu mesma quem bordei - Rosa exclamou orgulhosa.
- É linda. Eu queria saber bordar, mas sou uma negação. Mas minha mãe sabe e adora!  Ela iria amar essa toalha.
Olhei pra Rosa e ela sorria pra mim. Eu me sentia a vontade com ela, como se nos conhecêssemos há anos. Aquilo me fazia esquecer que estava com medo de que ela não gostasse de mim. Ao menos ate agora tudo corria bem.
Logo um borburinho se ouviu e Louis entrou na cozinha.
- Jesy, preciso que você conheça umas pessoas. Estranhei,  mas me levantei olhando para Rosa. Ela acenou e eu segui Louis até a sala. Se eu houvesse me baseado nos relatos que Louis fazia de sua familia eu saberia que tudo estava muito calmo. Ao entrar na sala pude ver que ao menos 6 novas pessoas haviam chegado e estavam se acomodando nos sofás.  No instante em que eu surgi na sala todos se viraram para mim. Todos. Sem exceções.  Senti o sangue subindo pro meu rosto e apertei mais forte ainda a mão de Louis. Ele retribuiu o aperto e sussurou em meu ouvido que estava tudo bem.
- Tia Luiza e tio Oswaldo - disse apontando para um casal sorridente, na ponta da sala próximo a porta. Eu fui até eles cumprimentá-los. Mãos foram apertadas e nada de abraços. Me virei para Louis, que apontou o outro casal, que estava à sua esquerda
- Meu avô,  Luiz, e minha avó, Maria. Fui em direção àqueles dois velhinhos adoráveis.  Ao apertar a mão delicada de sua avó,  não resisti a lembrar de minha querida avó
- Minha avó também chama Maria - disse à ela, que me analisou, sorriu e segurou meu rosto com as duas mãos e depositou um beijo na minha testa.
- Eu gostei dela, Louis.  Espero que agora você se case. Eu já estou ficando velha, meu filho... - naquele momento todos caíram na gargalhada,  e eu tinha certeza que estava vermelha como uma pimenta. Já vi que de frágil a vovó Maria so tinha a aparência e gostei dela.
- E por último,  tio Marcos e tia Clara. Você deu sorte e não vai conseguir conhecer nenhum dos meus primos pentelhos hoje.
Cumprimentei o último casal e voltei para o lado de Louis. Nesse momento sua mãe entrou na sala, anunciando que o almoço ja seria servido. Eu agradeci mentalmente,  pois estava faminta.
Todos nos dirigimos até a mesa onde eu estava sentada mais cedo e de repente ela nao me pareceu mais tao enorme. Acomodou a todos confortavelmente e logo todos falavam ao mesmo tempo, enquanto a mesa era abastecida. Fiquei até me sentindo deslocada em meio aquela reunião tão familiar. Quando Rosa terminou de colocar a comida na mesa meu queixo caiu em surpresa. Eu gostava de tudo que estava sendo servido. Desde o arroz primavera, o feijão preto, o purê de batatas e o lombo suíno assado. Até mesmo a rúcula e o rabanete na salada. Tudo. Eu olhei para Louis, que estava sentado a minha frente e ele sorria satisfeito. Era obvio que aquilo era devido a conversa que ele disse que teve com sua mãe,  sobre o cardápio.  Tudo estava tão apetitoso que tive que me controlar ao me servir. E mais suco de maracujá. Eu estava sendo completamente mimada e preciso confessar que estava adorando cada segundo.
Os parentes de Louis me encheram de perguntas. Queriam saber tudo sobre a namorada do Louis. A moça da cidade. Eu fui o centro das atenções de todos à mesa. E tive a impressão de que eles gostaram de mim. Assim como eu gostei do sentimento de acolhimento transmitido por eles.
Tudo estava correndo adoravelmente. Ao termino do almoço a mãe de Louis se sentiu ofendida quando me ofereci para ajudar a lavar a louça.
- De maneira alguma, Jesy. Você vai dar uma volta com Louis, conhecer a propriedade. Eu e as comadres daremos um jeito em tudo aqui.
Ela praticamente me empurrava porta afora enquanto Louis me esperava encostado ao batente da porta, sorrindo.
- Você não vai querer contrariar a dona Rosa, acredite em mim. Ele pegou minha mão e piscou para a mãe, que nos empurrava pra fora da cozinha.
Eu estava tão cheia do almoço que poderia sair rolando pela casa.
Saímos para conhecer a propriedade, como ela ordenou. Era uma propriedade enorme, com diversas culturas e muitas criações de animais. Eu não conseguiria conhecer tudo em uma tarde, então Louis me levou aos seus lugares favoritos. Me mostrou as vacas leiteiras, a plantação de morangos e, claro, os cavalos. Louis adorava cavalos e, apesar do meu medo respeitoso por eles, eu adoro olhar pra eles. São fortes, bonitos, musculosos, medrosos. Adoráveis.
O cavalo de Louis era um lindo animal, com sua pelagem Alazã, que pode ser descrita a um leigo como caramelo e sua crina avermelhada o deixava ainda mais lindo. Um belo espécime,  desconfiado e forte.
- Qual o nome dele? - perguntei enquanto tentava ganhar sua confiança. 
Louis demorou a responder e me virei pra ele, que estava com o rosto vermelho.
- O que foi?
- É que o nome dele é Dominador. E dá pra pensar em muita coisa errada com essa palavra, sabe? Ainda mais assim, tão perto de você.
Louis se aproximou lentamente, me pressionando contra a parede do estábulo. Enlacei seu pescoço, sorrindo com sua insinuação.
Seus lábios tomaram os meus enquanto sua mão apertou firmemente minha cintura.
- Você sabe que algum parente seu pode aparecer aqui, não sabe? - eu o provoquei, enquanto tirava sua blusa de dentro de sua calça e pude sentir o calor de sua pele sob a minha mão. 
Ele soltou um suspiro pesado, me pressionando ainda mais. Suas mãos desceram até minha pernas, levantando minha saia e ele me surpreendeu me puxando pro seu colo, enquanto eu entrelacei minhas pernas em sua cintura. Adorava quando ficávamos assim, pois eu ficava praticamente da sua altura. Podia olhar ainda mais de perto em seus olhos verdes que eu tanto amo.
Louis me beijava e eu sentia minha nuca se arrepiando. Eu entrelacei meus dedos em seu cabelo. Sua barba por fazer roçava minha pele que iria facilmente denunciar o que estávamos fazendo.
Ele de repente parou. Olhou no fundo dos meus olhos por alguns segundos, calado.
- O que foi? - eu ja estava ficando constrangida com o jeito que ele me olhava.
- Eu te amo, Jesy - ele disse, enquanto apertava meu rosto com as duas mãos e depositou um beijo na minha testa. Aquilo foi extremamente terno. E inesperado.
- Eu também te amo, meu menino - achei que não ia parar de rir mais. Me sentia idiotamente feliz naquele momento. 
Ele me beijou mai uma vez, lentamente. Me ajudou a desencaixar minhas pernas e me apoiar novamente no chão. 
Dominador comia tranquilamente ao nosso lado, sem se preocupar com nossa presença. Louis me olhou divertido
- Que tal uma voltinha? - estava abraçada a sua cintura, observando Dominador.
- De jeito nenhum! Morro de medo. E nem ouse insistir.
- Eu posso? Faz tempo que não saio com ele.
A ideia de Louis cavalgando aquele cavalo maravilhoso me pareceu quase pecaminosa. Era óbvio que ele poderia andar quantas horas quisesse. 
- Claro. E eu fico paradinha, assistindo o show... a distância,  só babando. Que tal? - fiquei a sua frente, abraçando mais forte sua cintura e sorrindo para ele. Seu sorriso se ampliou.
- Eu tenho o lugar perfeito pra você ficar então.
Ele se virou, me puxando pela mão, e nos guiou até um morro, que tinha uma enorme pedra  de onde eu poderia enxergar a longas distâncias.
Eu lhe dei um beijo rápido e me sentei la admirando toda aquela paisagem à minha frente, enquanto aguardava ele aparecer em cima do Dominador. Montanhas, incontáveis tons de verde, céu azul. O sol não estava queimando e havia uma deliciosa brisa gelada soprando. Eu estava me sentindo feliz. Completamente feliz.
Quando menos esperava, Louis surgiu com a camisa aberta até a metade e um chapéu,  enquanto Dominador percorria todo o terreno como se conhecesse cada centímetro. Era claro que um se sentia seguro na companhia do outro, havia cumplicidade e era realmente lindo de se ver. A crina de Dominador brilhava na claridade e eu podia ver sua musculatura forte enquanto eles corriam por todo lado. Louis estava em seu elemento, a vontade, concentrado. Podia ver suas bochechas vermelhas quando ele passava mais perto e olhava sorrindo em minha direção. Por um momento o mundo parou e ali era o unico lugar onde eu queria estar. Ao lado dele. Com ele. Dele.
Cada pedaço meu pertencia à Louis e jamais imaginei que pudesse ser tão feliz.
Não pensava em mais nada, a não ser que eu queria vê-lo andando à cavalo quantas vezes mais eu pudesse. Que eu jamais me cansaria daquilo.
Quando Louis fazia alguma manobra mais elaborada eu batia palmas e gritava como se estivéssemos em uma competição e eu fosse a torcida. Nem me dei conta que o tempo havia passado tão rápido. Só percebi quando vi Davi se sentar ao meu lado.
- A mãe ta dizendo pra vocês irem tomar café.
Tomar café? Eu havia acabado de almoçar. Não havia?
- Mas eu acabei de almoçar.  Que horas são agora, Davi?
Ele riu.
- São quase cinco. Almoçamos ha quase 4 horas .
Me surpreendi. Ficamos todo esse tempo percorrendo os arredores ou eu me perdi vendo Louis com Dominador? Nem mesmo percebi que estava com fome. Só quando Davi me mostrou que ja estava na hora do café que senti uma pontada de fome.
Quando Davi se sentou ao meu lado, Louis foi em direção ao estábulo.  Imaginei que foi guardar Dominador e estava certa. Logo o vi vindo a pé em nossa direção. Ele suava e tinha as bochechas tão vermelhas que  eu rapidamente me levantei e as beijei. Depois segurei Louis e aproximei nossos rostos
- Você estava maravilhoso,  meu amor. Pode repetir isso quantas vezes quiser. O beijei rapidamente e seguimos com Davi até em casa.

Após o café,  antes de irmos embora  Louis disse que tinha uma surpresa pra mim.

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Dessa vez é pra valer: Resplandecente está perto de acabar. A autora não consegue mais se inspirar em fazer dessa uma história longa, linda e feliz como havia idealizado.
E mais um aviso: o final pode surpreender alguns leitores, mas alguns demônios precisam ser exorcizados.

Obrigada pelas leituras ♥

Resplandecente - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora