Capitulo XXIX

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O ar fresco nas proximidades do restaurante me fez mesmo bem,parecia que todo aquele peso que eu estava sentindo tinha se esvaido quando nós cruzamos a porta para a rua. A sorveteria ficava próxima ao restaurante,então Otávio deixou o carro no estacionamento e nós seguimos a pé.
-Aconteceu alguma coisa no restaurante? Foi algo que eu fiz ou que eu disse?
-Não! -"Deus ele era adoravel"- Eu só me senti um pouco mal.
-Você estava mesmo um pouco pálida. Foi a comida?
-Não, acho que foi o calor.-menti,eu jamais diria a ele qual foi a causa do meu mal-estar. -Mas,eu estou bem agora. E a Sofia?
-Ficou com a avó, ela apareceu para uma visita surpresa.
-Sua mãe?
-Antes fosse. A jararaca da minha sogra.-não pude conter o riso- Você sempre rindo de mim,desde a escola.
-O que eu posso fazer? Você sempre foi um palhaço.
-Palhaço,eu?-ele fingiu-se ofendido- Eu nunca fui capaz de contar uma piada direito.
Aquilo era verdade,Otávio nunca teve a capacidade de contar uma piada sem estraga-la, mas ele era engraçado por natureza e podia fazer uma pessoa rir contando o andamento de um velório e no que dizia respeito a mim,ele sempre me arrancou grandes gargalhadas por mais que as coisas estivessem difíceis.
-Você sempre foi engraçado.
-Pois é, o que eu posso dizer,na escola você tem duas opções, ou você é bonito e popular,ou você é inteligente e engraçado, eu escolhi a segunda opção .
-Eu era inteligente e não era engraçada.
- Você estava na categoria dos nerds,eu não posso te culpar.
Chegamos a sorveteria e ele pediu um sorvete de coco pra ele e um de napolitano pra mim. Era engraçado como depois de tanto tempo ele ainda se lembrava qual era o meu sorvete favorito
-Que gafe a minha. Você ainda gosta de sorvete napolitano não é?
-Adoro- respondi expondo um largo sorriso,eu tinha meu melhor amigo de volta e estava mega feliz com isso.

Gabriel
Desde a cena com Isabela na porta do banheiro, Norma estava estranhamente monossilábica. Voltamos para casa num silêncio infernal dentro do carro até chegarmos em casa e ela explodir.
-Você vai ou não me dizer qual a sua relação com aquela mulher?
-Já disse,Norminha...
-Não me chame assim-ela interrompeu-me em meio a gritos- Não subestime a minha inteligência Gabriel,eu não vou engolir essa de colega de consultório. Vocês pareciam íntimos demais. Quem é ela,Gabriel? Sua amante?
-Pelo amor de Deus,Norma! Ataque de pelanca a essa hora da noite? Eu já lhe dei motivos pra desconfiar de mim?
-Você esta diferente,Gabriel! Eu não reconheço mais o homem com quem me casei.
-Peça o divórcio- berrei impaciente e pude ver o cinzeiro de vidro que tínhamos sobre a mesinha de centro,passar rente ao meu rosto e se estilhaçar na parede.
-Você é um cretino
Ela continuava atirando as coisas que encontrava ao seu alcance contra a parede. Decidi deixa-la sozinha extravasando a sua raiva em pequenos objetos vitreos e cerâmicos. Fui para o nosso quarto,somente para apanhar meu pijama e cobertores e fui dormir no quarto de hóspedes. Obviamente tranquei a porta,afinal não se deve esperar nada bom de uma mulher enfurecida.
Acordei pela manhã ,agradecendo a Deus por Norma ainda dormir. Aprontei-me e segui rumo a empresa. Quando cheguei em casa a noite,ela parecia bem mais ponderada e eu lhe trouxe flores,não tocamos mais no assunto: Isabela,mas eu sabia que ele não estava morto,apenas adormecido para uma discussão mais "acalorada". Eu conhecia minha esposa o suficiente pra saber que aquilo não terminaria ali. Que Norma utilizaria de artimanhas que só ela conhecia para desvendar aquele "mistério".

O resto da semana,decorreu normalmente,sem que Norma mencionasse o incidente do restaurante e com minhas inúmeras tentativas de demovê-la a se mudar comigo. Para qualquer homem na minha situação, mudar-se para outra cidade sem a esposa seria considerado um sonho,mas eu estava tão acostumado a companhia de Norma,que aquela situação de morar sozinho era agonizante.
Deitei-me na minha cama naquela sexta-feira,sabendo que seria a última vez por pelo menos seis meses,que seria o período mínimo da minha permanência em Vila Verde. Transei com Norma de um jeito até gostoso para os padrões de Dona Frígida (apelidinho carinhoso que dei a minha esposa). Conseguindo a façanha de colocá-la de quatro e até arrancar-lhe alguns gemidos. O que era raro.
Pela manhã já estava de partida para Vila Verde e Norma não me acompanhou sequer para ajudar com a arrumação da casa nova. Aquela situação não a agradava eu sabia,mas o que custava um pouco de cooperação?
Pra minha sorte os vizinhos foram de grande ajuda,principalmente duas irmãs baixinhas que moravam na casa em frente,Isadora e Isabel,que estranhamente me lembravam Isabela até mesmo nos nomes. Aquela mulher estava se tornando uma obsessão pra mim!

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora