Capítulo LXX

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Gabriel

Eu não sei ao certo o que eu estava planejando com aquilo,eu não tinha a menor pretensão de ser pai. Eu detestava crianças!
Talvez eu devesse ter deixado Isabela em paz com o seu marido e filho e tocar pra frente, esquecer aquela mulher! Mas,eu simplesmente não podia engolir aquele casamento e a ideia de família feliz de comercial de margarina que os dois davam.
Isabela era minha! Eu fui seu primeiro homem e não podia aceitar que ela me esquecesse assim tão fácil. Alias,que mulher esquece assim tão fácil o primeiro grande amor dia sua vida? Ela não conseguia notar que só se casara pra fugir do que sente por mim? Mas por que fugir se eu estou aqui pra ela?

Adentrei minha casa e fui direto para o banheiro,lavei o rosto que estava em brasa e consultei minha imagem no espelho. Eu estava horrível!
Havia um inchaço abaixo de meu olho esquerdo e no canto direito da minha boca,sem contar que ardia muito quando eu tocava.
O desgraçado do doutorzinho batia bem. Mas isso não ficaria assim.
Eu já conseguia visualizar a cara do infeliz, depois de Isabela dizer-lhe que o seu tão gabado filho,na verdade pode ser de outro homem. Será que o amor do doutorzinho por Isabela é maior do que o seu orgulho?
Eu sabia que a qualquer momento a minha farsa cairia por terra com um simples exame de DNA,mas o que eu queria mesmo era plantar a discórdia entre o casal e separá-los, e que casamento resiste à duvida sobre a paternidade de um filho?

Otávio

Eu não sabia o que Bela tinha pra me dizer,mas eu sabia que não era bom.
Eu me perguntava que assunto importante era aquele que Gabriel tinha tratado com ela,para deixá-la tão diferente,inquieta,triste.
Eu dirigia,observando as nuances do seu rosto,o modo como ela dava um suspiro atrás do outro.
-Está se sentindo bem?-tentei quebrar aquele gelo
-Estou!-ela exibiu um sorriso pouco convincente.
Respirei fundo pensando no que dizer.
-Bela,eu te amo.
Vi lágrimas se formarem em seus olhos e ela voltar o rosto na direção contrária a mim

-Meu amor, o que aconteceu naquela clínica hoje que te deixou desse jeito? O que aquele homem te disse que te deixou nesse estado?
-Otávio...ela soluçou... Falamos disso em casa?
-Você não me quer mais,Bela?- as lágrimas já brotavam em meus olhos,só de pensar nessa possibilidade.
-Otávio, eu...te amo.
Deixei o volante e apertei uma das suas mãos. Ela estava fria!

Chegamos em casa e por sorte Sofia não estava,Nestor havia passado para buscá-la pra ir a uma pizzaria. Me senti até aliviado quando ele me ligou as três da tarde,pedindo para sair com a pequena.
Maria já tinha ido embora e a casa agora era toda nossa!
Eu estava com medo.
-Você quer jantar antes de conversar? -perguntei na tentativa de protelar aquele assunto para mais tarde.
-Não,nós precisamos falar agora antes que eu perca a coragem.
-Tá- tomei-a pela mão e sentamo-nos no sofá. -Então?
-Isso é tão difícil! Otávio eu preciso que você saiba que eu nunca te trai. Desde que nós estamos juntos, eu só tenho olhos pra você. Mas,meu amor,nós devíamos ter esperado mais pra nos casarmos...
-Bela...-eu a interrompi- eu quis me casar com você tão rápido, porque eu nunca tive dúvidas dos meus sentimentos por você. Eu sei que eu quero passar o resto dos meus dias ao seu lado e...
-Escuta,Otávio! Pelo amor de Deus me escuta. Uma semana antes de nós começarmos a namorar eu estive com o Gabriel,nós não ficávamos juntos a meses,mas eu tive uma recaída.
-E daí, Bela? O que isso importa?
-Importa muito,Otávio! Por que existe uma chance desse filho que eu estou esperando ser dele...-soltei sua mão no momento em que eu recebi aquela informação- Você mesmo disse que o bebe podia ter entre três e cinco semanas quando descobrimos a gravidez.
Levantei irritado,passando a mão nos cabelos.
-Era só uma estimativa- eu quase gritei -Porra,que merda!
Eu não conseguia mais pensar de maneira racional e também não conseguia olhar pra ela, eu estava chorando e não fazia a menor questão de esconder. Caminhei até o balcão onde eu havia deixado as chaves do carro a poucos minutos,apanhei-as e sai de casa sem olhar pra ela. Naquele momento eu não cconseguia sequer respirar o mesmo ar que Isabela,ficar com ela no mesmo ambiente então estava fora de questão.

Isabela

Eu passei o resto da tarde,com aquele peso nas costas e aquele embrulho na garganta.
A cada vez que eu olhava pra ele eu sentia um aperto no peito. Ele entrava e saia do consultório, atendendo as clientes e quando nossos olhares se cruzavam eu só conseguia pensar que estava prestes a perdê-lo.
Eu até cogitei não falar nada,guardar aquele segredo comigo ,por pelo menos mais alguns dias,mas eu não podia.
Eu não ficaria em paz com a minha consciência, eu não poderia sequer olhar pra ele sem sentir repulsa por mim mesma.
No caminho para a casa,eu notava o quanto ele estava nervoso,apertando o volante como se esse pudesse escapar a qualquer momento. Eu não aguentava mais aquela ansiedade,e quando chegamos derrame tudo o que estava entalado dentro de mim. Mas a reação dele foi a pior que eu poderia esperar. Eu preferia que ele tivesse me batido,mas não! Otávio jamais ergueria as mãos para uma mulher. Mas,eu realmente preferiria que ele esbofeteasse a minha cara,a ter soltado alguns palavrões e saído daquele jeito.
Deixei que as lágrimas rolassem soltas pelo meu rosto,que lavassem toda a minha mágoa. E quando enfim eu não tinha mais o que chorar fui para o quarto fazer a única coisa digna que me cabia: as minhas malas.

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora