continuação do capitulo anterior.

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-Não podemos deixar essa caminhada pra amanhã?-eu só queria cama.
-Me desculpa,mas não!-Douglas interviu- A trilha precisa ser agendada com antecedência no Ibama e Tamar.
-Sério?
-Pois é, a vigilância ambiental aqui é intensa,há um limite no número de pessoas,tudo muito bem organizado e esquematizado.
-Vamos a caminhada,então?
-Vocês andaram brincando a noite toda e estão cansados, né?!-eu fiquei ruborizada e Otávio riu- Relaxa é uma trilha de só 1,5 km.
-Vamos a caminhada, então!- eu disse determinada.

No fim das contas,valeu muito a pena fazer aquela trilha. A paisagem era algo singular,uma mata não muito densa,mirantes altos e outros não tão altos assim,onde se formavam piscinas naturais,que me convidavam a um banho,mas nós iríamos parar em um ponto específico. Então a minha sede de mar teria que esperar um pouco mais.
O sol não estava tão alto e batia uma brisa marítima deliciosa.
-Esta bem,amor?- Otávio cuidava de mim como se eu fosse criança e aquilo me divertia e cativava ao mesmo tempo.
-Sim,estou ótima.
Paramos depois de completar a trilha e fomos nos acomodando,haviam mais dois casais e uma criança que logo se aproximou de mim.
Iasmim era seu nome,tinha oito anos e era a segunda vez em Noronha.
Eu achava engraçado como as crianças gostavam de mim!
A pequena ficou um tempo conversando comigo depois foi se juntar aos pais.
-As crianças gostam de você! -Otávio aproximou-se trazendo uma garrafa e uma maçã. -Quer um lanche?
-Quero!
-Douglas trouxe bastante frutas,sucos e águas.
-Tem pera?
-Sim!- ele foi até Douglas e voltou alguns instantes depois com duas peras e sentou-se ao meu lado na canga que eu havia estendido no chão.
-Não vai tirar essa roupa e tomar um banho de mar?
-Não tenho coragem de exibir esse biquíni.
-Por que?
-Simplesmente não tenho.
-E se eu implorar?
-Não implore.
-Por favor.
-Não!
-Por favor.
-Vou para o mar de legging.
-Você vai se sentir incomodada e vai ficar assada também. Deixa de birra,você tem uma bela bunda,sabia?
-E por isso eu deveria exibi-la?
-Sim.
-Não
-Por favor.
A insistência foi tamanha que eu levantei e tirei a roupa, ficando naquelas peças minúsculas,ele tomou-me pela mão e fomos para uma piscina natural,entre dois mirantes.
Douglas estava nadando um pouco mais distante e pelas roupas de mergulho,ele ia submergir.
-Você não vai mergulhar- indaguei.
-Não! A menos que você queira.
-Prefiro ficar aqui com você. Ele vai nadar com tubarões?
-Vai. Pode até parecer,mas não é perigoso.
-Eu prefiro não correr o risco.
-Eu imaginei.
Otávio beijou-me.
Nadamos por mais algum tempo depois fomos para a areia.
Otávio deitou ao meu lado com uma expressão um tanto séria.
-O que foi,Otávio?
-Eu estava pensando em nós. Eu quero te pedir uma coisa,mas antes eu preciso que você me diga.
-O que?
-Afinal de contas porque você se afastou de mim?
Eu realmente não queria falar naquilo,ele iria se zangar e talvez se afastar de mim,mas ele tinha uma urgência no olhar,que eu senti que não podia mais adiar aquele assunto.
Suspirei e soltei toda a verdade.
-Por que eu não suportei ver que todo mundo estava tocando a própria vida e eu não. Eu me senti diminuída e eu tive raiva porque você estava perseguindo o seu sonho e eu me resignei à vontade da minha mãe- dei um longo suspiro depois de derramar aquilo tudo e o modo como ele me olhou,me dilacerou por dentro,ele me olhava calado como se estivesse digerindo minhas palavras e pensando no que dizer.- Otávio,eu...
-Você teve raiva porque eu vivi a minha vida e você foi covarde demais pra enfrentar sua mãe? Que culpa eu tive,Bela?-ele estava quase gritando e as pessoas começavam a nos encarar- Eu passei um ano inteiro tentando falar com você,eu perguntava a mim mesmo, Que diabos eu tinha feito que te deixou com tanto ódio de mim? E agora eu descubro que foi puro egoísmo seu.
Eu observava a sua indignação,calada! Eu queria dizer algo que me redimisse,mas não havia o que dizer,ele estava certo.
Ele afastou os cabelos do rosto e pescoço e levantou-se, estava vermelho. Eu fui atrás dele,mas ele voltou-se bruscamente pra mim.
-Fique longe de mim! -ele berrou e seguiu andando pra um ponto distante de mim.

O clima estava pesado entre nós na volta,Otávio caminhava a nossa frente e Douglas me encarava inquisitivo, juntei-me a Iasmim e seus pais,até o fim da trilha.
No carro a caminho de volta pra pousada foi ainda pior,Otávio estava mudo,Douglas tentou conversar sobre a trilha e contar algumas piadas mas,como nem eu,nem Otávio prestavamos atenção a nada,ele também calou-se.
Chegamos a pousada e eu fui direto para a cabana,Otávio ficou na recepção com o amigo,talvez fosse bom para ele falar com o amigo.
Tomei banho e fui para a cama,deixei as lágrimas rolarem.

Otávio

Eu estava irritado,frustrado ,decepcionado e não sei mais!
Eu tinha ficado com um bolo na garganta depois do que ela me disse na praia e eu sequer conseguia encará-la.
Tomei algumas doses de uísque com Douglas no bar do restaurante,enquanto despejava em cima dele tudo o que estava me afligindo .

-Você não acha que está dando importância demais a isso,cara?
-Eu não devia me importar,Douglas?
-Eu não quis dizer isso mas,é que tudo isso foi a mais de dez anos,talvez ela até quis se reaproximar e não soube como.
-Você viu o quanto eu sofri naquela época.
-E vai ficar revivendo esse sofrimento agora? Você mesmo me disse que ela é depressiva. Você sabe o quanto pessoas assim se menosprezam,ou já esqueceu as aulas de psicologia da faculdade?
Eu engoli em seco,eu queria entendê-la mas aquilo doía.
-Eu nunca a menosprezei.
-Você não,mas pelo que você me contou ela se sentia diminuida e acho que ainda deve se sentir agora.
-Talvez!
-Talvez
porra nenhuma!Uma coisa é fato,se você não deixar o passado no passado,a tua relação que tá só começando vai acabar aqui.
-Você tá certo!
-Então,caralho! Vai naquela cabana e conversa com a tua mulher,resolve tudo hoje,fala tudo hoje e amanhã o relacionamento de vocês esta salvo. Beleza?
-Beleza!-sequei o meu copo e fui seguir os conselhos do meu amigo.

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora