Capítulo XXXIX

2.2K 253 36
                                    

Isabela

Eu vacilei ao descer daquele carro,aquelas malas eram minhas,mas o que significava aquilo? Aproximei-me,medindo os passos e notei que ela tinha algo em mãos.
-Desde quando você perdeu sua honra?-eram meus anticoncepcionais. -E não me venha com histórias e desculpas,eu vi suas conversas no computador. Você é uma libertina que se entregou a um homem que conheceu pela internet. Eu bem notei que você estava muito estranha!- Isabel estava pousada ao seu lado,apoiando cada palavra que ela dizia e Dora parecia querer interceder mas,tinha medo.-Não há mais espaço nessa casa para uma desvirtuada como você.
As palavras dela me atingiam,não porque eu me sentisse culpada,mas porque minha própria mãe era uma mulher inflexível que iria me colocar na rua,só porque eu não era mais virgem. Eu podia ter discutido,ter batido pé que não ia a lugar nenhum ,já que meu pai tinha deixado aquela casa pra mim e pras minhas irmãs. No entanto, eu estava tão cansada daquelas brigas que não disse uma palavra. Há quem diga que,"Quem cala,consente." Mas,muitas vezes o silêncio é a melhor forma de protesto.
Recolhi minhas malas e voltei as costas pra ela,mas fui atingida na cabeça por um sapato,voltei-me em sua direção e ela me encarava fria.
-Eu ainda não terminei com você.
-Ah! Terminou sim.-eu estava exausta e um bolo se formava na minha garganta,mas eu contive as lágrimas, eu nao ia chorar antes de derramar tudo o que estava engasgado dentro de mim- Acho que agora é minha vez de falar. Você é uma pessoa triste,mamãe! Digna de pena! Ninguém gosta de você, as pessoas te suportam por necessidade,você é má, amarga,uma mulher triste que só se sente feliz,quando esta atormentando as pessoas a sua volta. Você é uma mulher fria,sem sentimentos- ela ergueu a mão para me dar um tapa no rosto,mas eu agarrei-lhe a mão,apertando seu pulso- Está surpresa por eu dizer que não gosto de você. Pois é a verdade,mamãe. Eu não gosto de você! Eu me repreendi muito por isso,mas eu simplesmente não gosto de você, é impossível, eu não consigo. Você só me desperta sentimentos ruins,Dona Sílvia. Você é uma especie de sanguessuga que absorve tudo o que as pessoas a sua volta tem de bom- soltei-a e quando percebi eu ja esta aos berros- Você esta me pondo pra fora,Ótimo! Eu não vou precisar mais olhar na sua cara! Eu transei,mamãe! Foi fantástico! Eu gostei ,e não me sinto mais presa as suas falsas convenções. Adeus!
Ela estava chorando mas,aquilo não me comoveu. Eu não acreditava em mais nada de bom vindo dela. Eu não pensei em metade das coisas que eu disse,eu sabia que tinha exagerado mas,eu estava de alma lavada.
Eu não percebi que Otávio não tinha ido embora,e me senti desconfortável quando confrontei aquele olhar de surpresa, ele aproximou-se e tomou a mala das minhas mãos.
Isabel tentava confortar minha mãe e Isadora aproximou-se de mim.
-Você vai ficar bem?
-Vou,desculpa essa cena!- eu não conseguia mais conter as lágrimas- Eu segurei tudo isso tempo demais.
-Eu sei. Pra onde você vai?
Eu nao tinha noção de qual seria meu próximo passo. Será que eu acharia vaga num hotel?
-Ela vai pra minha casa- Otávio respondeu pondo a mão sobre meu ombro esquerdo,pensei em protestar ,mas que alternativa eu tinha?- Até as coisas se resolverem,pelo menos- ele pareceu ler meus pensamentos- Ela vai ficar bem.
Acompanhei Otávio até o carro, calada! Estava digerindo aqueles acontecimentos e torcendo para que Otávio não dissesse nada,mas ele também manteve-se calado,até um dado momento.
-Quer ouvir uma música?
-Não- respondi com a voz embargada
-Quer um sorvete?
Estranhei aquilo.
-Você acha que sorvete resolve tudo?-fui ríspida.
-Na verdade, você achava isso.
Me arrependi de ter sido tão amarga e rimos juntos.
-Eu só quero uma cama. Tudo bem?
-Claro.
Seguimos o resto da viagem calados e quando chegamos a sua casa, Sofia veio correndo ao meu encontro e me abraçou forte,coloquei-a no colo e beijei seu rosto. Aquele carinho infantil,estava me deixando ainda mais emotiva e quando percebi novamente,eu estava chorando.
-Você esta triste?-ela perguntou.
-Um pouco- respondi afagando seus longos cabelos.
-Você vai ficar bem,tia Bela.
Estranhei ela me chamar de Bela,mas deve ter sido influência do pai.
-Quer um chá?-pensei em negar, mas ela foi tão doce ao oferecer,que não havia como dizer não, coloquei-a no chão e ela tomou o pai pela mão- Vamos fazer um chá de erva-doce pra ela, pai.
Sentei-me no espaçoso sofá da sala e aguardei-os voltar.
Otávio trazia uma bandeja com um bule e três xicaras,depositou-a na mesinha de centro e serviu a nós três.
-Não tinha erva-doce, então fizemos de capim-santo.
-Tudo bem!-concordei e voltei-me para Sofia- você gosta de chá? -ela abanou a cabeça que sim.-Difícil uma criança gostar de chá.
-Eu sou uma garota requintada.
Eu ri do comentário
-E você sabe o que é isso?
-Não! -ela respondeu depois de pensar um pouco- Mas a vovó disse que eu sou, quando me viu tomando chá.
-Entendi.
Otávio deu de ombros e tomou o seu chá.
Algum tempo depois ele levou Sofia que dormia no sofá, para o quarto.
-Chá sempre causa esse efeito nela. Ela toma uma xícara e dorme.
-Ela é bem tranquila né?
-É sim. Ela não me da trabalho nenhum.
-Percebe-se.
-Quer comer algo?
-Não. Eu queria conversar um pouco com você,sobre a cena que você viu.
-Você não precisa me dizer nada.
-Minha mãe descarregou aquelas coisas,e você presenciou aquela cena horrível.
-Danadinha você,hem?! Arranjou um romance na net? -ele tentava descontrair.
-Foi um erro!-eu decidi me abrir com ele- mas,eu estava tão desesperada pra sair daquela rotina ,que eu nem pensei em nada. Eu só vivi.
Ele sentou-se a minha frente e acrescentou.
-Você se apaixonou?
-A princípio eu achei que sim,mas agora eu acho que eu só pensei isso, porque ele foi o meu primeiro homem. Eu me sentia tão patética sendo virgem aos trinta anos.
-Por que não me disse isso? Nós podíamos ter resolvido o seu problema. -Eu ri e ele acrescentou- Viu?Agente tem que encarar a vida com humor, senão ela nos atropela. E eu adoro esse sorriso no seu rosto-de repente as lágrimas começaram a brotar e ele me puxou para repousar a cabeça em seu colo- Chora o que você tiver de chorar e amanhã agente encontra uma solução pra os problemas! 

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora