Capitulo XXX

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Isabela

Desde que jantamos juntos,a minha relação com Otávio tinha voltado a ser intima como antes,éramos novamente verdadeiros amigos. Naquela manhã de sábado marcamos uma praia e eu estava me aprontando para sair quando Isadora adentrou o quarto me assustando.
-Você já viu o vizinho novo?-Isadora era a minha irmã caçula e ao contrário de Isabel,mantínhamos uma relação amistosa,já que ela nunca tomava partido a favor da nossa mãe contra mim.-Ele é até bonito,só é muito magro.
-E você prefere homens mais fortes,né? -brinquei e ela ficou vermelha
-Ai,ai se mamãe te escuta.-sorri em resposta- Onde você vai?
-A praia. Quer vir?
-Não,tenho trabalho da faculdade pra fazer.
-Certo.-sempre que minha irmã mencionava a faculdade eu me sentia desconfortável,já que enquanto eu fui terminantemente proibida de fazer a minha, Isadora sequer enfrentou oposição, eu pensava que talvez eu devesse fazer o mesmo,não importando se minha mãe iria gostar ou não- Se quiser posso te ajudar.
-Sei que você é realmente boa com cálculos,mas eu duvido muito que desenho geométrico seja a sua.
-Ei,garota! Eu te ajudei com os polinomios não foi?
-Mas dessa vez não envolve polinomios, envolve geometria.
-Como é que você pode gostar de engenharia civil?
-Me pergunto a mesma coisa sobre essa sua fixação por administração. Mamãe que não me escute...-ela olhava pros lados enquanto dizia isso.-mas,eu adoro ser a única menina da minha turma.
-Entendo! Eu vou aproveitar o sol. Bons estudos pra você.
-Quero só ver quando vai ser você perdendo os fins de semana pra estudar. Tá ficando velhinha,hein?!
-Você acha que vai ter vinte aninhos pro resto da vida é bebé?
-Não,mas aos trinta pretendo ter meu próprio escritório de engenharia.
-Tá. - encerrei o assunto,aquilo já estava me incomodando muito,então sai do quarto,deixando Isadora deitada na minha cama.

Eu realmente não me habituava a ver Otávio tão bonito,me causava até um certo desconforto. Dessa vez ele não foi me buscar em casa,marcamos num quiosque a beira-mar onde ele me esperava com Sofia, trajava camiseta branca,bermuda,óculos de sol e boné, eu nunca tinha reparado o quanto os braços eram fortes e as pernas grossas. Ele não era mesmo mais aquele garoto magrelo que eu conheci com dezessete anos,atrasado dois anos na escola,que ralhava com os garotos que me provocavam. Ali estava um homem atraente de 32 anos de idade,que atraia o olhar das mulheres que passavam por ele.
-Demorei?-perguntei aproximando-me deles na mesa- Desculpinha foi o trânsito até aqui, demora do ónibus, essas coisinhas.
-Por isso eu queria ir te buscar.
Abracei forte Sofia que veio até mim,pondo-a no colo,aos cinco anos ela tinha quase a minha altura,os mesmos olhos do pai,mas os cabelos mais negros e lisos que eu já tinha visto.
-Eu pensei que você não vinha,tia Isa.
-Eu não te deixaria esperando.
-Vamos tomar um banho de mar?
-Posso tomar uma água de coco antes?
-Deixa que o pai te leva,filha!
-Não- a negativa dela foi rápida e nós rimos- Eu espero tia.
Tomei aquela água de coco o mais rápido possível,tirei meu vestido e Otávio deu um assobio
-Para uma mulher tão pequena você tem um corpo lindo.- ele brincou,e eu ruborizei-Acho que vou entrar nesse mar.
-Vamos- ignorei o primeiro comentário e puxei-o pela mão,logo Sofia entrou na brincadeira e conseguimos arrastar Otávio da cadeira e esperamos enquanto ele tirava a roupa, ficando apenas de sunga, uma visão que me deixou um tanto desconcertada,já que ele tinha um corpo bem definido que não passaria sem ser notado e o peito cabeludo,algo que eu achava incrivelmente charmoso. Acho que ele percebeu o meu olhar um tanto "curioso", já que comentou.
-Tô gostoso,não tô?!
-Você é sempre tão convencido? Não costumava ser.
-Ei,eu também não costumava ser tão bonito.
-Meu pai é um gato!-Sofia concordou- Mas tá encalhado!
Eu ri muito, já Otávio nem tanto e quando notamos ele estava tirando as Sofia do chão e jogando-a no mar. Tentei correr pois já previa o próximo passo,mas fui agarrada pela cintura,jogada sobre seus braços e em seguida na água.  Me senti criança de novo,mas tinha algo de diferente no modo como eu estava vendo Otávio, eu só não sabia o que era.

Aquele estava sendo de longe o melhor dia desde os últimos que eu estava tendo. Eu me sentia leve e feliz,brincava com Sofia como se eu tivesse a mesma idade que ela e Otávio embarcou na brincadeira do mesmo modo que nós. No fim da tarde aceitei a carona de Otávio para casa e adormeci no banco do carona,acordei com ele me balançando de leve,para que eu acordasse.
-Já chegamos, Bela!
-Bela? Você não me chamava assim desde o ensino médio.
-Verdade! Tava com pena de te acordar.
Olhei para o banco de trás e Sofia também dormia.
-Ela também se cansou né? -aproximei-me de Otávio dando-lhe um beijo no rosto- Obrigada pelo dia e pela carona.
-Por nada! Até segunda-feira!
-Até! -desci do carro caminhando rumo a minha casa,Isabel esperava sentada na varanda me olhou com uma cara muita estranha e eu já esperava que algo sério  estava para acontecer.-Boa noite Isabel.
-Mamãe quer falar com você.
-Ela está em casa?
-Não,mas pediu pra eu te avisar que não era pra você sair.
-Claro! O cão-de-guarda da Dona Sílvia.
-Depois não diga que eu não avisei!-ela levantou-se e foi para dentro passando por mim bruscamente e me deixando com pulgas atrás da orelha do tipo: Que diabos a velha queria comigo?

Tomei um banho longo e deitei no sofá para esperar Dona Sílvia, minha irmã caçula tinha saído para encontrar uma colega da faculdade e a mais velha foi ver o noivo. Seriamos apenas eu e ela,que não demorou muito mais pra chegar.
-Queria falar comigo?-eu não queria prolongar a agonia daquele assunto misterioso- Isabel me disse que você queria conversar.
-Já disse pra me chamar de senhora.Eu não estou gostando do seu comportamento ultimamente.
-Por que? Fiz algo errado.
-Como sempre ,tudo. Agora você vive pra cima e pra baixo com esse médico e aquela sua amiga tresloucada, e essas roupas, Isabela? Francamente! O que você está pretendendo? O que você acha? Que esse doutorzinho vai casar com você? Acorde minha filha,você não tem capacidade pra chamar atenção de homem algum. O que esse homem quer de você é o que todo homem quer de uma mulher,se é que já não conseguiu.
-Chega,dona Sílvia!!!-me aborreci profundamente,aquelas palavras me feriam- Aquele doutorzinho é meu amigo, o único que não se sentiu intimidado pelo seu jeito e não se afastou de mim. Eu gosto do Otávio como um amigo e ele do mesmo modo de mim.
-Idiota! Você vai ver onde vai parar essa amizade, e não me apareça aqui com essa barriga na boca,porquê eu não vou pensar duas vezes em te botar na rua e eu não quero mais esse doutorzinho aqui. Entendeu?
Como sempre não tive a chance de me defender porque ela me deu as costas e deixou a sala batendo os pés, resignei-me a minha insignificância e fui me recolher no meu quarto e chorar minhas amarguras.

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora