Paixão sem limites

Capitulo LXIV

Otávio

As mulheres são mesmo um enigma e a minha um enigma ainda maior.
Quando eu achava que conhecia Isabela de cabo-a-rabo,ela me surgia com essa novidade.
Como médico,eu já estava acostumado as reações das mulheres diante da notícia de uma gravidez: algumas ficavam extremamente felize,outras temerosas,angustiadas,surpresas,até indignadas. Mas,raiva pra mim era novidade! E o melhor de tudo, raiva do pai,que nesse caso era eu.
E não era o tipo de raiva que as mulheres sentem de um homem quando engravidam por se sentirem abandonadas,ou sentir repulsa por eles.
Não!
Era ira mesmo,por como ela mesma disse "eu ter lhe enfiado um filho".
Eu,definitivamente,estava desistindo de entender as mulheres, especialmente a minha.
Ainda bem que eu só teria esse tipo de conflito com Sofia daqui há uns dez anos,e talvez até lá eu já tivesse aprendido.

Atendi uma cliente que veio apenas para um exame de rotina,depois aleguei estar passando mal e cancelei as últimas três consultas,oferecendo um desconto de 30% as minhas clientes pra que elas não deixassem de voltar e fui para casa,eu tinha que conversar com Bela.
Fui no carro me preparando psicologicamente para evitar uma discussão.
A partir do momento que eu descobri sua gravidez,alias a partir do momento que nos casamos,só havia duas verdades incontestáveis na nossa relação
1°- A última palavra era sempre minha. "Sim,senhora"
2°- Mesmo que eu estivesse certo,eu estava errado.
Com certeza,meu pai tão másculo me acharia um banana se me visse falando assim,mas mal sabia ele que essas verdades incontestáveis, eu havia aprendido,observando o relacionamento dele com minha mãe.
Por que com aquele jeitinho calmo e apenas 1,58 de altura,Dona Eleonor conseguia colocar meu imponente pai no chinelo.

Pra minha mais completa falta de sorte,ela não estava em casa.
O que talvez fosse bom.
Me daria tempo pra pensar,mas onde estaria ela?

Isabela

Estava deitada na cama de Ivana e ela e Anelli me encaravam como se eu fosse um extraterrestre.
-Peraí, você casou? E a tia Sílvia sabe disso?-Ivana foi a primeira a se manifestar.- Caramba,eu sempre achei que você fosse casar com o Otávio,só não achei que seria assim.
-Gente,isso parece enredo de novela mexicana.
Você conhece um cara na net,acha que se apaixonou por ele,transa com o cara,descobre que ele é casado,sua mãe te põe pra fora,o doutor Gostoso te acolhe, vocês namoram,noivam e casam na velocidade da luz e de quebra você está esperando um filho?
Achei engraçado o modo como Anelli,resumiu a minha historia. Ela era mesmo hilária!
-Só tem uma coisa que eu não estou entendendo.-Ivana fazia um ar filosófico.-Você está feliz com o Otávio?
-Nossa,muito! Otávio me estimula,me faz sentir amada,mais mulher,acredita no meu potencial,sem contar que eu sei que ele sempre vai estar presente pra mim. Eu não só amo o Otávio,eu confio incondicionalmente nele.
-Então porque você está com raiva dele?-as duas falaram ao mesmo tempo e se entreolharam rindo.
Dei de ombros,rindo também.
-De verdade,eu não sei.
-Vem cá. Você não respondeu a minha pergunta. Tia Sílvia sabe que você se casou?
-Não. E eu não estou fazendo a menor questão de contar.
-Ela é sua mãe, Bela!
-Ela não pensou nisso quando me mandou embora e eu conheço Dona Sílvia. Ela não vai me receber de braços abertos.
-Você é quem sabe.
-E esse Gabriel?-Anelli estava curiosa.- Haja coincidência, você conhece o cara e ele vira teu vizinho.
-Era meu vizinho,agora eu vivo com meu marido.
-Ele é um branquelo alto,né? -Ivana comentou
-Olha a discriminação- eu ri-Ele frequenta a clínica do Doutor Osmar,Nel.
-Tá brincando! Meu Deus,é um que tem síndrome de pânico?
-Ele mesmo,você conhece? Esquece,você é atendente da clínica,claro que você o conhece.
-É! -ela ficou séria. -mas,acho que eu conheço bem até demais.
-Como assim?-eu não entendi
-Ah,Isa! Você entendeu,quer dizer,ele é bonitinho. Agente já se pegou.
-Cafageste- foi meu único comentário,eu não estava com raiva de Anelli,só me sentia idiota por ter depositado tantas expectativas nele.
-O cara vive na boate,já ficou com uma amiga minha,inclusive.
-A Isabel ainda é noiva do Fernando?- não entendi aquela súbita mudança de assunto de Ivana.
-Que eu saiba,sim.-respondi.
-Eu não quero parecer fofoqueira, mas eu vi outro dia a Isabel saindo da casa dele de manhã, quando eu estava indo pro trabalho.
-A Isabel?-eu não estava surpresa,estava chocada!- Você tem certeza?
-Absoluta!
-Mais uma iludida!- Anelli acrescentou e eu ri,mas eu duvidava muito que minha irmã estivesse iludida.
Eu ainda iria por aquela história a limpo,mas no momento eu só queria ir pra casa,ver meu marido (como eu gostava daquelas palavras "meu marido"),pedir desculpas pelo rompante e comemorar com ele a vinda do nosso filho.
-Meninas,eu tenho que ir pra casa. Nel,você me dá uma carona?
-Claro,Flor!
-Mas,devagar por favor,eu agora sou uma mulher gestante.

Convidei Anelli para entrar quando chegamos a porta de casa,mas ela disse que me visitaria outro dia,de acordo com ela,eu precisava falar a sós com meu Doutor Gostoso,sorri e rumei para dentro de casa,Otávio estava sentado numa poltrona na varanda. Acho que já me esperava a algum tempo.

Otávio

Finalmente ela estava em casa e eu respirei aliviado.
Levantei para recebê-la me sentindo pronto para o embate para escutar calado qualquer acusação que ela me fizesse e pedir desculpas,mesmo não sabendo qual era o meu erro,mas ela me surpreendeu abraçando-me e beijando em seguida.
-Me desculpa,Amor! Eu não sei o que deu em mim.
Sentei, trazendo ela pro meu colo.
-Eu detesto ficar mal com você- sussurrei entre os seus cabelos,apertando-a contra o corpo- Sofia ficou preocupada com você e eu não sabia se você ia voltar.
-Por que eu não voltaria?
-Você estava com raiva de mim.
-Descontrole hormonal.
Eu ri.
-Onde você estava?
-Fui ver a minha prima,Ivana. Eu queria conversar.
-Eu entendo- beijei sua boca com leveza- Promete que não foge mais de mim. Eu te amo tanto!
-Prometo. Eu também te amo- ela suspirou profundamente e acrescentou- Estamos grávidos!
-Gravidissimos
Sorri e levantei com ela no colo.
Eu nunca me permitiria perdê-la.