Capitulo extra(narrado em terceira pessoa)

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Dona Sílvia caminhava pela casa,sentindo-se terrivelmente sozinha,suas duas filhas mais velhas tinham deixado a casa e a caçula parecia tão omissa a tudo.
Era orgulhosa demais para procurar Isabel e Isabela.
"Elas erraram,não eu!"-ela pensava
Tinha criado as duas dentro de preceitos religiosos rígidos, assim como os seus pais a criaram,mas elas preferiram ceder aos prazeres da carne e não havia nada que ela pudesse fazer.
O que elas pensavam?
Ela também já teve uma paixão avassaladora antes de conhecer o pai delas,mas ele não era um homem temente a Deus e seus pais fizeram o melhor e providenciaram o casamento dela com Luís Antonio,que era um homem bom!
Tivera uma vida boa com ele,não tivera?
Ela até cogitou procurar aquele homem que fora o seu primeiro amor,mas engravidou de Isabel e aquele foi o seu sinal de que não podia abrir mão da sua vida conjugal.
Isabel nasceu uma menina forte,obediente.
Depois veio Isabela.
Aquela sim veio pra causar problemas.
Veio rebelde desde a concepção.
Teimou em nascer menina. Ela já tinha uma não queria outra.
Teimou em sobreviver quando o cordão umbilical enrolou-se em seu pescoço.
Teimou em sobreviver novamente quando ela "acidentalmente" a deixou cair do berço aos três meses,e novamente aos cinco quando ela "acidentalmente" a deixou submersa por um minuto na banheira.
Ah,Isabela!
Por sua causa fôra internada numa clínica para loucos,submetida a terapias de eletrochoque e obrigada a ingerir remédios tarja preta. Pra que?
Foi diagnosticada com Depressão pós-parto.
Tolice!
Ela só não gostava da menina.
Simples assim!
Tentara se livrar dela,sim e não acreditava que isso fosse um pecado.
Desde que ela nascera,sabia que NUNCA iria amá-la .
Era impossível!
Isabela sempre foi a raiz dos seus problemas.
Sempre foi ela a contestadora, a curiosa.
Sempre cismou em chamá-la de Dona Sílvia!
Nunca escutou aquela menina chamá-la de mãe sem uma expressão de deboche.

Nunca foi capaz de amar aquela menina e curiosamente agora ela lhe fazia falta.

Foi até o quarto de Isabela( nunca entendeu porque cada uma tinha que ter um quarto individual,o falecido marido achava que elas iriam gostar de ter o próprio espaço,desperdício de dinheiro),andou um pouco pelo espaço e não encontrou nada da filha. Não havia deixado nada para se recordar. Deu de ombros e saiu,foi até o quarto de Isabel,também não havia nada para se lembrar,além da roupa de cama que ela não havia tirado.
O cheiro adocicado da filha mais velha ainda estava entranhado nos travesseiros e essa sim lhe fazia falta.
Essa sim foi a filha que ela quis.
Estranhamente! Não odiara Isadora!
Não amava a caçula como amava a mais velha.
Mas,Isadora tinha nascido pouco depois da morte do pai e isso era algo bom.
Um resquício de vida que emergia daquela auréola de fatalidade.
Teve que amar Isadora!
Ela não era uma semente do mal,uma criatura diabólica como Isabela.
Saiu do quarto de Isabel e foi até o de Isadora,onde haviam livros de engenharia dispersos por todo o ambiente.
Dona Sílvia se tomou de raiva,estava cansada daqueles atos de rebeldia.
Isabel e Isabela entregues a libertinagens e Isadora fazendo um curso para seguir uma profissão de homens.
Estava farta!
Não criou as filhas para aquilo.
Apanhou aqueles livros inúteis na estante e levou-os para o quintal.
Não estava nem aí que foram comprados com o seu dinheiro,alias isso era até uma coisa boa. Isadora não poderia se queixar depois.
Voltou ao quarto e apanhou os que restaram,passou pela cozinha e apanhou álcool e fósforos e ateou fogo nos livros.
Ficou parada,observando as chamas crescentes e em tudo o que fizera por aquelas filhas ingratas que não a valorizavam.
Sentou-se no chão e deixou as lágrimas rolarem.
Era raro que isso acontecesse,mas estava tão fadigada que só o choro faria com que desabafasse todo o peso de anos de infelicidade que pesavam nas suas costas.

Isadora chegava em casa e já do portão da entrada notou o fumaceiro no fundo do quintal,ela correu para o fundo preocupada,achando que tivesse alguma coisa a mãe, que ela tivesse causado um incêndio sem querer e estivesse ferida.
Mas,a cena que ela viu,foi de uma mulher tranquila, sentada, observando a chama que já estava fraca e muita fumaça.
-Mãe o que é isso?
-Tenho uma surpresa pra você no seu quarto.
O sorriso que ela expressou foi sinistro,quase diabólico e um calafrio percorreu a espinha de Isadora!
A moça correu até o seu quarto e ficou chocada ao ver que não tinha mais nenhum dos seus cadernos,livros e apostilas.
Ela voltou ao quintal e a mãe continuava sentada na mesma posição, com o mesmo riso sinistro nos lábios.
-Mãe, por quê?
Ela não respondeu,o sorriso se desfez e ela começou a balançar-se para frente e para trás num estado quase catatónico.
-Mãe! -ela chamou-a inúmeras vezes,mas ela não reagia.
Isadora correu para dentro de casa e ligou para a tia Sónia, que chegou a casa em poucos instantes.
Sónia tentava reanimar a irmã mas,era inútil.
Então elas fizeram a única coisa que era cabível,por mais dolorido que fosse.
Ligaram para o plano de saúde e solicitaram uma ambulância para internar Dona Sílvia em uma instituição psiquiátrica.

Paixão sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora