Acabei por não ver Lucinda, para mim já era suficiente saber que ela estava bem... Minha cabeça latejava, eram tantas as emoções que eu sequer sabia dizer o motivo.
Daniel achava que pedir desculpas depois daquelas coisas horríveis seria suficiente, mas eu não esqueço essas coisas, não de uma hora para a outra.
Eu estava no quarto pensando sobre tudo o que estava acontecendo quando ouvi um barulho na janela, me virei rapidamente e lá estava Felipe, me olhando arrependido.
- Eu sinto muito Analu, eu não achei que...
- está tudo bem, - falei - mas você deve ir em bora.
- Ir em bora? mas acabei de chegar... não podemos conversar um pouco? - ele me fitou sério - por favor...
- Felipe, eu não estou com cabeça para conversar agora, está acontecendo muitas coisas e... enfim, você tem que ir agora!
- Eu não vou sair daqui Analu, não enquanto aquele cara repugnante estiver atrás de você, eu sei que Daniel vai te proteger, mas eu provoquei isso, então se acontecer alguma coisa com você... eu não seria capaz de me perdoar, e seu namorado também não.
- duas coisas - me levantei - ele não é mais o meu namorado.
- e a segunda? - ele perguntou sorrindo.
- sei me cuidar sozinha...
- eu sei, mas você não precisa. - Felipe se aproximou, e agora só restava uma fina fresta de ar entre nós- eu posso proteger você...
- Felipe eu...
- shiii... - ele colocou o dedo indicador em meu lábio inferior, e sorriu maliciosamente - eu sinto muito Analu, mas não posso deixar de fazer isso.
E então me beijou, eu queria empurra-lo, queria fazer com que aquilo parasse, mas eu sabia que precisava continuar, eu precisava por que... por que precisava provar a mim mesma que podia viver sem Daniel.
Enquanto nos beijávamos, lagrimas rolavam, e flashes dos beijos mágicos com Daniel passavam por minha cabeça. Aquele era sem dúvida, um dos piores momentos de minha vida.
De repente, Felipe foi arremessado para o outro lado do quarto, abri os olhos assustada e me deparei com um vulto negro que golpeava rapidamente e continuamente, com uma velocidade totalmente unica. Eu estava pronta para gritar por ajuda, quando senti o cheiro doce de Daniel, ele estava ali, brigando com Felipe por minha causa, e por um momento uma felicidade avassaladora me atravessou.
- Daniel !!! - gritei - por favor, pare..
Ele pareceu não ter ouvido, e os golpes continuaram.
- Daniel, pare... pare com isso!
Novamente ele não ouviu, ou ignorou, Felipe estava no chão, eu precisava fazer alguma coisa...
- Daniel... - gritei ainda mais alto - Daniel por favor!!
E nada... só havia uma coisa que poderia fazê-lo parar, me joguei entre ele e Felipe, e antes que eu pudesse impedi-lo fui empurrada para o lado com uma força desumana, e tudo o que consigo me lembrar depois disso,é de ter batido a cabeça em algum lugar.
Minha visão ficou turva, tudo começou a ficar distante, e os golpes continuaram, mais e mais...
- Daniel...- disse antes que desmaiasse.
Quando acordei estava em minha cama, uma dor aguda invadiu minha cabeça, e sem conseguir me conter eu gritei.
- espera, não se mecha... - Daniel disse enquanto colocava um saco de gelo onde doía - vai passar é só... questão de tempo.
- onde está Felipe? - falei enquanto empurrava a mão de Daniel passando a eu mesma segurar o saco de gelo.
- não sei... e também não me importo, primeiro ele te leva para o único lugar em que você não deveria ir, e agora isso...
- como assim? e agora isso? - gritei e me sentei na cama, a cabeça doeu um pouco mas isso não me fez deitar novamente - Isso foi sua culpa, você me empurrou, você fez isso comigo!
- Analu, eu sinto muito, eu estava... estava sego de raiva, eu não vi que tinha te atingido até Felipe gritar... eu não sei o que houve comigo.
- eu nunca pensei que...
- Analu olha... - ele pegou minha mão e colocou em seu peito - você confia em mim?
- Eu não sei Daniel... eu deveria? depois disso?
Então ele fechou os olhos, e tudo ao meu redor desapareceu por um momento, e voltou ao momento em que ele golpeava Felipe, me vi gritando, eu estava numa espécie de lembrança, eu estava assistindo novamente a sena que havia acabado de viver. Me vi entrando entre os dois, e sendo arremessada para a parede, eu balbuciei alguma coisa e logo em seguida estava desacordada.
- Analu! - Felipe gritou.
E isso fez Daniel parar, virou o rosto o suficiente para ver por que Felipe havia gritado, e ao me ver caída no chão correu até mim, o desespero em seus olhos era evidente. Ele me colocou na cama cuidadosamente, Felipe ainda estava no chão,todo machucado.
- Você é um monstro... - ele disse - Analu jamais o perdoará.
- Saia daqui... - Daniel disse, seus olhos fitavam meu corpo desacordado.
Felipe sequer pigarreou, segundos depois só havia duas pessoas no quarto.
Então voltei para a realidade, a mão no peito de Daniel, sentindo seu forte coração, os seus lindos olhos negros me encaravam esperançosos. Então sorri, e ele pareceu se acalmar.
- Você me perdoa?
- Eu posso te perdoar por ter me acertado acidentalmente, posso te perdoar por ter batido em Felipe sem dó, mas eu não posso te perdoar por ter me dito aquelas coisas... eu não posso te perdoar por pensar aquelas coisas...
- eu não penso Analu, foi da boca pra fora...
- Já chega Daniel, eu quero ficar sozinha.
- Analu... por favor..
- vai embora, agora!
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Anjos na escuridão
FantasyA vida de Analu parece perfeita, um namorado que a ama, um trabalho de que gosta, realizando finalmente a meta de tirar sua carteira de motorista... E principalmente, os anjos e demônios em paz entre si. Mas o que ela não contava era que uma revira...