"14"

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De duas coisas eu tinha certeza, primeira: Eu amava Daniel mais do que minha própria vida, segunda: eu estava total e completamente confusa sobre o que fazer.

Naquela noite, quando Daniel foi embora, a primeira coisa em que pensei foi em como estava arrependida, e cheguei a conclusão de que não estava nervosa pelas coisas que ele havia me dito, no fundo eu sabia que tinham sido da boca pra fora, a verdade era que eu estava nervosa por eu pensar aquelas coisas, eu era mesmo a garotinha boba que ficava em perigo e esperava por ele, e sabia que sem ele eu não duraria algumas horas. E mesmo assim, mesmo diante de tantas burrices ele ainda estava ali, sempre a disposição, e sou muito grata por isso, mas não posso deixar que se torne rotina, não mais, eu precisava viver por mim, eu precisava ser independente ao menos uma vez na vida, e manda-lo em bora era a melhor maneira de fazer isso.

No dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi ir até o restaurante, e assim que passei pela porta Frank pediu que eu fosse até a pequena sala em que ele se sentava durante horas analisando os lucros e perdas de seu amado Frank Sushi's. Me sentei na cadeira já velha de seu escritório e o encarei, eu sabia do que se tratava, e estava preparada para qualquer coisa que ele dissesse, já não importava mesmo.

- Olha Analu... eu não posso deixar essas faltas passarem em branco, o que houve com você? sequer deu noticias. -Ele disse sério.

- Me desculpe Frank, não vou culpa-lo caso me demita, eu estive muito... confusa esses dias e... enfim, sei que não é desculpa e tal, mas eu não tenho motivos e não pretendo inventar nenhum.

- está dizendo que faltou sem motivo?

- estou dizendo que meus motivos podem não ser considerados por você, por que... eu no seu lugar também não os aceitaria. - o choro se formou em minha garganta, mas eu não iria chorar ali, esse não era muito o meu estilo.

- E eu devo considerar isso como uma resposta?

Eu o encarei, nenhum de nós desviou o olhar, mas Frank quebrou o silêncio.

- Ok, - ele disse quase gritando - mas eu não posso deixar isso assim, vou falar com sua mãe, e... infelizmente você não trabalha mais aqui.

Assenti, eu já esperava por isso, me levantei sem dizer mais nada e, antes de passar pela porta dei um breve sorriso, e ele não foi de todo falso.

Quando cheguei em casa depois de uma hora de enrolação pela cidade, mamãe já esperava por mim no sofá.

- Pode começar... - falei.

- Eu não vou dizer nada, eu só... sinto muito, eu acabo de perceber que sou uma péssima mãe, eu sequer me dei conta que você estava faltando ao trabalho e a escola... eu deveria ser mais presente, ser mãe. - ela me encarava séria - mas, isso não foi certo, quando você faz um compromisso você deve cumpri-lo, mesmo que não esteja afim, entendeu?

- eu sei mãe, mas...

- não tem mas, é isso e pronto... não faça compromissos que não possa cumprir, nunca! estamos entendidas?

- tudo bem.

Mamãe me encarou, o rosto numa expressão confusa, como se tentasse decidir entre dizer mais algum coisa ou não.

- Posso ir para o meu quarto agora? - perguntei.

- na verdade, eu preciso conversar com você querida...

- não pode ser outra hora?

- por favor, sente aqui comigo - ela abriu os braços me chamando para um abraço - não quero que se chateie ok?

Aceitei o abraço mas não respondi, o cheiro dela me invadiu e novamente me senti como uma criança que se perde dos pais no supermercado e depois de um tempo de desespero os encontra, como se tudo dentro de você se tornasse real de novo.

- Edward e eu vamos nos casar... - ela disse por fim.

- eu... - estava pronta para despejar minha raiva toda em cima dela quando percebi que não faria o menor sentido, eu queria que ela fosse feliz, e embora eu não gostasse de Edward, se ele a fizesse feliz para mim já era o suficiente. - eu... desejo que sejam felizes.

- nós vamos ser... - mamãe disse sorrindo e apertou os braços em torno de mim.


Ir a escola não era a mesma coisa sem Daniel, e talvez nunca viesse a ser, mas eu superaria, nada é pra sempre...

Quando cheguei ao pátio dei uma olhada geral e lá estava ele, por incrível que pareça, me encarando, não que eu não quisesse correr a beija-lo como fazíamos antes daquilo, mas eu não podia, simplesmente não podia.

Ele ergueu o dedo indicador e me chamou, de um jeito consideravelmente provocante, mas não consegui ignorar, e como se ele fosse o imã e eu o metal, fui atraída até sua frente.

- Oi... - falei, e senti minhas bochechas queimarem.

- Sabe que não vou desistir de você, não sabe? - ele perguntou, e algo dentro de mim se desfez - eu preciso estar com você, perto de você, e não poder te tocar... -ele aproximou a mão de meu rosto, perto de mais para alguns, longe de mais para mim, de qualquer forma, ele não me tocou, e aquilo foi quase uma tortura - é a pior sensação do mundo para mim.

- você não pode ficar me dizendo essas coisas...

- Vamos sair daqui, deixe eu te levar a um lugar... me deixe conversar com você, é só o que peço.

Assenti, simplesmente por que não conseguiria dizer não.

Entrei no carro dele sem dizer nenhuma palavra, e foi perfeito estar lá dentro, como se aquele fosse o nosso mundinho, um mundo em que ele não era um demônio e eu não era uma mestiça, um mundo onde podíamos ser normais, onde eu sentia que poderíamos estar juntos sem eu me sentir culpada. E de repente estávamos juntos não estando.

- Daniel... eu só quero que você seja breve. - falei por fim.

Ele havia acabado de colocar a mão na ignição para ligar o carro, mas tirou assim que as palavras saíram de minha boca.

- Ser breve... - ele disse, mais para ele do que para mim - ok.

Assenti.

- O que eu sinto por você é maior que qualquer coisa que já fui capaz de sentir. É impossível de ser explicado - ele olhava para frente, e eu soube que ele estava sendo sincero - é ter a certeza... enxergar a razão disto tudo... O motivo de estar vivo, eu passei a vida me perguntando o por que de ter sido criado, e agora sei, eu posso não ser perfeito, mas eu fui feito pra você, por você... e eu sei que é pra sempre, simplesmente é pra minha vida toda... e a palavra amor nunca fez tanto sentido como está fazendo agora.

- Isso não é justo. - falei - você sabe disso...

- Analu, é como se você fosse minhas asas, e de alguma forma eu já me sinto uma pessoa boa só por saber o que é o amor, e eu só sei o que é o amor por você, por causa de você... - dessa vez ele me encarava - eu te amo... e sou muito sortudo por ama-la.

- Eu...

- não diz nada, - ele me interrompeu - só... vamos ficar aqui.

Meu coração gritava uma coisa, minha cabeça sussurrava outra, eu também o amava, e diria isso a ele? seria o certo?

talvez eu devesse correr dali e talvez eu devesse beija-lo.

- Daniel... - falei e toquei sua mão.

- Analu...

Então, mesmo que minha cabeça gritasse e berrasse que eu estava fazendo a coisa errada, não me importei, passei para o banco do motorista, ficando agora no colo de Daniel, ele me olhava confuso mas havia algo no fundo de seus negros olhos que dizia: continue.

- Eu te amo. - ele disse.

- E eu a você - completei.

E então nos beijamos.



Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora