Esperei por John totalmente aflita, tinha medo de que acontecesse novamente... Na verdade eu tinha medo de tantas coisas, que ia acabar pirando.
Não sai do quarto até que a campainha tocasse, John era educado de mais para usar a janela. E por um momento jurei para mim mesma que nunca mais reclamaria disso, afinal, a porta já havia se tornado desnecessária.
Passei por minha mãe no corredor, ela me olhou assustada ao me ver.
- é para mim - falei.
Ela assentiu. estava com medo de mim, dava para sentir isso.
Abri a porta e me deparei com John, Mariana já o havia comunicado do incidente, e pelo que eu vi em seus olhos, a coisa era séria.
- é muito ruim? -perguntei fechando a porta atrás de mim.
Ele suspirou por um longo tempo.
- um pouco... mas não se preocupe, eu já sabia que isso ia acontecer.
- o quê ia acontecer? o que está acontecendo John?
- filha... você sabe... Mary não é do bem, e você é filha dela.
- então eu... sou um demônio? - perguntei sentindo o meu coração acelerar.
- metade de você é, - ele sorriu - não é muito diferente de todo mundo, todos temos bondade e trevas dentro de nós... mas filha, acredite, você pode escolher de que lado ficar.
- hoje de manhã eu não pude... aquilo não era eu, eu não sou assim pai - a essa altura eu já estava a ponto de chorar.
- há mais bondade em você do que você imagina, só é preciso acreditar que a luz está ai, - ele me abraçou - eu amo você filha, e eu sei que você não vai seguir os passos de sua mãe. Eu sei que você vai conseguir, por que eu vejo em seus olhos, eles são as janelas de sua alma... e sua alma é boa meu anjo, você é boa.
- as janelas da alma... conheço essa frase.
Me afastei para pensar.
- conhece?
- preste atenção nos olhos, eles são as janelas da alma, se você não consegue o olhar nos olhos, é por que não há uma alma para ser vista. - um calafrio percorreu o meu corpo - pai, o papel... estava escrito isso no papel que a garotinha me deu no shopping!
- tem certeza? - ele disse curioso.
- toda a certeza! como conhece essa frase pai?
Ele abriu a boca para responder, mas foi interrompido por minha mãe, que abriu a porta confusa.
- Por quê você está chamando o pai do Nathaniel de pai? por que esse homem está aqui Analu?
- Eu posso explicar senhora... - John disse calmamente.
- não quero sua explicação! diga Analu... por que? - Mamãe gritou.
Olhei para John, e ele fez que sim. Era agora, a tão temida hora da verdade.
- John é o meu pai biológico. - falei mais baixo do que o planejado.
- O quê? Analu você está ficando maluca, já pro seu quarto!
- Não Ana, é verdade - John interrompeu - eu sou o pai dela...
- Não! isso não é verdade -ela deu uma leve gargalhada - se é algum tipo de brincadeira, já podem parar.
- mãe.. nós não estamos brincando... - a encarei - estou com cara de quem está brincando?
Ela ficou séria de repente.
- Tá... e como vocês explicam essa ideia maluca? - mamãe perguntou.
- Aqui não é um bom lugar para falar sobre isso... vocês podem me acompanhar? - John disse.
- por favor mãe, você precisa acreditar em mim... alguma vez eu já menti para você?
Ela me encarou pensativa, o rosto preocupado e confuso.
- Eu vou com vocês...mas é por que estou curiosa para ver qual a desculpa por essa brincadeira de mau gosto.
- obrigado. - John sorriu.
Fui no carro com minha mãe, e nós seguimos John até sua casa, durante todo o percurso ficamos em silêncio. Quando entramos na grande sala aconchegante de John mamãe abriu o verbo.
- não acredito que estou entrando nessa brincadeira infantil de vocês... você devia se envergonhar John... não tem idade para esse tipo de coisa.
Ele respondeu com um olhar preocupado, ele sabia que ela acreditava, só não queria aceitar.
Megan passou pela porta, provavelmente John a havia chamado para confirmar a história. Seu rosto ficou pasmo de repente ao ver mamãe parada ao meu lado.
- John - ela cumprimentou - Analu, e... oi Ana
- Megan? - minha mãe disse - o que faz aqui?
- Ela sabe de toda essa historia Ana, - John falou calmamente - vamos lhe explicar tudo com detalhes, mas você vai ter que deixar a mente bem aberta.
mamãe assentiu descrente.
Megan e John contaram a triste história da mestiça perdida, lagrimas rolaram, gritos foram dados e no fim... depois de algumas horas de explicação e mais explicação, mamãe finalmente se acalmou.
- então vocês querem que eu acredite que são anjos, e que a verdadeira mãe da Analu é um demônio e por isso ela é uma mestiça que foi mandada para a terra por ser perigosa... e que tive um filha que morreu mas o tal de Nathaniel limpou minha memória me fazendo acreditar que nunca perdi uma filha e que na verdade Analu era minha filha... ah, e não podemos esquecer do pequeno detalhe de Nathaniel também ser um demônio...
- isso. - John confirmou.
- e isso explica o comportamento dela de manhã... - mamãe terminou.
- exatamente... - Megan sorriu.
- isso é uma besteira! eu não vou acreditar nisso... são malucos... vamos Analu! Edwart deve estar preocupado.
- Não! - gritei - eu não vou... ele é o meu pai, e não importa a sua opinião quanto a isso! não somos malucos, anjos existem sim! e sou filha de um deles... coisas estranhas estão acontecendo comigo há dois anos e você sequer notou! acha que aquele acidente antes de eu ir para Brighton foi atoa? queriam me matar mãe, e obrigada por me mandar para Brighton por que foi a melhor coisa que já me aconteceu! eu encontrei meus pais, e meu grande amor... Papai morreu por minha culpa mãe, ele morreu sabendo que eu não era filha dele, por que você não aceita? por quê não acredita em nós?
Sem dizer mais nada ela foi embora.
Megan decidiu me levar para a casa dela, decidiu que seria melhor para mim ficar longe de John e da minha mãe.
Chegamos no apartamento dela alguns minutos depois, pegamos um elevador para chegar ao andar certo, se bem me lembro era o sétimo, não estava com cabeça para decorar coisas pequenas.
Ela preparou a cama do quarto de hóspedes e me deixou sozinha. Fiquei feliz por ela não ficar me rodeando.
Tentei dormir, mas o sono não vinha, e pensamentos variados estavam me atormentando. Consegue imaginar como é ser torturada pela própria mente?
Horas depois e tudo estava a mesma coisa, chorar não aliviava nada, e sem pensar nas consequências, abri a janela do quarto e saltei.
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Anjos na escuridão
FantasyA vida de Analu parece perfeita, um namorado que a ama, um trabalho de que gosta, realizando finalmente a meta de tirar sua carteira de motorista... E principalmente, os anjos e demônios em paz entre si. Mas o que ela não contava era que uma revira...