"31"

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Dirigir até Brighton foi mais difícil que pensei... eu não funciono muito bem sob pressão.

Mary permaneceu calada durante toda a viagem, não ousei olhar pelo retrovisor para vê-la, não que eu estivesse com medo do que ela poderia fazer... eu estava com medo do que eu poderia fazer e das consequências disso.

Tentei me concentrar na ideia de que um tiro não me mataria, e que afinal de contas, eu era forte o bastante para deter Mary se quisesse... Esses pensamentos foram interrompidos por um baque metálico, o barulho ensurdecedor de dois carros se chocando. Meu corpo foi lançado para frente, percebendo tarde demais que estava sem cinto de segurança. Os dois carros giraram na pista.

Dizem que, quando você está a beira da morte, você consegue ver toda a sua vida passar como um flash em sua mente... mas tudo em que consegui pensar foi em Daniel.

O cheiro de fumaça me invadiu, olhei para os lados para tentar entender o que havia acontecido. Um carro azul estava capotado no lado oposto da pista.

Me virei lentamente, Mary estava deitada no banco traseiro, o rosto manchado de sangue e a arma sobre a barriga. Peguei a arma e sai do carro, Mary ficaria bem logo logo.

Fui até o carro azul, sentindo minhas pernas tremerem ao reconhecer o carro... era o corola azul... o carro de Dominic.

Meu corpo se encheu de uma estranha felicidade ao ver que ele estava bem, me encarando com ar despreocupado.

- Você me deve um carro novo... - Dominic disse.

- idiota... você está bem?

- acabo de sofrer um acidente... e você vem me perguntar se estou bem?

- o que estava fazendo aqui? - perguntei.

- John me ligou, o plano era eu te seguir mas você jogou o carro na minha frente...

- obrigado por vir. Mary está no carro.

- ah sim... John já está vindo, ele decide o que fazer.

- há alguma chance de ela acordar?

Dominic sorriu.

- você é lerda assim mesmo ou se esforça?

Revirei os olhos impaciente.

- tá... estou brincando - ele completou - vamos lá vigiá-la.

Dominic saiu do carro rapidamente, notei que ele estava um pouco mais forte que o de costume, na verdade, estava bem mais forte.

- nossa... andou malhando?

- você reparou? - deu uma piscadela - preciso ficar bonito para minha Maria...

- impossível... - brinquei.

Andamos até o Punto,notei para meu desagrado, que os estragos feitos sairiam bem carro... mamãe me mataria quando visse.

Eu estava analisando cada milimetro do carro quando Dominic me chamou.

- O que foi? - perguntei.

- Onde ela está?

- no banco de trás...

- Analu... - Ele disse se aproximando de mim - ela fugiu. não estamos seguros aqui.

- O quê? - falei perplexa, sentindo um medo avassalador de repente.

- ligue para John, diga que ele precisa vir para cá o mais rápido possível... embora eu ache que seja em vão, vou procura-la por aqui, ela não pode ter ido muito longe.

Dizendo isso sumiu floresta a dentro.

Demorei alguns segundos para conseguir me mover, peguei o celular e disquei o primeiro numero que veio em minha cabeça. O de Daniel. A secretária eletrônica atendeu me dizendo que o numero chamado estava desligado ou fora da área de cobertura. Levei um tempo para entender que havia discado o numero errado. Estava prestes a ligar para John quando alguém tomou o celular da minha mão.

- Vamos... - Leinad disse me pegando pela cintura.

- o quê? me solte!

- você precisa vir comigo Analu, agora.

- não! preciso esperar por Dominic e John aqui. - falei me desvencilhando das mãos dele.

- é realmente importante que você venha comigo... - ele disse agarrando meu pulso e me puxando.

- não! - gritei e em seguida puxei meu pulso, fazendo com que ele me soltasse.

Leinad olhou para os lados, aparentemente estava pensando em outra alternativa. Sem pensar em mais nada comecei a correr, tentei encontrar o caminho por onde Dominic havia passado, mas antes que eu pudesse me decidir, Leinad já me puxava para dentro do porta malas de seu carro.

- Desculpe. - ele disse ante de fechar, me prendendo.

- Me tire daqui! socorro! Dominic! - gritei - socorro!

antes que Leinad ligasse o carro pude ouvir a voz de Dominic, ele havia me escutado mas não chegara a tempo.

- Analu! - ele gritou.

Leinad acelerou o carro e seguiu para não sei onde. Não adiantaria gritar agora, era inútil, tudo o que me restava fazer era torcer para escapar bem dessa...Eu não tinha Daniel, então quem me salvaria? isso mesmo... eu.

Tateei meus bolsos a procura de alguma coisa que pudesse me ajudar, e então percebi que as coisas finalmente estavam a meu favor, a arma que eu havia pegado de Mary estava comigo, colocada estrategicamente no lado da frente da calça como eu havia visto milhares de vezes em filmes de ação. Assim que Leinad abrisse o porta malas, ele teria uma pequena surpresa...

Agora, só havia um problema. Eu não sabia usar uma arma, mesmo que soubesse eu não conseguiria disparar, machucar Leinad não me parecia uma boa ideia... eu nunca o machucaria.

Resolvi então que usaria a arma apenas para assusta-lo, se não funcionasse eu arrumaria outro jeito. Sempre há outro jeito.

Senti o motor desligar, o carro estava agora parado. Ele desceu, mas aparentemente havia se esquecido que eu estava lá, pois pude ouvir a porta de uma casa sendo aberta e logo em seguida fechada. Comecei a gritar novamente.

- Me tire daqui! socorro!

Ele não pareceu ter escutado.

- Leinad! por favor... me tire daqui, estou começando a ter falta de ar! - gritei ainda mais alto.

De repente o porta malas abriu, ele me olhava sério, mas não parecia bravo.

- Estou aqui anjo...

- me deixe sair daqui! - disse me levantando e o empurrando de forma grosseira.

- parece que você esqueceu sua arma... - ele apontou para a arma caída no porta malas.

Corei ao perceber que havia a deixado cair. Como eu poderia ter esquecido meu plano?

- essa... não é minha arma. - menti.

- vamos anjo, admita.

- pare de me chamar de anjo!

- motivo?

Gritei de raiva... Como ele podia ser tão irritante?

- Pode se acalmar por favor?

Olhei para os lados, estávamos na casa dele. Respirei fundo e o encarei.

- Por que me trouxe aqui? - perguntei.

- Era uma armadilha... Mary ia te pegar se tivesse ficado lá por mais um minuto. Você não ia ceder então tive que te sequestrar.

- Como sabe disso?

Ele revirou os olhos.

- dã... eu sei de tudo. - dizendo isso sorriu - vamos... é melhor a gente entrar.

Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora