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- O quê?!- Mike disse se levantando de imediato - Ficou maluca?

Nós dois sabíamos que invadir o inferno com alguns anjos, por menor que fosse o numero, daria inicio a guerra... Se fossemos mesmo entrar, teríamos que estar preparados para o pior.

- Eu sei que parece loucura, mas é a nossa única chance...

- Nossa única chance?

- Minha. - corrigi - minha única chance.

- Fiquei curioso... unica chance de quê exatamente?

Pedir a ajuda de um demônio me parecia uma coisa inútil a se fazer, epicamente inútil se tratando de Mike. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que talvez eu me abrisse em vão, mesmo sabendo que Mike zombaria de mim eternamente e se recusaria a ajudar, eu resolvi ser sincera.

- Daniel está em perigo... - falei - por isso preciso entrar lá, preciso salvá-lo.

A gargalhada de Mike ecoou pela sala, fechei meus olhos tentando ignorar o orgulho ferido que ele me causara.

- Está pedindo minha ajuda para salvar o cara que venho tentando matar há dois séculos? É isso mesmo?

- É... é isso mesmo.

Mike continuou rindo, parecia acreditar que aquilo realmente era uma piada. O problema era que Daniel realmente precisava de mim, e eu iria até lá, mesmo se eu fosse sozinha... E de repente um medo avassalador me invadiu, e se já fosse tarde demais? Eu mal tinha recuperado meu Daniel, e já o haviam levado de mim outra vez... Eu não aguentaria a perda novamente, não conseguiria perder o amor da minha vida duas vezes...

E foi quando aconteceu, não consegui me segurar e antes que pudesse evitar, cai no chão chorando... exatamente como uma criança que perdeu seu brinquedo favorito.

- Hey, espere... está chorando mesmo? - disse Mike ficando sério de repente.

- Não, não é nada. Esqueça, eu preciso ir.

Dizendo isso eu levantei, e antes que chegasse até a porta, Mike me interrompeu.

- Ok Analu, espere... venha cá.

Me virei, e ele me encarava de braços abertos... Estava com um meio sorriso, não do tipo debochado, mas sincero. Aceitei o abraço, e me assustei ao me sentir tão segura ali, nos braços de Mike.

- Não chore mais, você fica feia chorando... - disse ele- eu faço qualquer coisa para não ver você assim outra vez, quer invadir o inferno e morrer? Eu morro com você.

Sorri.

- Já parou de chorar?

- Você acha que vamos conseguir? - Perguntei, ainda escondida nos grandes braços dele - Acha que vamos sair de lá vivos?

- No inferno nós não somos imortais... É para lá que levam os demônios para serem... executados.

- O quê?! - gritei - Não... ai meu Deus, Mike, e se Daniel...

Comecei a chorar descontroladamente, Mike apertou os braços em volta de mim, mas seu silêncio me dizia que o que eu mais temia, poderia sim ter ocorrido.

- Não! eles não mataram o meu Daniel... não fizeram isso!

- shh... - Ele disse em meu ouvido - Tudo bem... vou levar você até lá e trazer de volta em segurança. É uma promessa, e uma promessa minha não é nunca descumprida. Ok?

Eu nem consegui responder, apenas continuei chorando, com o rosto na dobra do pescoço dele... Ficaríamos bem, todos nós... Um dia, de alguma forma, ficaríamos bem.

- Quer que eu te leve para casa? - Mike perguntou depois de um tempo.

- Não... Felipe e John estão me esperando...

- Ok, eu vou reunir meus homens, o maior número que eu conseguir... em uma semana estaremos prontos.

- Uma semana é muito tempo... precisamos sair amanhã!

- amanhã? Analu, é arriscado demais.

- Meu Daniel está em perigo!

Isso bastou para ele deixar de discutir, não sei como e nem por que Mike resolvera me ajudar, mas algo me dizia que podia confiar nele, e de alguma forma, eu já confiava.

Me encontrei com Felipe e John no carro, Dominic estava com eles e me entregou minha bolsa quando cheguei. Peguei meu celular e uma pontada de culpa me invadiu ao ver dezessete chamadas perdidas de minha mãe e nove de Lucy. Mas elas teriam que me perdoar, ao menos por um tempo. Minha prioridade agora era salvar Daniel.

- E então? - John perguntou - conseguiu alguma coisa?

- vamos Analu! acabe com o suspense... - completou Felipe.

- Sim... - suspirei.

- Então fala logo, preciso encontrar uma pessoa. - Dominic interrompeu.

- Mike vai me ajudar, saímos amanhã cedo.

- Já são cinco horas da tarde, como ele vai conseguir tão rápido? como nós vamos conseguir tão rápido? - Felipe perguntou, se dirigindo a John.

- Temos que ir o mais rápido que pudermos, você sabe o porque de levarem os demônios para lá... - John respondeu.

- você sabia então?! sabia desde o inicio e não me contou? - respirei fundo - mas não importa, nem precisa responder, vamos para casa.

- Analu...

- nem responda, vamos para casa. - disse o interrompendo.

- Eu vou para a casa de Mariana, então não vou com vocês, tchau, beijos, se divirtam. - Dominic falou indo em direção ao mais novo carro, um jeep cinza.

- Espere, posso ir com você? preciso... de Mariana essa noite.

- como é?

- pare de gracinhas Dominic, você entendeu.

Me despedi de John e Felipe e entrei no carro com Dominic. Viajamos em silêncio absoluto.

Quando cheguei na casa de Maria e a abracei, foi como se de repente, tudo fosse suportável por um segundo, todo o medo e a preocupação desapareceram por tempo o suficiente de eu respirar, e então tudo voltou de uma só vez, e eu não pude controlar o choro.

Combinamos que eu passaria a noite lá, Dominic ficou por alguns minutos, mas saiu apressado, disse que precisava de um tempo para se preparar para o dia seguinte. Mariana fez chocolate quente e se juntou a mim na cama dela, ficamos ali, conversando, e consegui me esquecer do que estava por vir apenas por alguns minutos.

- Você está com medo? - Perguntei - sabe que não precisa ir, certo?

- Sim, eu sei que não preciso. Mas quero, vê a diferença?

- Mike disse que não somos imortais lá... e se acontecer alguma coisa a algum de nós?

- Não é a minha primeira luta, nem a de nenhum de nós... exceto a sua, mas estaremos lá com você. Todos nós, Megan, John, Felipe, Dominic, Mike... Todos nós. Tudo bem, ok?

- E Daniel? e quanto ao fato de eu ser um demônio? como vai ser tudo daqui para frente? como vou voltar para casa? - perguntei sentindo meu coração acelerar.

- Analu... já passou pela sua cabeça que vamos invadir sua casa?

- O quê?

- Você pertence ao inferno querida...

Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora