"29"

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O beijo pareceu ter durado apenas alguns míseros segundos, estávamos o mais perto que conseguíamos estar um do outro e mesmo assim ainda não era o suficiente. Possivelmente eu nunca estaria completamente satisfeita.

Notei que Leinad me analisava, havia um sorriso microscópico surgindo em sua boca.

- O que foi? - perguntei.

- Pode me explicar tudo isso? não que eu não tenha gostado... só... me pegou completamente de surpresa...

Fitei o chão por um momento, sentindo minhas bochechas queimarem sem que eu pudesse impedir.

- Hey... - ele disse enquanto pegava minha mão delicadamente - não se preocupe com isso está bem? deixa pra lá, acho que... se explicar perde a graça.

Sorri.

- Você disse a mesma frase que Daniel me disse uma vez... exatamente a mesma frase... me diga Leinad, você é o Daniel?

- Você quer que eu seja o Daniel?

- Quero que você me diga a verdade.

- A verdade é só questão de perspectiva... eu poderia negar que sou o Daniel, mas você não acreditaria, pois você quer que eu seja o Daniel. Não importa o que eu diga, a unica verdade que você vai aceitar é a que você quer ouvir. - ele deu um sorrisinho - você escolhe no que quer acreditar... coloque as cartas na mesa, e eu jogarei com elas.

- não me parece uma boa definição do que é a verdade... e você não respondeu a minha pergunta.

- O que ia fazer em Cambridge? - ele disse mudando de assunto.

- Ia encontrar uma pessoa... a propósito, eu preciso ir!

Andei até a porta apressadamente, Mary estaria me esperando, eu precisava chegar a tempo.

- Vai encontrar sua mãe? - Leinad disse impedindo que eu saísse da casa.

- minha mãe está trabalhando... agora preciso mesmo ir.

- estou falando de sua mãe de verdade... Mary.

- isso não é muito...do seu interesse... agora me dê licença!

- não vou deixar você ir encontrar um demônio. - Ele me deu um leve empurrão - desencana dessa ideia...

- eu não estou pedindo permissão!

- a senhorita vai ficar quietinha aqui...

- não vou não! - eu poderia até desistir da ideia de ir para Cambridge, mas eu havia visto aquilo como um desafio, e nada me faria ficar em casa depois de um desafio.

- quer apostar que você vai ficar?

O fitei com os olhos semicerrados.

Um sorriso brincalhão brotou em seu rosto, e antes que eu pudesse impedir ele partiu para sima de mim e me pegou no colo, subiu as escadas correndo como se ao invés de uma pessoa estivesse segurando uma pena. Só quando entramos no meu quarto que ele me colocou no chão.

- Leinad! - gritei, tentando segurar o riso - me deixa sair...

- não. - disse de imediato, sem nunca perder aquele sorriso bobo.

- Então vou sair pela janela. - provoquei.

- a é? - dizendo isso ele partiu para sima de mim novamente, me jogando na cama entre seus braços.

Ficamos ali, ele com os braços em volta de mim, fortes como o aço, e eu tentando me desvencilhar daquela situação maravilhosa e ao mesmo tempo irritante. Não conseguíamos parar de sorrir, o que me fez perder todas as forças.

- me solta Leinad... - falei ainda sorrindo.

- nunca! - Ele sussurrou.

Acabei por me conformar, Leinad não me soltaria tão cedo. Conversamos por tipo, uma meia hora antes de ambos adormecerem.


Quando acordei, os braços de Leinad continuavam firmes ao redor de meu corpo, mas ele ainda dormia. Sua respiração em minha nuca me fazia arrepiar de minuto em minuto, mas eu não queria me mover, não queria que ele acordasse.

Uma sombra de pensamentos pairou sobre mim , eu não tinha noção do tempo, poderiam ter se passado horas, ou apenas alguns minutos, mas não importava... Tudo em que eu conseguia pensar era naquela frase, por quê Leinad disse aquilo? afinal de contas, quem era Leinad? Eu tinha certeza de que ele era muito mais do que aquele garoto brincalhão que adormecera como um anjinho atrás de mim...

Ficar ali deitada com o passar do tempo começou a se tornar desconfortável, e mesmo assim, eu sentia que poderia ficar ali para sempre.

Um longo tempo depois Leinad acordou, se espreguiçou lentamente, me deixando livre para me mover. Virei o corpo para o lado dele, podendo dessa forma, ver seu rosto. Ele estava com cara de sono, e quando notou que eu o encarava, deu um leve sorriso.

- Dormiu bem? - perguntei.

- Não durmo tão bem há muito tempo...

- você manteve os braços bem firmes, mesmo dormindo... não consegui me mover...

- Desculpe... mas você teria saído se eu não estivesse segurando.

- há grandes chances de você estar certo. - sorri.

Então o celular tocou, reconheci o numero, era Mary... havia mais algumas chamadas perdidas, todas dela.

- não atenda. - ele disse.

- mas...

- errar uma vez é normal Analu... errar dua vezes é burrice!

- e errar três vezes é sinal de que há um motivo muito bom para isso!

- três vezes? - ele perguntou.

- bom... retornei a ligação dela e estava indo até Cambridge, ao todo são dois possíveis erros, e agora estou desposta a retornar a ligação novamente... três erros.

- teimosa...

- chato!

Ele sorriu.

- posso te beijar novamente? - perguntou.

- só se...

- só se nada - ele disse me interrompendo - pare de falar só um pouquinho.

E então me beijou, sempre devagar no começo e ia aumentando a intensidade... Se eu pudesse dar um nome para o beijo de Leinad, com toda certeza o nome seria " Daniel ".



Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora