"15"

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- Sabe Daniel... - falei depois do que pareceu uma eternidade - eu não podia ter feito isso.

Ainda estávamos no carro, e depois do beijo, um silêncio constrangedor tomou conta do lugar.

- O quê? - ele perguntou meio distraído, mas a voz era doce e calma.

- Beijar você, e dizer que te amo... não foi certo.

- por quê? não é a verdade?

- é... e é esse o problema, nós não podemos continuar... eu não quero continuar.

- não quer? - ele me olhava confuso - Analu, explique isso direito!

- pra mim já deu, eu... tenho motivos que são meus, então apenas fique longe ok?

Eu finalmente tinha tomado a decisão certa, quando coloquei a mão na fechadura da porta, Daniel a travou e ligou o carro.

- Você não vai sair. - ele disse sorrindo, mas não era um sorriso de quem estava brincando, era um sorriso meio amedrontador.

Então saímos do estacionamento da escola cantando pneu, e os olhos dele estavam totalmente negros, e pela primeira vez desde muito tempo tive medo de Daniel.

- Pare esse carro! - falei, mas ele não pareceu ouvir.

- não... eu não vou parar! - ele gritou - você...

E então ele acordou, os olhos normais novamente, a voz tinha se tranquilizado. Novamente não era ele, era a lua.

- desculpe - ele disse.

- só... me deixe descer.

Ele me olhou sério.

- vou levar você para casa...

- não precisa, apenas pare o carro.

Ele obedeceu, muito provavelmente havia notado o medo em minha voz. Eu o amava, mas amava Daniel, e não a lua, e eu não sabia se conseguiria lidar com aquilo.

Assim que desci Daniel se foi, doeu deixa-lo partir, mas seria o fim... aquele era o fim de tudo que havia acontecido entre nós.

Não foi fácil no começo, e para falar a verdade nem depois de um tempo... havia uma linha tênue que nos unia, e isso me impedia de esquecê-lo.

Eu nunca mais vi Daniel depois disso.




Um ano se passou, junto com Daniel se foram os bilhetes, a garotinha, as coisas ruins que estavam sempre acontecendo. John e Dominic não apareceram, e de certo modo tínhamos desistido de procura-los. A vida continuou. Muito tempo sem vê-lo, pouco tempo pra esquecer.

- Amiga... você tem que sair mais, você só fica dentro dessa casa, agora que tirou a carteira de motorista você só vai pra escola e volta... é nosso ultimo ano, temos que aproveitar! afinal, Edward não te deu esse carro perfeito pra ficar guardado na garagem... - Lucy disse impaciente.

- Pra começo de conversa, ele não me deu o carro... - falei.

- Não importa Analu!

- Por favor Lucy, não estou mesmo afim.

- quer saber? eu vou pedir uma pizza. - Ela disse e saiu do quarto.

A propósito, meu novo quarto era grande, como tudo na casa... o casamento de mamãe e Edward acabou passando em branco, e fiquei feliz por isso,mas tivemos que ir morar com ele, e com certeza, como médico, o salario de Edward era enorme, o que fazia com que sua casa (desnecessariamente) também fosse.

No meu aniversario de dezessete anos, depois de tirar finalmente minha carteira de motorista, Edward decidiu me ajudar a comprar um carro, já que não aceitei que ele comprasse sozinho. Acabei por escolher um Punto amarelo, chamativo o bastante para ser o carro de Lucy, mas eu havia mudado, eu precisava mudar.

Todos nós, Mariana, Megan e Felipe havíamos concluído que os problemas vinham junto com Daniel, e que, tinha sido melhor ele ter ido. Mas eu não estava sendo honesta, doía a saudade, e doía mais ainda ser a culpada... Mas Daniel estava bem, eu tinha certeza. Eu só não sabia aonde.

- Já pedi, calabresa grande! - Lucy disse assim que entrou no quarto - uma pizza vai animar você, com toda a certeza!

Assenti sorrindo.

- É claro que vai...

Mas não ia, nada ia.

Depois que comemos a pizza, e Lucy foi em bora, corri para o quarto novamente e procurei por papel e caneta.

Me sentei na minha escrivaninha e comecei a escrever.


Mais uma vez eu sonhei com você Daniel, e mais uma vez acordei chorando. Sua voz não sai da minha cabeça, o jeito como dizia que me amava, os seus olhos mudando de cor a cada minuto, seu cheiro, e...


A essa altura eu já estava chorando.

Eu não consigo fazer isto Daniel, é como se a cada dia separados eu morresse um pouco mais. Não consigo viver nesse mundo sem nós, ele não faz sentido, a minha vida não faz sentido. Eu queria voltar atrás, mas estou no caminho certo, e aprendi que as vezes precisamos fazer a coisa certa, mesmo que tenhamos que sofrer por isso.

Eu não sei onde você está, mas espero que esteja bem, e eu espero que você esteja feliz, e mesmo que seja egoismo meu dizer isso, eu espero que você jamais me esqueça... Eu te amo, e sempre vou amar, não importa o quanto isso seja errado da minha parte. Estão todos bem sem você aqui, estamos finalmente vivendo como pessoas normais. O que nos fez pensar que os problemas rodeiam você, e não a nós... Sinto sua falta.

com amor, sua Analu.


Depois disso peguei a carta e guardei na gaveta, e sem conseguir me segurar, deitei na cama e chorei até pegar no sono. Mas amanhã há de ser outro dia, pensei.


Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora