"28"

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Não dá pra explicar o quanto dormir na minha cama foi reconfortante, era como a sútil porém real sensação de estar deitada em uma nuvem. Acordei às dez horas da manhã, a casa estava silenciosa como o de costume, Edwart e mamãe já estavam no trabalho e eu teria um dia inteiro para curtir preguiça. Eu estava precisando disso.

A primeira coisa que fiz foi desligar o celular, não queria ser incomodada de forma alguma. Tomei banho, comi panquecas e depois me dei conta que não havia nada mais para se fazer.

Comecei limpando o pó da estante da sala, em seguida fui para o meu quarto e organizei minhas coisas, mas isso ocupou menos de uma hora de meu abundante tempo livre. Resolvi dar um banho em Hans, mas mesmo com muito esforço, acabei toda arranhada e Hans continuou sem banho. Procurei em minha estante algo que eu quisesse ler, mas nada me chamou muita atenção. De repente me vi sentada revendo a matéria que estava estudando na escola, eu estava realmente com muito tédio.

Senti saudade de Lucy, mas sabia que não podia procurá-la... o orgulho era mais forte que qualquer outra coisa que eu pudesse sentir.

Liguei meu celular, havia acabado de ter uma ótima ideia, eu ainda tinha Jessy, ela poderia me fazer companhia... Mas ai, eu lembrei que ela estava trabalhando, que apesar de ter parecido uma ótima ideia no começo, não era tão boa assim.

Então vi que havia cinco chamadas perdidas de um numero que eu não conhecia. John havia me ensinado que, sendo alguém influente entre os imortais como eu era, o cuidado deveria ser em dobro. Não se tratava de mim, eu significava o extermínio de toda uma raça,e isso era muita coisa. Mas mesmo assim, mesmo correndo o risco de ser alguém perigoso, a curiosidade foi mais forte, e eu retornei a ligação.

- Finalmente... - disse uma voz feminina, que me era estranhamente familiar.

- quem fala? - perguntei.

- você... sempre tão lenta, - a voz deu uma leve gargalhada - sou eu, sua mãe!

- minha mãe? você não é minha... espera... Mary?

- a própria...

- O que você quer?

- Estive a sua procura, mas tive o desprazer de encontrar sua casa vazia... soube que se mudaram, sua mãe adotiva se casou novamente? nem me chamaram... quanta consideração!

- O que você quer comigo Mary? - perguntei, dessa vez com mais convicção.

- sou apenas uma mãe arrependida... sabe, não tenho sido muito presente.

- conta outra... Tchau!

- não! por favor... tenho uma informação que você com toda certeza vai gostar.

A vontade de desligar na cara dela era muita, mas como o de costume, a curiosidade falou mais alto.

- que informação?

- Sei onde Daniel está...

Meu coração acelerou.

- O que você quer em troca? - perguntei.

ela sorriu.

- está mais espertinha... gostei!

- anda Mary, o que você quer?

- Quero que venha para Cambridge, preciso ver você...

- como vou saber se posso confiar em você?

- Sou sua mãe... nunca te machucaria!

- como pode dizer isso depois do que fez?! - gritei.

- Eu sabia que Daniel tinha como salvar você... eu preciso muito que venha, tem muitas coisas sobre Daniel que você tem que saber!

- Onde nos encontramos?

- venha para Cambridge, me espere perto da universidade, ao lado do River Cam... venha sozinha.

Dizendo isso ela desligou.

Ficar em casa e ouvir meu cérebro que insistia na ideia de que era uma armadilha ou ir até Cambridge encontrar Mary e seguir meu coração?

É claro que eu iria para Cambridge!

Meia hora depois eu já estava na rodovia, no fundo eu sabia que estava fazendo a coisa errada, mas quem ligava? era uma chance de encontrar Daniel, e eu não a perderia.

Meu celular tocou, era Leinad.

- Oi? - falei.

- Pare o carro.

- O quê?

- pare o carro... agora!

- não vou parar o carro, você está me seguindo?

- Analu, por favor, pare o carro...

Algo na voz dele me convenceu e estacionei o Punto no acostamento.

- Tá, já parei... o que foi?

Mas ele havia desligado.

Segundos depois um carro parou logo atrás do meu, era ele, desci meio confusa.

- O que aconteceu Leinad? ficou maluco?

- O que pensa que está fazendo? - ele falou.

- eu não tinha nada para fazer, resolvi viajar até Cambridge, dar uma volta...

- Eu não sou idiota Analu, você pirou? o que achou que fosse fazer?

- Eu não te devo satisfações de minha vida, então pode por favor parar de dar uma de Daniel... e... - de repente me vi sem ar - Daniel?

- Leinad... - ele corrigiu.

- eu sei, é que... agora que fui me dar conta do quanto você se parece com o Daniel - sorri - desculpe.

- quando perdemos quem amamos, acabamos por tentar encontrá-la em todas as outras pessoas... a vontade é tanta que acaba inventando uma semelhança que, na verdade, não existe.

- Há chances de estar certo...

- sempre estou.

Eu o estava encarando fixamente, a explicação que ele dera realmente fazia sentido, mas eu não conseguia convencer meu coração.

- O que foi? - ele perguntou.

Então andei até ele, que me olhava assustado, e sem pensar em mais nada o beijei. No começo ele pareceu não entender, mas logo suas mãos escorregaram por minhas costas e ele me puxou para mais perto, ele afastou o rosto do meu o suficiente para sorrir mas logo nossos lábios se colaram novamente.

- Vamos sair daqui? - ele perguntou.

Assenti.

A separação de nossos corpos foi estranhamente dolorida, eu queria mais. Eu dirigi na frente e pelo retrovisor vi que ele me seguia, meu coração não via a hora de chegar em casa para voltar para os braços de Leinad.

Quando chegamos, eu mal havia fechado a porta quando ele me abraçou.

- Elaine não chega nem aos seus pés.- ele cochichou.

- O quê?

Então ele me beijou, eu não tinha forças para parar, não queria parar... Embora a frase tenha me feito mergulhar numa nostalgia totalmente inédita e impressionante. Uma nostalgia dos beijos de Daniel.

Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora