"37"

1.2K 154 8
                                    


- Estão todos prontos? - John disse depois de um tempo.

Todos nos entreolhamos, estávamos tensos, porém, prontos para lutar.

- Ok, como entramos lá? - perguntei, me dirigindo a Mike.

- Somos os únicos demônios, eu poderia fazer sozinho mas são muitos anjos para levar, você vai precisar me ajudar... É bem simples na verdade.

Gelei ao pensar naquilo, ir até o inferno já me parecia arriscado demais, mas era razoavelmente fácil já que eu contava com a promessa de ele me levar até lá. Agora ter que levar os outros já parecia uma tarefa difícil a ser feita, levando em conta que eu jamais conseguiria fazer o que quer que fosse.

- Eu não... sei se consigo Mike... - falei, a voz transparecendo minha frustração.

- Consegue. - ele respondeu de imediato, como se tivesse tanta certeza que eu conseguiria quanto sabia a cor do céu.

- mas...

- shh... feche os olhos.

Obedeci sem questionar, eu sabia que Daniel estava em perigo, me agarrei a isso e juntei forças de onde nem sabia que eu tinha.

- Façam um circulo, temos que estar todos de mãos dadas para funcionar, é possível que não consigamos atravessar todos. - Mike respirou fundo como se estivesse escolhendo as palavras - é possível que não consigamos trazer todos de volta...

Abri os olhos, estávamos todos em circulo novamente, e notei o medo queimar dentro de cada um... Os anjos precisavam dos demônios para sair, e era provável que não conseguiríamos trazer todos de volta.

- Não... - eu disse baixinho - Não podem ir, eu não suportaria perder nenhum de vocês.

- Já está decidido, - interrompeu John - todos nós vamos, vai dar tudo certo, vamos todos ficar bem.

Pensei em Daniel, ele precisava de nós... E todos estavam dispostos a ajudar, mesmo com medo, todos ali queriam ajudar. Perigoso ou não, nós iriamos.

- O que preciso fazer? - perguntei me dirigindo a Mike novamente.

- Feche os olhos e imagine uma grande porta a sua frente, imagine todos os seus medos, seus piores pesadelos, coloque todos eles atrás dessa porta...

Imaginei a grande porta, coloquei atrás dela o medo de que um de nós ficasse para trás, o medo de perder Daniel e o medo de ser um demônio para sempre.

- Agora imagine as coisas que te enlouquecem, que lhe deixam brava a ponto de surtar... Coloque toda essa raiva atrás da porta.

Fiz o que ele pedia, obediente.

- A pior parte... Imagine que Lúcifer está lá, sentado em uma poltrona atrás dessa porta. Já imaginou?

- sim.

- Agora bata na porta.

Respirei fundo, não sabia se iria funcionar, mesmo assim obedeci e bati na porta. Eu mal havia a tocado quando tudo se escureceu e eu senti que estava descendo. A mesma sensação de quando se está em um elevador, porém, era bem mais assustador.

- Analu? - Mariana cochichou.

Abri os olhos mas não vi nada, estava um breu.

- Estou aqui. - falei.

Senti que ela me procurava e estendi a mão para tentar tocá-la, por fim nos encontramos e demos as mãos.

- Alguém ai? - ouvi Felipe dizer - por favor... não vejo nada.

- Felipe, estamos aqui. - Mariana cochichou, eu podia notar o medo em sua voz.

- Estão aqui. - Ele disse para alguém, e eu pude reconhecer a voz feminina que respondeu, era Helena.

Todos tateamos o ar a nossa frente até tocarmos os corpos sólidos uns dos outros, demos as mãos.

- E agora? - Mariana perguntou.

Observei a escuridão que nos rodeava, nada parecia fazer sentido. Como aquilo podia ser o inferno? Era tão silencioso que eu podia ouvir a respiração dos três, o clima era ameno, nem quente e nem frio. Nenhum cheiro, nada que indicasse mesmo que de longe o inferno das histórias que eu ouvira a vida inteira.

- Analu? Mariana? - Dominic chamava - onde vocês estão?

Logo em seguida Mike gritou nossos nomes, e antes que fosse a vez de John, Mariana respondeu.

- Todos atravessaram? - perguntei depois que já estávamos todos juntos.

- Sim... agora todos fechem os olhos e acreditem que podem enxergar... isso é um teste para os anjos que tentam invadir, alguns ficam perdidos aqui acreditando estarem cegos para sempre.

Fechei os olhos e acreditei que podia ver. Abafei um grito com a mão quando os abri. Nada de fogo, nada vermelho, nenhum diabinho com chifres. A unica coisa que eu conseguia ver era uma espécie de sala, as paredes eram pretas e nenhuma luz iluminava o lugar, embora ele estive claro. No chão, bem próximo aos nossos pés, haviam vários corpos caídos, aparentemente sem vida, porém emitiam um som agudo e amedrontador, de modo que a sala parecia estar cheia de cigarras.

Mike nos guiou até uma porta, a madeira estava gasta e suja. Ele a empurrou cuidadosamente.

- Venham em silêncio, e permaneçam juntos, se conseguirmos encontrar Daniel sem que notem a invasão será ainda melhor. - Mike cochichou seriamente, aquilo parecia ser algo natural para ele, comandar exércitos em guerras. Não me surpreenderia se ele começasse a contar histórias das muitas guerras que participara.

O seguimos por um corredor estreito, e eu tinha a impressão de que ele diminuía a medida que avançávamos.

- Sabe onde encontrar Daniel? -perguntei.

- Tenho uma ideia de para onde podem tê-lo levado.

Aquilo bastou para eu não fazer mais perguntas. Era uma chance de o encontrar, e isso não é pouca coisa. Seguimos pelo corredor que parecia não ter fim, e de vez em quando eu escutava uns gritos, pareciam estar bem longe, mas mesmo assim me causavam arrepios.

Chegamos a outra sala, como a outra ela não tinha janelas e nem luzes, mas havia seis portas, uma ao lado da outra. Todas de madeira escura e velha.

- Qual delas? - John perguntou.

- São corredores, mas não tenho certeza de qual é o certo... - Mike encarava as portas - vamos ter que nos dividir.

- O quê? - Felipe falou.

- Vamos até o fim e voltamos para cá, nos encontramos e vamos juntos para a certa. - Mike concluiu.

- E qual será a certa? - Helena perguntou. - como saberemos que é a certa?

- É simples, - Ele suspirou - a certa dá para uma sala.

- E as outras? - perguntou Dominic.

- Escuridão.

Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora