- Estão todos prontos? - John disse depois de um tempo.
Todos nos entreolhamos, estávamos tensos, porém, prontos para lutar.
- Ok, como entramos lá? - perguntei, me dirigindo a Mike.
- Somos os únicos demônios, eu poderia fazer sozinho mas são muitos anjos para levar, você vai precisar me ajudar... É bem simples na verdade.
Gelei ao pensar naquilo, ir até o inferno já me parecia arriscado demais, mas era razoavelmente fácil já que eu contava com a promessa de ele me levar até lá. Agora ter que levar os outros já parecia uma tarefa difícil a ser feita, levando em conta que eu jamais conseguiria fazer o que quer que fosse.
- Eu não... sei se consigo Mike... - falei, a voz transparecendo minha frustração.
- Consegue. - ele respondeu de imediato, como se tivesse tanta certeza que eu conseguiria quanto sabia a cor do céu.
- mas...
- shh... feche os olhos.
Obedeci sem questionar, eu sabia que Daniel estava em perigo, me agarrei a isso e juntei forças de onde nem sabia que eu tinha.
- Façam um circulo, temos que estar todos de mãos dadas para funcionar, é possível que não consigamos atravessar todos. - Mike respirou fundo como se estivesse escolhendo as palavras - é possível que não consigamos trazer todos de volta...
Abri os olhos, estávamos todos em circulo novamente, e notei o medo queimar dentro de cada um... Os anjos precisavam dos demônios para sair, e era provável que não conseguiríamos trazer todos de volta.
- Não... - eu disse baixinho - Não podem ir, eu não suportaria perder nenhum de vocês.
- Já está decidido, - interrompeu John - todos nós vamos, vai dar tudo certo, vamos todos ficar bem.
Pensei em Daniel, ele precisava de nós... E todos estavam dispostos a ajudar, mesmo com medo, todos ali queriam ajudar. Perigoso ou não, nós iriamos.
- O que preciso fazer? - perguntei me dirigindo a Mike novamente.
- Feche os olhos e imagine uma grande porta a sua frente, imagine todos os seus medos, seus piores pesadelos, coloque todos eles atrás dessa porta...
Imaginei a grande porta, coloquei atrás dela o medo de que um de nós ficasse para trás, o medo de perder Daniel e o medo de ser um demônio para sempre.
- Agora imagine as coisas que te enlouquecem, que lhe deixam brava a ponto de surtar... Coloque toda essa raiva atrás da porta.
Fiz o que ele pedia, obediente.
- A pior parte... Imagine que Lúcifer está lá, sentado em uma poltrona atrás dessa porta. Já imaginou?
- sim.
- Agora bata na porta.
Respirei fundo, não sabia se iria funcionar, mesmo assim obedeci e bati na porta. Eu mal havia a tocado quando tudo se escureceu e eu senti que estava descendo. A mesma sensação de quando se está em um elevador, porém, era bem mais assustador.
- Analu? - Mariana cochichou.
Abri os olhos mas não vi nada, estava um breu.
- Estou aqui. - falei.
Senti que ela me procurava e estendi a mão para tentar tocá-la, por fim nos encontramos e demos as mãos.
- Alguém ai? - ouvi Felipe dizer - por favor... não vejo nada.
- Felipe, estamos aqui. - Mariana cochichou, eu podia notar o medo em sua voz.
- Estão aqui. - Ele disse para alguém, e eu pude reconhecer a voz feminina que respondeu, era Helena.
Todos tateamos o ar a nossa frente até tocarmos os corpos sólidos uns dos outros, demos as mãos.
- E agora? - Mariana perguntou.
Observei a escuridão que nos rodeava, nada parecia fazer sentido. Como aquilo podia ser o inferno? Era tão silencioso que eu podia ouvir a respiração dos três, o clima era ameno, nem quente e nem frio. Nenhum cheiro, nada que indicasse mesmo que de longe o inferno das histórias que eu ouvira a vida inteira.
- Analu? Mariana? - Dominic chamava - onde vocês estão?
Logo em seguida Mike gritou nossos nomes, e antes que fosse a vez de John, Mariana respondeu.
- Todos atravessaram? - perguntei depois que já estávamos todos juntos.
- Sim... agora todos fechem os olhos e acreditem que podem enxergar... isso é um teste para os anjos que tentam invadir, alguns ficam perdidos aqui acreditando estarem cegos para sempre.
Fechei os olhos e acreditei que podia ver. Abafei um grito com a mão quando os abri. Nada de fogo, nada vermelho, nenhum diabinho com chifres. A unica coisa que eu conseguia ver era uma espécie de sala, as paredes eram pretas e nenhuma luz iluminava o lugar, embora ele estive claro. No chão, bem próximo aos nossos pés, haviam vários corpos caídos, aparentemente sem vida, porém emitiam um som agudo e amedrontador, de modo que a sala parecia estar cheia de cigarras.
Mike nos guiou até uma porta, a madeira estava gasta e suja. Ele a empurrou cuidadosamente.
- Venham em silêncio, e permaneçam juntos, se conseguirmos encontrar Daniel sem que notem a invasão será ainda melhor. - Mike cochichou seriamente, aquilo parecia ser algo natural para ele, comandar exércitos em guerras. Não me surpreenderia se ele começasse a contar histórias das muitas guerras que participara.
O seguimos por um corredor estreito, e eu tinha a impressão de que ele diminuía a medida que avançávamos.
- Sabe onde encontrar Daniel? -perguntei.
- Tenho uma ideia de para onde podem tê-lo levado.
Aquilo bastou para eu não fazer mais perguntas. Era uma chance de o encontrar, e isso não é pouca coisa. Seguimos pelo corredor que parecia não ter fim, e de vez em quando eu escutava uns gritos, pareciam estar bem longe, mas mesmo assim me causavam arrepios.
Chegamos a outra sala, como a outra ela não tinha janelas e nem luzes, mas havia seis portas, uma ao lado da outra. Todas de madeira escura e velha.
- Qual delas? - John perguntou.
- São corredores, mas não tenho certeza de qual é o certo... - Mike encarava as portas - vamos ter que nos dividir.
- O quê? - Felipe falou.
- Vamos até o fim e voltamos para cá, nos encontramos e vamos juntos para a certa. - Mike concluiu.
- E qual será a certa? - Helena perguntou. - como saberemos que é a certa?
- É simples, - Ele suspirou - a certa dá para uma sala.
- E as outras? - perguntou Dominic.
- Escuridão.
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Anjos na escuridão
FantasiA vida de Analu parece perfeita, um namorado que a ama, um trabalho de que gosta, realizando finalmente a meta de tirar sua carteira de motorista... E principalmente, os anjos e demônios em paz entre si. Mas o que ela não contava era que uma revira...