"38"

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- Analu e eu vamos juntos, Mariana e Dominic vão naquele, Megan e John no outro e Felipe e Helena no ultimo. - Mike disse apontando os corredores.

- mas são seis portas, e somos quatro duplas... - disse John - talvez fosse melhor que alguns de nós fossem sozinhos.

- Para os anjos é perigoso ficar por aqui sozinhos, mas para demônios... não posso dizer o mesmo. - Mike continuou - mas eu prometi que cuidaria de Analu, não posso deixar que ela vá sozinha.

Respirei fundo, de fato éramos os únicos demônios, e embora fosse uma ideia assustadora, aquele lugar não era tão perigoso para mim quanto era para os outros.

- É só ir até o fim do corredor e ver se dá em uma sala, voltar aqui e vamos todos juntos. - sorri - não é assim tão perigoso, posso fazer isso Mike, não se preocupe.

- mas você não precisa. - ele rebateu - podemos ir juntos em um e depois no outro, você não precisa ir sozinha.

- é bom pouparmos tempo, quanto mais rápido encontrarmos Daniel e ir para casa melhor, eu vou sozinha e prometo voltar correndo para cá assim que chegar ao fim do corredor. - disse já me aproximando de uma das portas - quando voltarmos para casa podemos fazer uma festa no galpão infernal para comemorar o quanto foi fácil nossa missão suicida?

Todos riram do meu otimismo, talvez acreditassem que eu pensasse mesmo que voltaríamos todos para casa em segurança, mas a verdade era que eu estava tentando me enganar... Queria mesmo acreditar naquilo, eu precisava acreditar.

- Analu, - disse John se aproximando - tome cuidado, por favor.

Assenti, e sem dizer mais nada empurrei a porta e entrei. O corredor era exatamente igual ao que eu havia acabado de passar com o grupo, porém, bem mais assustador agora que eu estava sozinha. Ouvi o barulho da porta de fechando atrás de mim, fiquei tentada a voltar correndo e a abrir, mas eu precisava ser corajosa. Ficaria tudo bem.

Meus passos ecoavam pelo corredor que parecia infinito, e meu medo foi diminuindo a medida que nada de estranho acontecia. Nenhum barulho diferente, nenhum grito ao longe, apenas meus passos. Andei por mais cinco minutos até me dar conta que o meu era o corredor certo.

Virei as costas pronta para voltar e buscar o grupo, mas algo me interrompeu.

- ajuda... - uma voz sussurrou, parecia estar vindo da sala - quem quer que esteja ai, me... ajude...

Dei alguns passos em direção a sala, mas recuei... eu precisava buscar o grupo, ir sozinha não seria seguro. Mas por outro lado havia alguém ali pedindo ajuda, como eu poderia voltar?

- Quem está ai? - perguntei baixinho.

- meu... nome é... - ele parecia fazer um esforço enorme para falar, com toda certeza estava machucado.

- shh. - interrompi - vou procurar você, fique quietinho.

- Ana... Analu? - ele sussurrou - é você?

Gelei, mas logo me recompus e antes de responder corri para a sala. Uma luz fraca iluminava o lugar, e logo vi a silhueta escura em um dos cantos.

- Daniel? - eu disse, ainda com medo de me aproximar.

Ele não respondeu, apenas ficou lá, me encarando. Parecia não acreditar de verdade que eu estivesse ali. Andei os passos que faltavam para o alcançar, e ele fechou os olhos quando me ajoelhei a sua frente.

- Daniel, o que fizeram com você? - sussurrei.

Ele estava na antiga forma, o garoto de olhos negros que eu trombara no corredor da escola, porém, estava desfigurado... Os lábios vermelhos e inchados, os olhos roxos, mal pareciam conseguir ficar abertos, as mãos que estavam em seu colo possuíam cortes enormes, como se as tivessem chicoteado.

Toquei as bochechas dele com as pontas dos dedos, e só então ele pareceu acreditar que era real, e quando abriu os olhos pude ver um sorriso surgir.

- Eu vim tirar você daqui, - falei - todos viemos, mas precisamos voltar por aquele corredor, consegue andar?

Ele não respondeu, mas vi seu sorriso se desmanchar lentamente, e seus olhos foram fechando... Ele estava agora desacordado.

- Daniel, meu amor, precisa acordar... precisamos sair daqui. - disse dando leves empurrões em sua perna - vamos, por favor, acorde.

Mas ele não se moveu. Fiquei extremamente aliviada ao ver que ele estava respirando. Mas o que fazer? eu não podia deixa-lo ali sozinho, e também não conseguiria arrastá-lo até o grupo. Por um momento me odiei, se eu ao menos tivesse feito o que Mike dissera, conseguiríamos levá-lo.

Me arrastei para o lado de Daniel e deitei seu corpo no chão ao meu lado, com sua cabeça em minhas pernas seu rosto pareceu se suavizar. Ele estava mais confortável assim.

Uma hora ou outra o grupo viria pelo corredor que eu entrei para me procurar, então todos daríamos as mãos e iriamos para casa.

Mexi no cabelo de Daniel por nem sei quanto tempo, seu corpo estava coberto de uma fina camada de suor, a aparência horrível, os machucados que já deviam estar cicatrizados tinham uma coloração vermelho vinho partindo para o lado do preto, mas o meu Daniel ainda era o meu Daniel. E me dei conta de que, se algo viesse a acontecer com nós dois naquele momento, eu agradeceria por ele estar desacordado, porque assim, ele não me veria morrer.

- Daniel, - comecei - me desculpe, ok?

Comecei a chorar, eu soluçava, incapaz de me manter parada... As lagrimas vinham e vinham.

- Eu... eu vou lhe contar uma história: Era uma vez uma garota comum, ela vivia em uma cidade grande, ia a escola, tirava boas notas, possuía a melhor amiga do mundo... E uma vida completamente normal. Em uma fatídica manhã, uma pessoa entrou na sua vida como um furacão. Seu nome era Daniel. Desde então a vida dessa garota comum ficou meio que ensolarada, e acredite, ela não desejaria que fosse diferente... - limpei algumas lagrimas e respirei fundo - Ela o amou desde aquele dia no corredor da escola, desde o dia em que foi um idiota convencido e a confundiu de todas as maneiras possíveis. - comecei a chorar novamente, dessa vez as palavras saiam com dificuldade - Daniel, eu amei você desde antes de te conhecer, já era amor antes de ser... E eu vou te amar para sempre, por toda a eternidade, não importa o que aconteça eu vou te amar. Você pode achar que me causou dor e sofrimento e que talvez fosse melhor para mim nunca ter lhe conhecido, mas Daniel, meu amor, você não imagina o quanto sou grata por amar você, e não tem um dia sequer que eu não pense isso. Nossa história pode acabar aqui, nesse momento, e eu serei a pessoa mais feliz do mundo, porque eu amei você.

Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora