Abri os olhos num pulo.
- Daniel... - sussurrei, mas eu estava sozinha no quarto.
Olhei em volta, reconhecendo aos poucos a mobília. Estava na casa de John. Não sei como e nem quando, mas ele havia me encontrado, e me trazido de volta em segurança.
As lembranças do que havia acontecido antes de eu desmaiar me atingiram como uma onda, e de repente, eu já não sabia distinguir se tudo aquilo teria sido um sonho ou realidade. Mas algo em meu peito, o medo incessante, insistia em dizer que era real, e que talvez meu Daniel estivesse em perigo.
Saltei da cama atordoada, de alguma forma meu corpo parecia mais leve que o normal, mais... estranho que o normal. Não tenho ideia de quanto tempo fiquei desacordada, mas algo em mim havia mudado.
Fui até o banheiro, talvez um banho ajudasse a minha memória e o meu corpo a voltar ao que eram antes. Gritei antes que pudesse entender o por que de estar gritando, meu reflexo no espelho, mostrava agora uma figura totalmente diferente. Meu cabelo, antes cacheado e castanho estava liso e comprido até a altura dos meus joelhos e a cor... Negro. Como os meus olhos, igualmente negros.
Só me dei conta de que ainda estava gritando quando John passou pela porta correndo.
- O que houve comigo?! - continuei - O que está acontecendo John?!
John apenas me encarou, e seus olhos se suavizaram por um momento ao cruzar com os meus. Nós dois sabíamos o que aquilo significava, nós dois sabíamos que não era bom...
- Onde está Daniel? - perguntei por fim.
- Ele se foi já faz um ano Analu... pensei que já tivesse superado isso.
- Não, ele voltou! esteve comigo antes de... Mary aparecer.
- Imaginei que ela estivesse por trás disso. - John suspirou - Como ela conseguiu? Como conseguiu transformar você em um demônio sangue puro?
- Para onde ela levou Daniel? Precisamos procurar por ele, ele pode estar precisando de ajuda.
- Filha, tem certeza de que era ele?
- Tenho! Vamos procurá-lo, vamos! você vai ver... ele voltou, mas Mary o levou de volta.
- Está tudo bem? - Disse Felipe, parando abruptamente na porta ao me ver - Analu?
- Sim, sou eu. - Respondi,me lembrando de que agora, minha aparência era a de um demônio.
A gargalhada de Felipe ecoou pelo banheiro.
- Que merda é essa que houve com você? - Ele disse, ainda gargalhando.
- Me poupe Felipe. - Dizendo isso passei por ele nervosa. - Quanto tempo eu dormi?
- Algumas horas... Fiquei com medo de que não acordasse - Disse John andando atrás de mim- vi que seus cabelos estavam mudando de cor, mas esperava que seus olhos não estivessem tão ruins... e não estão, isso é uma boa noticia.
- Como assim? estão negros! - gritei.
- Mas não estão vermelhos.
O encarei, queria pedir explicações, mas não havia tempo. Eu precisava procurar Daniel.
- Onde está minha bolsa? meu celular... minhas coisas.
- Está tudo com Dominic, você deixou no carro antes de Leinad sequestrar você... ele está vindo para cá. - Disse Felipe - Era isso o que eu ia dizer antes de me deparar com... isso.
E então ele voltou a rir, antes que eu pudesse evitar revirei os olhos.
- Vocês vão me ajudar a procurar por Daniel ou não?
- Tem alguma ideia de para onde ele foi? - perguntou John.
Eu tinha, e temia ser um lugar onde não pudéssemos o alcançar... Mary dissera que ele voltaria para o inferno. Como eu iria até o inferno?
Expliquei aos dois toda a história, desde o sequestro até a aparição dos demônios, contei sobre Leinad e o porque de tudo aquilo. Ao contrário do que pensei, não fizeram perguntas, não duvidaram de mim e quando terminei, os dois suspiraram e se entreolharam.
- Vamos ter que chamar ajuda. - disse John.
Felipe trocara a moto por um fiesta preto, o que facilitou nossa ida a Brighton. Precisávamos ir ao Galpão infernal, onde encontraríamos demônios que talvez aceitassem nos ajudar, por uma boa quantia de dinheiro, é claro.
Eu não ia até lá já fazia algum tempo, e me lembrei da minha vida antes de tudo aquilo. Antes de trombar Daniel no corredor da escola quase dois anos antes. Me lembrei de que minha maior preocupação era estudar para provas e fazer o dever de casa. Talvez minha vida fosse melhor e mais calma antes de tudo isso, sem sequestros, sem mortes, sem surpresas. Pensei nisso por alguns segundos e me dei conta de que, tudo isso aconteceu não só porque tinha que acontecer, mas também porque isso poderia me ajudar a ter uma vida melhor. Melhor do que se não os tivesse conhecido.
Vai chegar um dia em que Daniel e eu ficaremos juntos, a guerra entre os dois mundos vai terminar, e poderemos viver em paz. Só nós dois. Por que eu já não sentia vontade de voltar para casa, eu queria fugir para bem longe, só Daniel e eu.
Me agarrei a esse pensamento e entrei no Galpão.
- Analu... - Felipe disse me pegando pelo pulso - Tem certeza de que quer entrar sozinha?
- Posso fazer isso. - sorri - Está tudo bem.
Desfilei até o balcão do bar e me sentei em uma das banquetas, precisava começar a distinguir quem ali era demônio e quem não era.
- Alguma bebida para a moça?- perguntou o barman.
- Uma coca com limão e gelo por favor... - e então me lembrei - Ah... e pode me dizer se Mike está aqui?
- Depende. Quem é você?
- Meu nome é... - Eu não podia dizer meu nome, era arriscado demais.
- se esqueceu?
- Meu nome é Ana.
O barman estreitou os olhos me encarando.
- Ele não está aqui. Agora dê meia volta antes que eu chame o segurança.
Fitei a porta pela qual eu havia entrado e encontrado Mike na ultima vez, ele tinha que estar lá. O barman estava mentindo porque não confiava em mim.
- Eu não posso mesmo falar com ele? -perguntei.
- Saia logo daqui.
Era tudo o que eu precisava ouvir, me virei rapidamente e corri até a porta onde Mike PRECISAVA estar. O barman gritou pelos guardas, mas não foram tão rápidos.
Entrei na sala e fechei a porta atrás de mim num estrondo.
- Olha... a ultima coisa que eu esperava quando acordei essa manhã era receber essa visita, e pelo visto está com problemas. - Disse Mike, que estava sentado em uma cadeira giratória, balançando de um lado para o outro.
Os guardas entraram, mas Mike fez sinal para que fossem embora.
- Em que posso ajudar você? - ele perguntou depois que todos saíram - espero que não tenha nada a ver com o fato de ter se tornado um demônio... a propósito, ficou bonita.
Eu não tinha tempo para ficar enrolando, então resolvi ser direta.
- Preciso que você e seus homens se juntem a mim...
- Vou ganhar um beijo em troca disso?
Era uma piada, mas eu não sorri.
- Ok... - ele continuou- O que supostamente vamos fazer?
- Vamos invadir o inferno.
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Anjos na escuridão
FantasyA vida de Analu parece perfeita, um namorado que a ama, um trabalho de que gosta, realizando finalmente a meta de tirar sua carteira de motorista... E principalmente, os anjos e demônios em paz entre si. Mas o que ela não contava era que uma revira...