"25"

2K 224 30
                                    


Os olhos de Maria brilharam com a confissão repentina, depois de alguns minutos me encarando completamente perplexa, me puxou para dentro com um sorriso de orelha a orelha.

- vamos! conte me tudo... e com detalhes.

Sorri, e me sentei na poltrona roxa com cheiro de camomila.

- bom... eu meio que me joguei do prédio de Megan, e de repente estava voando! foi tudo bem rápido na verdade. - continuei - achei que estava morta, então senti minhas asas e... meu Deus Maria! são tão lindas.

- Ok Analu... não vou nem perguntar sobre o fato do prédio, mas se puder contar eu agradeceria, já que me deixou curiosa e tudo mais.

- talvez outra hora Maria. - suspirei - estou feliz de mais para lembrar disso...

- ih... já tive noticias ruins esse ano para uma vida, então é melhor nem dizer mesmo.

- é... mas e você? como está... ai dentro?

- eu estou bem... boa parte do tempo consigo esquecer que ele não está mais aqui, não é mais como antes, dói bem menos agora.

- Todos sentimos a falta de Dominic...

- e de Nate... - ela completou.

- se você pudesse... - olhei para minhas mãos na tentativa de segurar o choro - se pudesse escolher não ter conhecido Dominic, para não ter que passar por isso, você o faria?

- não... eu sei que o tamanho do amor que sinto por ele nunca será maior que a saudade que estou sentindo, e sei que talvez ele nunca mais volte e eu seja obrigada a viver com essa dor para sempre, também sei que posso não aguentar e acabar fazendo alguma loucura, mas eu não abriria mão das lembranças que tenho de Dominic por nada nesse mundo, e se eu tivesse a chance de dizer algo a ele, eu diria que sou muito grata e que o amo... Não consigo me arrepender das escolhas que fiz, não consigo me arrepender de Dominic. Não me arrependo de Dominic. - uma lagrima escorreu dos olhos de Mariana, mas ela sorriu para mim embora não tenha limpado a lagrima - Eu sinto muito a falta dele Analu... mais do que deveria.

Não respondi, apenas fiquei ali, olhando Mariana lembrar de algo, provavelmente estava lembrando das coisas que havia feito com Dominic, e eu tive a certeza de que, se eu pudesse ir no lugar de Dominic, para que Mariana pudesse ficar bem, eu faria isso sem a menor duvida.

- sente falta de Daniel? - ela disse interrompendo o silencio.

- mais do que deveria...

Ela sorriu.

- as vezes fico imaginando que ele vai entrar por aquela porta e dizer: Sentiu saudades Mariana? - ela disse fazendo a melhor imitação da voz de Dominic que podia.

Sorri.

- bom... - algo me interrompeu, uma coisa no canto da sala me chamou atenção, um vulto quase imperceptível tinha por lá estado, e eu sabia que não era coisa da minha cabeça.

- o que foi?ficou pálida de repente.

Continuei encarando a parede a minha direita, ouvi algo se mover na escada, pés pequenos subiam correndo... disso eu tinha certeza.

- ouviu isso? - perguntei.

- o que?

- os passos...

- Analu, por favor se acalme, eu escutaria antes que você pudesse passar por aquela porta... meus sentidos são mais.. aguçados que os seus.

Ela começou um monólogo sobre as coisas que Dominic gostava de fazer, mas a essa altura eu já não estava mais interessada, então uma risada ecoou pela casa.

- agora! ouviu isso agora?

- o quê? - Mariana disse confusa.

- a risada!

- não grite comigo Analu! como eu estava dizendo... Dominic costumava mexer no meu...

Continuei prestando atenção a cada ruido por menor que fosse, ignorando apenas o que Mariana dizia. Mais barulho no andar de sima.

- Analu parece distante... o que foi?

- Dominic falava que você era chata.. continue... - disse sem nem prestar atenção, isso pareceu bastar para Mariana continuar o monólogo.

Ouvi outros passos nos degraus, e sem conseguir me conter eu corri escada acima. Ouvi Mariana chamar meu nome, mas eu não voltaria antes de ver o que estava lá em sima.

Me deparei com um corredor estreito, três portas, duas a esquerda e uma a direita... Nada parecia fora do comum ali.

- Analu! - Mariana gritou mais alto do que o necessário - não consigo subir, não consigo me mover...

- O quê? - gritei de volta, pronta para descer.

Assim que me virei, voei para longe, estando agora no fim do corredor. Algo não queria me deixar descer, algo não queria que Mariana subisse.

Tentei correr novamente para baixo, mas parecia haver uma parede invisível entre mim e a escada.

- Mariana!- gritei - está tudo bem?

- não consigo me mover Analu! me ajude...

- eu não consigo descer! não consigo ir até você...você precisa chamar ajuda! tente gritar o mais alto que puder...

Depois disso Mariana não disse mais nada, chamei por ela incontáveis vezes, mas não obtive resposta. Estava desesperada.

Ouvi passos vindo em minha direção, não havia nada no corredor, mas o barulho estava cada vez mais perto.

- Maria! - gritei mais uma vez.

- shh... - algo cochichou ao meu lado.

estremeci, mal me movia.

Então uma mãozinha gorda tocou meu ombro, dei um pulo ao ver Nicole ao meu lado. A garotinha que a muito tempo eu não via, a garotinha que eu preferia não ver de novo estava bem ali, parada ao meu lado.

- Oi Analu.

- O que você está fazendo aqui? o que você quer Nicole?

Ela olhou para o chão, parecia triste e ao mesmo tempo assustada.

- Não quero nada... não vim aqui para pedir nada.

Seus olhinhos me analisaram, ali de perto, ela parecia apenas uma menininha que se perdeu da mãe no shopping.

- Quem é você Nicole? - perguntei por fim.

- Eu sou a morte Analu... mas pela primeira vez eu não vim levar nada, eu não quero mais ser a coisa mais temida por todos... eu não quero mais ser a morte, não quero mais ter que fazer o que mandam, levar quem eles quiserem que eu leve!

- a... a morte? - pisquei algumas vezes - você é um demônio?

- não! - ela disse, mais para ela do que para mim - todo mundo pensa que a morte é um demônio, mas não sou! sou um anjo... o anjo da morte... o anjo que faz coisas ruins e continua sendo um anjo... o pior anjo que existe.

Suspirei, sentindo o medo me invadir.

- Então o que você quer? - perguntei novamente.

- não quero nada Analu, já disse.

- o que está fazendo aqui? - me corrigi.

- eu vim devolver o que não deveria ter levado.


Anjos na escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora