Voltei para a casa abandona e meu pai me abraça quase chorando. Ele não fica muito feliz quando vê Fen e meu curativo na bochecha.
- Mas o quê...? – começa ele.
- Calma pai! Fen só me ajudou a voltar para cá, nada demais.
Fen e meu pai se estudando como cão e gato. Esperava mais da expressão de Fen, ele também parece desconfiado sobre a visão do meu pai, não se parece com a pessoa que conheci a poucas horas.
- Tá bom, eu e ele vamos lá pra fora, tá? – falo.
- Tá legal... – meu pai parece relutante em aceitar, será que ele é ciumento?
Ao invés de arrastar Fen para fora, ele que me arrasta. Vamos em direção à um beco e ele me prende na parede. Tentei me soltar, parece até um estuprador preste a cometer o crime.
- Não confio no seu pai – fala Fen de repente.
- O problema é seu! Acabamos de nos conhecer, você só veio me deixar aqui em casa por que me perdi, lembra?
- Hum...
A expressão dele se contrai, parece determinado agora. Não sei porque mas corro na primeira oportunidade, se é pra ser amiga de um lunático então prefiro me afastar.
Chego em casa e nos preparamos para ir almoçar em algum lugar. Antes de sair escuto um barulho no meu quarto e vou checar: nada. Vamos a um restaurante fast-food onde meu pai anuncia:
- Filha, vamos embora hoje.
- De novo? Não deu nem um dia! – falo mas ele ignora. Tenho que aprender de uma vez por todas que nem tudo posso nessa vida.
Voltamos para casa, minhas coisas já estão praticamente arrumadas. Meu pai pega os casacos dele da nossas camas improvisadas e guarda na sua enorme mochila. Pego minha minúscula mochila e pego minha mala do chão mas jogo no chão de novo por que está muito pesada.
- Pai, pode me ajudar aqui? – pergunto.
- Claro, deixa com seu pai.
Até ele esboça uma cara de esforço. Não sei o motivo de estar tão pesada, nem mexi na mala.
Mais tarde, já no aeroporto, pagamos o taxista e pegamos as nossas coisas do carro.
- Crys...tal, peça pro taxista vir ... argh...ajudar, sua mala está pesadíssima.
Peço para o taxista. A mesma coisa foi para despachar a minha mala, duas pessoas tiveram que ajudar. Não sabia para onde iriamos, mas entrei no avião e adormeci antes de perguntar qualquer coisa.
Acordo por causa de uma turbulência. Olho para janela e vejo um deserto e depois muitos prédios altos. Dubai, estamos em Dubai. Isso me faz ficar animada, é uma cidade onde só tive contato em documentários na televisão, você pode comprar até ouro!
Quando pousamos, vou logo em direção as esteiras para pegar a mala. Olho para o painel onde mostra pessoas ajudando a por as malas na esteiro, reconheço a minha. O cara parece ter dificuldade para tirar mas dá um chutão na minha mala e ela fica, finalmente, na esteira. "Por quê está tão pesada?", penso.
Meu pai consegue levar e depois revezo para quando chegarmos no hotel.
O hotel é de 4 estrelas, meu pai confirma nossa chegada para o hotel e logo recebo a melhor noticia em dias: vou ter um quarto só pra mim. Meu quarto é bem ao lado do meu pai, é muito espaçoso, tem vista para um deserto incrível, colunas feitas de ouro, etc.
Me jogo na cama confortável do hotel, minhas coisas devem chegar logo. Tenho tudo aquilo mais por que estou me sentindo vazia? Deve ser porque minha vida foi resumida em mudar para interiores e poucas vezes você encontra um luxo desses. Faz tanto tempo que minha mãe morreu... quase não lembro do seu rosto alegre, a face brilhando ao pôr do sol, meu pai disse que ela morreu em um acidente de carro mas penso, às vezes, que isso é totalmente inaceitável para mim. Tenho sonhos e pesadelos com ela, minha infância é resumida em sofrimento alheio.
Agora conheci Fen, nunca na minha vida olhei para alguém como ele e pensar nele como amigo. Agora pus tudo a perder, sou um monstro sem alguém para amar, um anjo caído...
Alguém bate na porta interrompendo os meus pensamentos. Abro a porta e dois homens estão ofegantes carregando a minha mala.
- Está aqui... senhorita.
Peço para botarem urgentemente na cama. Os dois fazem o que peço e batem a porta atrás de mim depois que saem. Cara, O QUE TEM NESSA MALA PARA ESTAR TÃO PESADA? Não pode ter tanta coisa assim, só alguns livros e roupas, o resto guardo na minha mochila, então por que está pesada?!
Finalmente resolvo abrir a mala. No momento em que abro o zíper, um chute atinge a tampa e me faz cair no chão. Por um segundo, vejo um rapaz desabrochando da miha mala e no outro segundo vejo... FEN! O QUE ELE TÁ FAZENDO DENTRO DA MINHA MALA?
- Aaaah... ar puro – suspira ele.
- Fen... o que você tá fazendo na minha MALA?
- Eu disse pra você que não confio no seu pai.
Isso me fez quase explodir de raiva. Durante todo esse tempo Fen estava lá, dentro da minha mala, se eu estivesse prestado mais atenção.
- Foi até fácil – diz ele – sua mala estava pouco vazia, mas ainda bem que sou bem magro.
- SEU LIXO, EU VOU TE MATAR.
Avanço para cima dele, a mala cai no chão espalhando as minhas coisas mas não ligo, só quero estrangulá-lo. Mas ele é muito mais forte que eu, ele fica em cima de mim segurando meus braços acima da minha cabeça e sussurra no meu ouvido:
- Olha, eu não confio no seu pai, só vim aqui te proteger.
- Para quê? Só nos conhecemos a um dia.
- Não preciso conhecer para saber que você precisa de ajuda.
Me acalmo. Não sei o que ele quer dizer, mas de acordo com ele o meu pai é muito perigoso. Mas não parece, não vou acreditar nele sem provas.
Escuto a porta bater de novo e não vou atender. A porta bate novamente seguido de uma voz: meu pai!
Faço sinal para Fen ficar quieto e se esconder, não quero mais confusão. Abro a porta e papai entra investigando as coisas.
- O que eram aqueles barulhos? – pergunta ele.
- Que barulhos? Ah, você deve ter confundido com a TV.
- Certo, então, vou embora.
- Tchau.
Fecho a porta e olho no olho mágico. Fen aparece atrás de mim.
- Viu? Ele é um maníaco! Ele estava atrás dessa porta o tempo inteiro ou tentando te escutar do outro lado da parede, só pode.
- Tá dizendo que meu pai é um maníaco perseguidor de adolescentes? – pergunto.
- Mais ou menos isso. Eu sei reconhecer uma pessoa confiável de alguém não confiável, acredite em minha, por favor! – insiste ele.
- Veio na minha mala só para me dizer isso?
Dessa vez o deixo quieto. Vai ser uma longa viajem, talvez até a mais longa da minha vida. Tenho certeza.
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Até onde você for...
RomanceQuase 12 anos se passaram desde a morte "acidental" da mãe de Crystal. Desde então, ela muda constantemente de cidades por causa de seu pai, que parece estar sempre com medo das autoridades. Em uma parada em Nova York, Crystal conhece a pessoa que m...