Meu pai está me perseguindo!

152 10 5
                                    

- Sério, Fen... preciso falar com você mas em outro lugar, sabe... sem ser na cela - digo.

- Tá, mas aonde? - pergunta ele.

- Talvez se conseguirmos a chave do guarda e...

- Com licença, senhora, mas não sou nem um pouco surdo - o segurança aparece magicamente atrás de mim e isso me faz da um pulo de susto. - E você e o senhor Fen tem um quarto reservado para caso madame Dacota e sua família acreditassem em vocês... me sigam, por favor.

Fico sem jeito, mas continuo acompanhando a passos largos o segurança.

Paramos em uma porta de madeira polida e cheia de detalhes. O segurança puxa de dentro do bolso uma chave e destranca a porta. O quarto é simplesmente maravilhoso: duas camas, TV a cabo, frigobar, ar condicionado... resumindo, é muito diferente do que costumava ficar.

- Oh! - disse Fen admirado. - Obrigado, hã... qual é seu nome mesmo?

- Carlos - disse o segurança mal humorado.

- Carlos! Obrigado por nos proporcionar um lindo quarto!

- Disponha... Se estiverem algum problema, por favor, não me chamem!

E com isso, a porta se fecha com violência atrás de nós. Olho para Fen e ele já está jogado em cima da cama.

- Nossa, eu não pensei que deitaria em uma cama de novo - disse ele.

- É... bem macia - falo sem humor algum.

Normalmente consigo esconder quando estou triste, mas nessa situação parece quase impossível. Toda vez lembro do que madame Dacota falou, e quem são essas três pessoas da qual ela se referiu? Meu coração não aguenta mais, às vezes penso que preciso de uma amiga de verdade, aquela que nunca te abandona nos momentos difíceis da sua vida, tipo agora.

- Crystal, você queria me falar alguma coisa, né?! - pergunta ele.

- S-sim, Fen eu... eu...

As palavras ficaram presas na minha garganta, pareciam não querer sair mesmo que eu tentasse. Me encosto na parede e sinto as lágrimas se acumulando. POR QUE É TÃO DIFÍCIL FALAR?

- O que aquela senhora falou para você? - pergunta Fen de repente.

- Hã? - tentei me fazer de boba.

- Não brinque comigo, Crystal. Me fala: o que ela falou para você?

Cubro meu rosto com as mãos. Sinto meu sangue descer, meu coração batendo mais acelerado e a gravidade desaparecendo. Estou com vergonha de falar sobre estarmos destinados?

- F- Fen, você... você e eu, nós... argh! - tento mais uma vez, o que não dá muito certo.

De repente, sinto um leve movimento. Sinto as mãos de Fen em cima das minhas. Com cautela, Fen tira minhas mãos do meu rosto, estamos muito próximos um do outro e ele ainda segura as minhas mãos. Meu coração começa a bater mais forte, dou um suspiro tenso.

- Você tem lindos olhos - disse ele ainda me admirando. - Agora me conta... o que ela falou?

Pondero um pouco, Fen está tão próximo que não consigo pensar em mais nada. Literalmente em MAIS NADA. Nunca estive tão próxima de um garoto quanto estive agora, ai meu Deus o que eu faço?!

- Tá, se você quer que eu te obrigue... - disse ele.

Ele me carrega sem minha devida permissão. Me debato até ele me jogar na minha cama, ele começa a fazer cócegas em mim como naquele dia em Dubai e, de novo, dou aquela risada de ursinho carinhoso já crescido. Não é necessáriamente uma risada ruim, só é fofa demais.

- Tá bom, tá bom... HAHAHAHA... Tá, para... HAHAHAHA... EU CONTO.

Fen deita ao meu lado, tento recuperar o fôlego o mais rápido possível.

- A madame Dacota disse que nossos mundos já se "colidiram" uma vez, isto é, já nos encontramos em alguma parte da vida. Tem algo a falar?

Fen fica quieto, nossos olhares se cruzam como quem disse: "Agora sim, eu te peguei!".

- Não sei de nada - disse Fen.

- Para de bancar o burro! Você sabe mas não quer contar! - exclamo.

- Se tem tanta certeza assim, então me explica: como você me encontrou?! - grita ele.

Dessa vez o olhar dele que disse: "Vai , agora parti pra briga!". Vasculho minhas memórias mas não consigo lembrar de nada, toda vez que faço força a minha cabeça começa a doer.

Acho que Fen percebou minha hesitação e começou a me tranquilizar:

- Crystal, nem tudo que veem é verdade, mas não posso te contar nada ainda. Prometo que quando puder vou esclareçer toda essa história.

Ponho minha cabeça entre os joelhos. São tantas perguntas a serem respondidas, fico perdida no meio de tantas e tantas perguntas. Fico tranquila quando Fen está por perto, mas quando ele se afasta tudo de ruim parece acontecer, acho que ele está "destino a me proteger".

Alguém abre a porta, viro-me e vejo uma empregada com aquele uniforme que só se vê em filmes.

- Senhores, mil perdões por encomodá-los. Vim para fechar suas portas e janelas pois ladrões invadiram a casa - disse a emprega super preocupada.

Assim como Fen, levanto me da cama. Pedimos para empregada sair que nós fechariamos. Tranquei as portas enquanto Fen tranca as janelas. Não estou tão preocupada em relação as ladrões, dúvido muito que vá demorar para serem pegos com essa quantidade de guardas dessa casa/mansão.

Resolvemos ir logo dormir, mesmo que eu tenha dormido por 5 dias ainda estou cansada. Fico olhando para o escuro até que meus olhos se fecharam.

No meu sonho vi um menino mas não o parecido com Fen, um parecido comigo. Bom, não tão parecido mas se parece, parece.

A menina parecia zangada com ele e ,de algum forma, triste.

- Você sabe que mamãe odeio quando se mete em confusão, Leon! - disse a menina.

- Mais o garoto xingou a nossa mãe! - se explicou ele.

- Não estou nem aí! Você sabe que a gente não liga pra essas coisas!

A menina é tão pequena e já parece ser tão madura, mas madura do que eu. O tal de Leon ignora a menina e sai resmungando do quarto. A menina não parece nem um pouco arrependida do que falou, mesmo pelas palavras terem doído até nela.

Acordo no meio desse sonho. O quarto está escuro e não tem nenhum barulho iminente, olho para o relógio do meu celular e são três horas da manhã. Tento dormir de novo, me remexo feito uma louca na cama mas nada acontece. Vai ver que eu perdir o sono (eu sei. 1...2...3... NÃOOOOOOO, JURA QUE VOCÊ PERDEU O SONO?)

Fiquei encarando o teto lustruoso, como uma família pode ser tão rica assim? E por que praticar mandinga? Meu pai nunca gostou disso e... e... e quem liga? Ele virou meu inimigo agora. Mas não posso deixar de ser a filha dele, viver sobre a proteção de um pai por tantos anos é uma coisa difícil de se desapegar, não posso só dar de ombros e sair como se não estivesse nem aí.

É tudo muito estranho.

Enquanto pensava nisso ouvi um barulho de porta abrindo. Me viro de lado e espio a porta com os olhos semiabertos para pensarem que estou dormindo. Duas pessoas entram no quarto e acabo reconhecendo uma delas: o segurança Carlos. Ele se mexe com tanta frieza que nem parece um guarda de verdade.

- Vamos logo com isso! Quero ir pra casa e ter meu dinheiro! - disse o mais baixinho.

- Se controle,  só vamos pegar a garota e matar o garoto, simples assim, okay?

- Urgh! - resmunga o baixinho. - Tá legal.

Com certeza foram mandados pelo meu pai. Sem dúvidas ele está me perseguindo.












Até onde você for...Onde histórias criam vida. Descubra agora