- Droga! - me revirei pela décima vez no colchão improvisado no sofá.
Depois de todos os acontecimentos, todo mundo (e quando digo todo mundo é todo mundo) resolvemos não nos separar. Em parte considerei a atitude correta, pois temos dois "prisioneiros" em casa e que eram capangas do meu pai, o pior é que só eu sei disso.
Por alguma razão, estava aparentemente ansiosa pela conversa com o Mark. Até por que: não é todo dia que um criminoso vai te dar informações que você nem ao menos sabe.
Senti algo cutucando meu pé. Quase chutei a tal pessoa que havia feito isso em uma tentativa frustrante de esconder que estou acordada. Mas não adiantou nem ao menos fechar os olhos.
- Crystal, eu sei que está acordada.
Fui abrindo lentamente o cobertor para dar espaço aos meus olhos, desejando ao máximo que aquela pessoa voltasse a dormir, mas aí vi aqueles olhos que me transmitiam tanta confiança: Fen. Havia me esquecido da nossa separação de colchões, eu e Iris permanecemos em um canto qualquer enquanto os garotos se amontoavam no meio da sala. Acho que Fen quis se aproximar.
- O que está fazendo? - pergunto como se estivesse incomodada com sua presença, mas Fen é uma das únicas pessoas da qual não me sinto incomodada. - Volte pro seu lugar.
- Preciso falar com você - sussurrou ele. - Pegue um casaco, vamos lá pra fora.
Esperei Fen ir embora primeiro. Voltei a ficar ansiosa pois seria uma das únicas vezes que ficaríamos sozinhos desde a nossa chegada ali, mas sinceramente: não sei o que me espera, Fen é um homem cheio de surpresas.
Peguei um casaco qualquer que haviam colocado por ali e me dirigi para fora. Uma rajada de vento frio me atingiu em cheio no rosto, fazendo com que minha respiração ficasse fria e todos os pelos do meu corpo ficassem arrepiados. Esfreguei o nariz e espirrei.
- Tem renite, Crystal? - perguntou alguém, que imediatamente identifiquei como sendo Fen.
- Só um pouquin... - não consegui acabar a frase e espirrei novamente.
- Seu nariz parece ser sensível. Vem, senta aqui.
Ainda com o nariz meio irritado, me dirigi até Fen e sentei ao seu lado. Olho para o céu, a quantidade de estrela é com certeza impressionante.
- Crystal... posso te fazer uma pergunta? Se sim, pode me responder da maneira mais sincera que conseguir? - ouço Fen pronunciar isso calmamente, mas mesmo que eu ainda esteja olhando para cima, percebo seu tom sério.
- Bem, acho que sim, depende do que for falar - digo.
- Okay, então... lá vai - sinto um toque na minha mão e logo em seguida ela se esquentando mais, isso fez com que olhasse imediatamente para frente. - Você não percebeu nada desde que chegou aqui? Notou alguma coisa de diferente ou melhor sentiu algo diferente?
Não sei se prestava atenção a sua pergunta ou nos seus olhos, que reluziam na escuridão estrelada. Demorei um tempo para processar a pergunta e me perguntei quase que automaticamente: "algo de diferente? Tudo está tão diferente, ainda há mais para eu notar?".
- Na verdade, não - digo com toda sinceridade que consigo reunir em minha voz. - Eu deveria percebe mais alguma coisa?
- Bem, deveria, mas... deixa pra lá - disse ele, por fim. Mas continuei insistindo.
- Tem alguma coisa que deveria saber? Por favor, Fen, conta logo!
- Não é nada, talvez mais tarde, quanto tudo acabar - confirmou Fen.
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Até onde você for...
RomanceQuase 12 anos se passaram desde a morte "acidental" da mãe de Crystal. Desde então, ela muda constantemente de cidades por causa de seu pai, que parece estar sempre com medo das autoridades. Em uma parada em Nova York, Crystal conhece a pessoa que m...