Não vá embora

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Na manhã seguinte, acordei com a cabeça apoiada no ombro de Fen e com Hendry ainda dormindo em meu colo. Qualquer um que entrasse no quarto acharia isso estranho. Eu estava sentindo outra coisa além de "estranho". Não sei explicar muito bem esse sentimento.

­– Fen? Por favor, acorde – digo enquanto balanço seus ombros, com dificuldade já que ele está quase em cima de mim.

Por um segundo seus olhos se abrem, mas novamente se fecham. Acabo desistindo e tento arrumar um jeito de Hendry e Fen se ajeitarem na cama para eu poder sair. Quando finalmente consigo, encaro o corpo de Fen por cima do Hendry e me pergunto se é melhor deixá-los nessa forma.

– Acho melhor dizer que não sei sobre nada... – digo para mim mesma.

Olho para janela, o sol ainda não apareceu no horizonte, mas não estou com nenhum pingo de sono. Envolvo meus braços em volta do meu corpo e percebo o quanto está frio. Vou até a porta e giro a maçaneta cuidadosamente, faço a mesma coisa com a porta quando a fecho.

O corredor está escuro e bastante sinistro. Continuo andando tocando as paredes para tentar não esbarrar em nada, com somente meu braço direito envolvendo meu corpo para tentar fornecer calor.

A medida que ando, escuto barulho de alguém digitando. O barulho permanece cada vez mais nítido até que encontro a raiz desse barulho.

A porta está entreaberta, olho para dentro e vejo um dos gêmeos digitando em seu computador. Acho que fiz algum ruído, pois ele se virou assustado e quando me viu respirou aliviado.

– Ah, é só você – disse ele.

– M-me desculpe, fiquei curiosa demais – digo.

O gêmeo ri.

– Tudo bem, lembre-se... sou o Tom – disse ele como se lesse meus pensamentos. – Entra, tá frio aí fora.

Tom parece bem concentrado no que, seja lá, o que esteja fazendo em seu computador. Sento na beira de sua cama, é um beliche e provavelmente Thomas está dormindo na cama de cima.

– Costumamos ficar a noite toda jogando – disse Tom. – Eu não sei o que deu nele hoje.

Ele aponta para a cama de cima, confirmando minha suspeita.

– O que faz acordada tão cedo, se não se importa em falar? – pergunta ele, o mesmo se vira e me encara.

– Eu só acordei e não fiquei mais com vontade de dormir – digo e logo em seguida abraço um travesseiro de algum desenho animado que peguei sem perceber na cama de Tom.

– Entendo.

Me encolho na cama. Sinto meu corpo adquirindo calor aos poucos e logo sinto o sono tomando conta de mim. De repente eu durmo novamente.

É sério, às vezes eu não entendo o meu corpo. Uma hora sinto que posso fazer tudo e na outra já me sinto extremamente cansada.

No meu sonho, caminho por um corredor escuro... o mesmo corredor que estava andando agora a pouco. Sinto algo em minhas mãos e a levo para perto do meu rosto para que consiga ver. É um canivete. Também percebo que consigo meio que controlar o meu sonho agora.

– O que está acontecendo? – pergunto para ninguém em particular.

Caminho ainda segurando o canivete, dessa vez não escuto o barulho das teclas do computador de Tom e nem me aproximo do quarto. Meus instinto me mandava ir para outro lugar.

Chego na entrada do porão. Bato na porta por instinto e a porta começa a se rachar como vidro depois de uma batida. Desfiro um soco bem forte e a porta se quebra em milhões de pedaços.

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