Me tirem daqui

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Todos os dias eu espancava aquela porta e muitas vezes chorava. Não estava achando uma tomada no quarto que se encaixasse com o carregador, realmente ele pensou em tudo.

Mas o que teria feito com Fen? Talvez tenha voltado para Paris terminar o que começou... não, sinceramente não quero pensar nisso. O quarto é sem janelas por isso estou isolada do mundo, a maior parte dos móveis estão pregados no chão e isso me impedi de usar força física para sair dali. Pensei até em quebrar o vidro da penteadeira, quando o guarda em frente à minha porta viesse ver enfiaria um caco de vidro na nuca dele.

Mas só consegui um machucado no punho, porque o vidro é aprova de balas. E quando é aprova de balas é aprova de tudo.

Já estou sem alternativas para fugir e minhas esperanças estão esvaziando cada vez mais. Por isso vou até o guarda-roupa de luxo no canto do quarto e tiro uma muda de roupas, que são minhas já que deixei tudo em Dubai quando fugi com Fen.

Entro no banheiro exageradamente grande onde tem uma banheira, dois chuveiros e uma pia enorme. Tiro a roupa que Judith me deu, só não rasgo tudo porque foi ela quem me deu... a pessoa que me ajudou a fugir. Bato voluntariamente minha cabeça na parede de mármore me culpando por tudo que está acontecendo. Se eu tivesse resistido mais, lutado mais, ganhado mais, ajudado mais... !

Começo a socar a parede inúmeras vezes sem me importar com o punho machucado e me sentindo preste a explodir de raiva. Para me aliviar, entro em um dos chuveiros e espero até que a água molhe minhas lágrimas, que parecem ser as únicas gotas de água em uma maré completamente cheia.

- Sou uma idiota... – falo para mim mesma.

Analiso o grande banheiro enquanto me enxugo, mas vejo algo que atrai minha atenção: a janelinha do banheiro. Está aberta, parece também que não tem trava que limite seus movimentos. Aquilo é a minha salvação, com certeza é a minha salvação.

Me arrumo rapidamente e deixo para pentear o cabelo quando estiver longe desse lugar. Uso a cadeira da penteadeira e a encosto na parede, bem acima está minha possível saída. Me estico para me apoiar no parapeito, mas a janelinha é muito alta, preciso de um segundo apoio.

Volto para o quarto e vasculho tudo. A maior parte dos livros que tenho estão aqui, mas não são o suficiente... preciso de algo maior e a resposta da minha dúvida está ao lado da cama. O frigobar. É o único que dá pra tirar do lugar, mas ele não está ligado na toma, o que é um problemão. O fio que o conecta está plugado em algum lugar do quarto e também pregado na parede, vai ser complicado tirá-lo.

Tiro toda a comida e todas as bebidas, posiciono minhas mãos na parte inferior do frigobar e começo a fazer força para movimentá-lo. Entre os rangidos e gemidos de dor, sinto a mini geladeira saindo do lugar. Com um pulo, uma chuva de faíscas surgi e caiu para trás em uma tentativa horrível de tirar o frigobar. Horrível, mas pelo menos consegui.

O fio ainda continuou liberando faíscas, aquilo pode causar um incêndio no quarto, mas pelo menos vou estar bem longe quando as coisas esquentarem. Ponho todos os livros e almofadas dentro do frigobar para evitar que ele quebre quando subir (até porque não sou tão levinha). Subo cautelosamente por cima do frigobar, por sorte ele não quebrou, mas não irá me aguentar por muito tempo.

Consigo alcançar o lado de fora e... Nossa, como é bom sentir ar puro depois de horas presa naquele quarto claustrofóbico. Caiu em uma varanda do andar abaixo, consigo cair em cima do sofá de veludo branco por isso não teve muita dor. Mas agora vem a parte mais difícil: pra onde ir?

O pátio amplo está enfestado de guardas como se soubessem da minha fuga. Muitos riam e conversavam distraidamente, por isso não notaram uma segunda presença na varanda complemente vazia. Passo da varanda e vou até a lateral do prédio onde começo a me locomover sempre me segurando nas paredes. Respirei fundo por causa do meu medo de altura e continuei andando.

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