Apenas uma escapada

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Algumas horas depois, meu quarto está completamente vazio. Ligo o abajur ao lado da minha cama quando de repente escuto alguém me chamando:

– Crystal? Está acordada?

Reconheço a voz de Leon e me sento com o máximo de cuidado possível na cama.

– Estava... – esfrego os olhos. – O que está fazendo aqui hora dessas?

– Eu trabalho aqui, já se esqueceu? – ele se aproxima e senta ao meu lado. – Tá tudo bem?

– Sim... – respondo um pouco sonolenta. – Que horas são?

Leon aponta para o relógio digital perto da cabeceira, já é madrugada. Parece que fiquei mais lenta quando olhei às horas. Levanto mas logo Leon me pega pelos ombros e me deita novamente na cama, havia me esquecido de todos os soros e sobre ele nem ao menos ser meu médico responsável, ainda estou presa aqui.

– Relaxe... agora diga "Ah!" – pede ele.

Faço exatamente o que ele me pediu, me assusto quando ele aponta a luz da pequena lanterna na minha boca, examinando atentamente a minha garganta. Logo ele verifica meus olhos também.

– Kim veio aqui algumas horas atrás – disse ele.

Me lembro quase imediatamente de Kim. Ele é o coreano que me trouxe para o hospital quando precisei.

– Ele não queria te acordar, por isso foi para casa – disse Leon, que por fim termina o exame.

Antes de ir embora, Leon pega uma das flores do enorme buquê que Fen havia me dado e põe uma no bolso do jaleco.

– Tem uma paciente com câncer na ala 5 – disse ele. – Ela vai gostar de receber uma flor, ela ama flores.

Fico impressionada com tamanha gentileza dele. Geralmente médicos evitam fazer amizades demais com seus pacientes, mas parece que a garota da qual Leon falou não duraria muito tempo. Agora fiquei curiosa para conhece-la... talvez quando der uma passeada pelo hospital ou quando receber alta eu tenha essa oportunidade.

Leon esboçou um sorriso, bagunçou um pouco o cabelo e em seguida foi embora. Tentei dormir novamente, mas ficou extremamente difícil depois que fui acordada.

– Droga – resmungo. – Será que...

Levanto e sinto uma dor aguda na minha nuca. É como se mil raios estivessem atravessando meu cérebro ao mesmo tempo. Resisto a dor e tiro os soros do meu braço. Sei que é ariscado e pode custar minha vida, por isso tiro somente os que acho desnecessários e me arrasto com o suporte de soro.

A dor da minha perna engessada não me incomoda mais tanto quanto antes. Consigo andar normalmente apesar do corredor ter poucas luzes ligadas.

Por ser de madrugada, raramente escuto enfermeiros ou médicos pelos corredores. Utilizo as paredes como outro meio para me apoiar e continuo andando. Alguns estabelecimentos possuem janelas e dá para ver alguns pacientes. Alguns tem janelas forradas, por isso não dá para ver quem está lá dentro mas a pessoa pode me olhar nitidamente, só que lá dentro.

O hospital a noite não chega a ser assustador, mas não fico tranquila quando vejo uma ou duas luzes piscando no final do corredor. Passo por uma sala que diz ser "somente para funcionários", que está com as luzes acesas. Olho com curiosidade para as enfermeiras dormindo em camas improvisadas, deve ser cansativo passar o dia todo cuidando das pessoas.

Me afasto da sala e invento de descer o elevador até o segundo andar depois de ter certeza que vi tudo no meu andar. Me olho no espelho do elevador: estou pálida e com... olheiras? Sério? (Para informação de vocês, tudo que eu mais odeio são olheiras). Pareço exausta, mesmo por não me sentir assim.

Levo minhas mãos até meu cabelo, mas abaixo lentamente quando a dor começa. Não me preocupo tanto porque me falaram da cirurgia e essa dor deve ser resultado dela.

Saiu lentamente do elevador e encaro a janela que dá vista para o lado de fora, parece que faz anos que não respiro ar puro. Em todos os andares à recepções e todas aparentam estarem vazias. Caminho mais um pouco até escutar um chiado, ignoro o barulho mais aí escuto novamente e um par de mãos me cercam. Não grito porque tenho o costume de paralisar quando estou com muito medo, sinto meu coração batendo tão forte que parece estar sendo arrancado do meu peito.

– Crystal, que droga você tá fazendo aqui? – disse a pessoa.

Viro-me lentamente e dou de cara com Leon me olhando como se eu fosse louca. Bem, não queria que isso tivesse acontecido por isso continuo andando, como se meu estado atual pudesse me levar para longe.

– Ei, vem aqui!

Leon pega meus braços e me força à virar.

– Por que saiu do seu quarto? – pergunta ele.

– Lá é chato! – digo. – Quer dizer... droga, pareço uma criança mimada agora... eu queria sair um pouco.

– Sair uma ova! Seu médico te autorizou? – pergunta ele segurando meus braços ainda mais forte. – E se eu não estivesse aqui? E se alguma coisa estivesse prestes a acontecer? E se estivesse desmaiado?!

Leon está muito exaltado, é como se não quisesse me perder. Mas uma parte de mim reconheceu esse tom de autoridade... mesmo eu nunca tendo escutado, ou será que... não, acabei de chegar por aqui deve ser só um deja vú.

– Me desculpe, mas eu precisava!

– Precisava como?! – indaga ele. – Querendo se machucar e...- ele aponta para os meus braços – ainda tirou todos os soros!

Tenho que admitir: o que eu fiz foi realmente idiota. Mas eu queria sair um pouco e não sei porque não estou arrependida mesmo ouvindo todas essas coisas. Ele continuo me repreendendo enquanto esperava uma chance para me explicar, nossas vozes se misturaram por um tempo até que paramos ao mesmo tempo depois de ouvir passos.

– Vamos! – sussurra Leon.

Acho que nós dois achamos que seria bem ruim se nos encontrarem discutindo em um hospital silencioso e ainda de madrugada. Fomos para trás da bancada da recepção vazia, tive que me sentar por causa da dor aguda na minha nuca. Escuto o toque do telefone logo acima da gente e, ao invés de deixar tocando, a pessoa da qual ouvimos os passos atende.

– Alô? Ah, olá chefe...

– Você tem ideia de quem seja? – sussurro o mais baixo possível no ouvido de Leon.

– Não conheço ninguém com essa voz... – sussurra ele no mesmo tom.

– Ah! Sim, a garota está aqui... pode me recompensar agora?

Não faço ideia sobre quem ele está falando, mas começo a ouvir atentamente. Parece ser uma conversa de negócios, mas quem ligaria de madrugada e ainda para um hospital para falar de negócios?!

– Gostaria de um milhão pela cabeça do irmão dela, por favor... só cem mil? – ele parecia estar pensando. – Acho que posso viver com isso.

– Eu vou partir pra cima – sussurro Leon de repente.

– O que?!

Isso soou quase alto de mais, o cara para de conversar por alguns minutos analisando o local. Mas parece ter acreditado que não tem ninguém.

– Ele pode ser perigoso – sussurro ainda mais baixo.

– Mas ele está planejando assassinar alguém!

– Quer dar um "adeus" na garota também?! – o cara ri. – Tem certeza? É, pode ser...

Realmente, ele parece estar planejando matar alguém. Mas quem seria essa pessoa? Quando planejo falar com Leon sobre isso, escuto mais uma coisa que me chama a atenção:

– Ela vai dormir para sempre sem nunca saber de nada...

No começo não entendi, mas me chamou a atenção de várias formas diferentes. Olho para Leon, mas ele não está mais aqui.

Escuto gritos sendo sufocados e quando levanto o cara está sendo atacado por Leon.



NOTA: Primeiramente, espero que tenham gostado do capitulo. Segundo, vou postar mais um ou dois capítulos nessa semana porque infelizmente as minhas férias estão acabando ( #chorando). Bjs de uma otaku :)

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