A fuga

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POV'S CRYSTAL

Não sei quantos dias se passaram desde que liguei para Frederick, Hendry e Fen. Talvez três dias? Ou já uma semana?

Quer saber? Não faço ideia, já perdi a conta de quantas vezes fugi novamente para retornar a ligação, mas ninguém atendeu. As horas pareciam engatinhar enquanto andava de lá pra cá pelo quarto.

Já sentia que não ia aguentar mais.

Me sento na beirada da cama arrastando a sola do meu pé no tapete felpudo que cobre o chão. Olho para o frigobar entupido de livros, tentei disfarçar ao máximo para que ninguém visse o enorme erro no plug dessa pequena geladeirinha.

Meu pai nunca mais me visitou desde nossa briga, mas prefiro que seja assim ao invés de olhar repetidas vezes para ele.

Me ponho de pé e levo o frigobar junto comigo para o banheiro, logo volto para o quarto e pego uma cadeira.

Repito o mesmo processo que tenho feito quase todos os dias: entrar furtivamente por aquela janela, atravessar cautelosamente os corredores até chegar no telefone público instalado especialmente para funcionários.

Atravesso o pequeno chão que me separa da parede e da morte certa, caiu no sofá da varanda do outro andar, atravesso a mesma parede até estar na varanda correta. Me agacho e observo os guardas no pátio através das colunas de sustentação do parapeito.

A quantidade parece ser a mesma, os mesmos guardas desatentos conversam distraidamente e não notam minha presença. A brisa fria e o céu cinzento indicam que irá chover a qualquer minuto.

Tirando isso, está tudo ocorrendo normalmente. Até que tento abrir as portas para o salão, mas não consigo. Estão trancadas.

- Porcaria! - sussurro para mim mesma.

Normalmente utilizo as escadas de emergência para ir ao meu andar, mas agora não posso. Estou oficialmente presa. Sinto algo molhado pingando em meu braço, seguido de vários outros, a chuva está prestes a começar.

Me obrigo a pensar em alguma coisa, mas é inútil medindo as circunstâncias. Me apoio no parapeito para ver melhor o pátio: a maioria dos guardas foram se abrigar embaixo de árvores ou simplesmente foram para dentro da casa. A chuva ainda está no começo mas indica que será bem forte.

Suspiro frustrada e foi aí que caiu a ficha: não conseguirei voltar, terei me esconder ou atravessar o pátio.

- Se esconder é melhor - falo para mim mesma.

Tento repetir o mesmo caminho que faço, mas a chuva parecia dificultar tudo, até mesmo minha visão. Fico um pouco tranquila já que o andar não é tão alto e me sinto a vontade para atravessar. É... a vontade de mais , pois escorreguei e caí de costas na grama do pátio. Parece que todo o ar foi sugado dos meus pulmões e uma dor aguda se instalou da minha bacia até o pescoço.

Não consegui me mover por alguns instantes, cada movimento parecia uma tortura maior e mais dolorosa. Tossi múltiplas vezes e tenho certeza que quebrei umas duas ou três costelas. Levanto cambaleando e praticamente me arrasto para a árvore mais próxima, afim de me esconder caso alguém tenha me visto.

E estou certa: escuto barulho de passos vindos em minha direção. Mesmo pela dor preparo-me para batê-lo. O guarda se espanta com minha aparição, mas ele já está no chão quando me lanço em cima dele. Confisco a arma dele e aponto para sua cabeça, acho que não teria coragem de assassinar alguém a sangue frio mas estou assim para ameaçá-lo.

- Me leve para fora daqui! - sussurro em seu ouvido.

Sinto o guarda tremendo.

- Não posso, Crystal. Ordens do meu chefe, isto é, seu pai - disse ele.

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