Capítulo 17 - O depoimento de Dênis

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Dênis pôde sentir a excitação do detetive só de vê-lo friccionar as palmas das mãos, como se dissesse: "Chegou a hora!"

Viu William anotar seu nome completo na folha — Dênis Rosa Cacheado — e preencher o último lugar vazio do desenho que fazia. Depois disso, Dênis ficou surpreso ao vê-lo se levantar e dizer:

— Espere aqui.

Dênis virou a cabeça para trás e o viu sair.

Cruzou os dedos das mãos sobre a mesa e aguardou enquanto seu nervosismo aumentava. Que droga, o que esse metido a fodão está fazendo? Quando ouviu a porta se abrir novamente, viu Lúcia sendo trazida por William, que puxou uma cadeira do canto da sala e ordenou que ela se sentasse ao lado dele.

Lúcia tinha os mesmos olhos lacrimosos, como uma folha no orvalho. Não disseram uma palavra enquanto o detetive se acomodava do outro lado da mesa.

— Dênis — William pigarreou e tossiu de leve. — Você era o Assassino do jogo, certo?

— Era eu mesmo — confirmou ele, enquanto Lúcia olhava para baixo.

— Algumas pessoas disseram que ouviram movimentações estranhas.

— E daí? — perguntou, azedo.

— Menos — disse o detetive, apontando a caneta para o rosto de Dênis. — Estou fazendo o meu trabalho e não quero ser atrapalhado.

Silêncio.

— De alguma forma, Lúcia sabia que era você o Assassino do jogo. — William voltou o olhar para ela, que estava pálida como um vampiro.

Dênis ficou com as bochechas ruborizadas, e o detetive notou raiva em seu olhar esbugalhado.

— Você foi fazer o que na sala de Lúcia? Ou melhor, vou dirigir essa pergunta a ela: Lúcia, o que Dênis foi fazer em sua sala?

Antes de ela responder, lançou um olhar para seu cúmplice, em busca de apoio.

— Ele... não... foi... — Ela optou por continuar mentindo.

— Duas pessoas ouviram algo na sua sala, Lúcia. Barulho de porta abrindo e de carteira arrastando. Se pensarmos que sua porta foi aberta, e está afirmando que Dênis não entrou em sua sala, então você saiu!

Lúcia deixou as lágrimas caírem.

Dênis puxou o ar com rapidez para abastecer seus pulmões, e sabendo que Lúcia poderia se dar mal com aquela situação, pôs-se a dizer:

— Eu fui sim à sala dela. — Ele olhou para a moça, que soluçava, surpresa, e continuou — Lúcia, valeu pela tentativa de me proteger, mas... Escute, eu fiz ela esbarrar na carteira porque eu a beijei.

Eles viram William suspirar e morder o lábio superior, e antes que ele falasse, houve um silêncio desagradável.

— E então me diga. Lúcia era seu alvo? Sua Vítima no jogo?

E agora? Será que Lúcia contou que eu fui até Juliet antes?

— Isso — disse ele, inseguro.

— Dênis, deixe-me entender. Você está me dizendo que seu alvo era Lúcia e não Juliet? Você foi direto para a sala dela?

— Aham, fui. — Ele piscou diversas vezes.

William perdeu a compostura e socou a mesa com os dois punhos cerrados.

— Acham que eu sou um completo idiota? — Os dois arregalaram os olhos, e Lúcia interrompeu o seu choramingo. — Vocês estão mentindo! Andrew foi claro e seguro quando disse que você, Dênis, saiu da sala decidido a tirar Juliet do jogo. E tenho certeza de que quando Andrew disse "cidade acorda", como mandam as regras do jogo, Lúcia SAIU da sala, ou seja, ela sabia que a Vítima era Juliet, e NÃO ela! Você contou para Lúcia que Juliet havia sido seu alvo, caso contrário, se realmente a senhorita aqui fosse a Vítima, ela nem sairia da sala, não é mesmo? Não é assim que as regras funcionam? Se Andrew e Lúcia sabem que você entrou na sala de Juliet, rapaz, tenho provas suficientes para meter uma prisão preventiva em você!

Os dois estavam vermelhos como tomates.

— Confesse, Dênis! Chega de mentiras! Diga que foi até a sala de Juliet! Diga que depois foi até Lúcia, não só para beijá-la, mas para garantir um álibi que desviasse a atenção de todos e para provar que estava na sala dela, e não na de Juliet!

— Chega, porra! — gritou Dênis. Estava tremendo e com a respiração cerrada. — Eu confesso! Eu entrei na sala de Juliet. E, sim, falei para a Lúcia que havia escolhido a Juliet como alvo, mas isso não quer dizer que eu a matei!

— Isso é o que nós vamos ver, Dênis!

Naquele exato momento, o celular do detetive tocou. Dois policiais se aproximaram da sala devido aos gritos de ambos os homens. William atendeu o telefone e, com a outra mão, fez um gesto aos policiais, pedindo que aguardassem a próxima ordem, enquanto ouvia o outro policial que estava na linha.

Era o perito, Tony.

— Senhor, já tenho um relatório prévio do reconhecimento da cena do crime. Encontramos objetos importantes!

— Ótimo. — William virou-se de costas. — Antes de enviarmos para o laboratório, quero que traga os objetos para cá, depois, encaminho para as análises forenses, certo?

— Entendido, senhor.

Ao desligar, William se dirigiu aos dois policiais que esperavam na porta:

— Levem estes dois, e fiquem de olho neles. E, aliás, não deixem que se comuniquem. Aguardem as próximas ordens. Depois de ler o relatório, direi o que fazer com esses dois!

Filhodaputa! Vai se arrepender!

**********

Segundos depois, William Guimarães Silva passou as mãos no rosto, tomou água, e concentrou-se em sua respiração. Quando estava mais calmo se acomodou na cadeira e puxou as anotações para si. Releu algumas, as mais relevantes, e fitou seu desenho, o lay-out que ele havia organizado as posições dos jogadores, seus possíveis movimentos, e também a hipótese de alguém "de fora" ter envolvimento no crime. Mas o óbvio era que Dênis tornara-se sua presa principal.



O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora