Capítulo 9 - O depoimento de Robson

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O mais assustado dos homens entrou para o combate com o detetive. Ele se mostrava bastante apreensivo. William lhe apontou a cadeira à sua frente, para que se sentasse, e perguntou:

- Robson, não é mesmo?

- Isso, senhor. Robson Mares da Conceição - disse, vendo o detetive anotar seu nome, enquanto se ajeitava na cadeira.

- Quero que me responda com toda sinceridade, e descreva os detalhes de tudo o que sabe.

- Sim.

Apesar do nervosismo, havia humildade em seus olhos brilhantes, tão inocentes que qualquer um poderia jurar que ele não seria capaz de matar um animalzinho sequer.

William perguntou qual sala Robson ocupava na hora da brincadeira. Ouviu a resposta e anotou num desenho formado por duas fileiras de quadrados, separados por um retângulo extenso, simulando as salas da FHCE e o corredor.

Robson confirmou toda a situação descrita por Andrew, tudo o que havia acontecido na mansão. O detetive pediu de forma resumida para que ele também comentasse sobre o jogo. Ambos os jovens haviam contato a mesma coisa: o Cúmplice escolhe o Assassino, que faz a Vítima. Há uma votação. O Suspeito se declara Inocente ou Assassino e tudo mais.

Quando questionado sobre como tiveram conhecimento do jogo, Robson disse, mostrando certa confusão:

- Então. Um e-mail. Juliet recebeu. Era alguém com um nome estranho. Um tal de Misterioso.

- Misterioso? - William o encarou.

- Ah não. Desculpe, é Interrogação. - Que bola fora! - Nem Juliet e nem nós tínhamos noção de quem pudesse ser, mas a brincadeira parecia ser boa, e quando tocamos no assunto de valer dinheiro, ficou mais interessante. Eu precisava de grana, sabe como é, né? Nós jogamos valendo vinte reais de cada... mas nunca imaginaríamos que pudesse acontecer o que aconteceu...

Estou falando demais? - Robson se perguntou, mas o detetive não movia um músculo para que ele pudesse interpretar.

- E, já que tocou nesse assunto, o dinheiro foi devolvido, no final das contas?

- Ah, não senhor. Ele ficou comigo, está no meu bolso agora. Tenho que devolver ao pessoal depois... Menos a Juliet...

Pelo jeito meio "bobo" do rapaz, à primeira vista, seria difícil apontá-lo como assassino, mas William conhecia bem esse tipo, já lidara com diversos psicopatas. Alguns eram tão frios que mesmo acusados e culpados, faziam-se de desentendidos e de inocentes, e ao mesmo tempo tinham habilidade de culpar pessoas e manipulá-las, como se as provas não significassem nada.

- Quero saber se você viu ou ouviu algo de estranho - inquiriu William, entrelaçando os dedos e apoiando os cotovelos na mesa.

- Acho que não...

- Acha?

Que droga, cara... Não sei até que ponto eu devo falar as coisas...

- Responda. - O detetive o fitou. - O que é que você viu? Quero detalhes.

Me ferrei.

- Tudo bem, senhor... Eu vi uma coisa, sim. - Depois de um suspiro demorado, ele desabafou. - Eu trapaceei. Eu não deveria ter feito isso, mas fiz. Eu queria esse dinheiro, sabe? Não é muito, o senhor pode achar, mas duzentos reais me ajudariam bastante. É quase o que eu ganho em uma semana de serviço.

- Compreendo. Prossiga. Como é que você trapaceou?

- Eu abri a porta para espiar. Pelo buraco da fechadura não dava para ver direito. Então, tentei ser o mais discreto possível, acho que ninguém me viu.

- Mas, afinal, você viu quem era?

Devo dizer tudo?

- Eu não sei dizer exatamente quem eu vi entrando na sala de Juliet. A pessoa tem que usar uma capa e uma máscara para evitar que os outros o identifiquem. Vi só o pé, quer dizer, um pedaço dos tênis, uma pequena parte. Mas não me lembro. E não sei informar a altura da pessoa, pois vi muito pouco.

- Quando disse que viu só o pé, quis dizer que não chegou a ver a capa, correto?

- Pensando bem, eu realmente não consigo me lembrar de ter visto um pedaço da capa. Só uma parte dos tênis.

Mesmo sendo uma informação sem detalhes, era algo novo para William.

- Isso pode ser importante, Robson. Preciso que você se concentre e se esforce para lembrar como eram esses tênis. Preciso que me relate para que eu possa focar determinado suspeito.

- Era preto. É o que sei. É só o que consigo lembrar, estou nervoso... me desculpe...

- Ok, então deixarei uma pequena missão para você. Preste atenção - disse o detetive se projetando mais para frente, seus olhos fitos nos de Robson: - Observe os tênis de todos os seus amigos. Faça um esforço e puxe na memória, tente se lembrar dos detalhes.

- Tudo bem. - Robson concordou com movimentos de cabeça também. Ele parecia disposto a ajudar, mas tinha medo. O detetive confia em mim - pensou.

- Faça essa observação o mais minuciosamente que puder, rapaz. Lembre-se de que está ajudando a polícia. Depois me informe apenas os nomes das pessoas que estão usando calçados pretos, entendido? Se alguém chegar a perceber que está olhando para os pés deles e perguntar, diga que não é nada, ou invente desculpa melhor.

- Sim, pode deixar comigo. - Robson se mostrou empolgado.

- E antes que eu me esqueça, qual é a cor do seu?

Os olhos dele, de maneira involuntária, correram do detetive até seus próprios pés. Robson levantou a cabeça devagar e entendeu o que o detetive insinuou.

- É preto, senhor.

- Tudo bem. - A possibilidade de Robson estar narrando a cena de seu ponto de vista para ter um álibi e se manter incólume era considerável para o detetive, que tomou nota.

- Alguém sabia que vocês estavam indo para a FHCE?

- Os porteiros sabiam que a gente ia sair, mas não exatamente que íamos para a FHCE. Juliet não contou detalhes para ninguém.

- Reparou se estavam sendo seguidos?

Seguidos? O que o detetive quer dizer com isso? Será que ele sabe de alguém que tenha nos seguido?

- Não. Por que pergunta isso?

- Quem interroga aqui sou eu - respondeu, num tom seco.

- Foi mal. - Robson abaixou a cabeça e olhou mais uma vez para seus pés.

- E saberia me dizer quem era o Assassino do jogo?

- Não, senhor. A gente estava tão apavorado que não nos importamos com isso na hora.

- Entendo. Teria mais alguma informação ou comentário a fazer, Robson?

Quero é me livrar logo disso, antes que feda pro meu lado.

- Não, senhor. - Foi curto na resposta. - Posso ir?

- Sim, e observe o que lhe pedi. Veja todos com atenção e, quando terminar, de maneira discreta, volte aqui.

Robson franziu os lábios e fez que sim com a cabeça, depois se levantou e saiu, deixando a cabeça de William palpitando com suas frases: "trapaceei", "vi alguém", "tênis pretos".



O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora