Capítulo 4 - Convite suicida

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03 de julho de 2015, sexta-feira - 11h06

Juliet rolou um pouco na cama e abriu os olhos. Seus músculos estavam descansados e sua cabeça já não dava mais aquelas pontadas incômodas. Olhou para o relógio na cabeceira e viu que já se passara - e muito - da hora de acordar. Era quase hora do almoço, e ela estava faminta.

Saiu da cama e foi escovar os dentes. Quando colocou a escova com o creme dental na boca, sentiu o delicioso gostinho de menta. Como um choque, lembrou do licor, e da maravilhosa noite de ontem.

Desceu as escadas com pressa. O almoço estava quase pronto.

**********

Abilene a viu entrar na cozinha, e recebeu o beijo matinal atrasado. Viu Juliet se sentar.

- Está se sentindo bem, querida? - perguntou ela, sempre educada, doce no modo de falar, e com sua habitual roupa preta, elegante demais para uma empregada.

- Sim, tia Be. E a senhora?

Gostaria de estar - pensou, e logo respondeu:

- Para ser sincera, não estou lá muito bem, minha filha.

- Oh, tia Be... diz para mim o que aconteceu.

É coisa de mãe. Temos um dispositivo que alarma quando nossos filhos não estão bem - cogitou em dizer, mas desistiu, pois isso faria Juliet lembrar que não tinha pais.

- Natan está bem estranho. Depois que se separou ele ficou diferente. Ele nem ao menos finge estar bem, e isso me preocupa.

Juliet não sabia como ajudar, então ouviu o desabafo de Abilene sobre seu único filho, Natan, e deu um abraço bem apertado naquela mãe preocupada.

- Obrigada Juliet, é tão bom poder ter esses breves momentos de mãe com você.

A garota sorriu em resposta e, para amenizar toda aquela melancolia, Juliet perguntou sobre Augusto.

- Ele foi à Metal, saiu bem cedo, e disse que depois ia passar na casa de Fabiano para conversar um pouco. Deve estar lá agora. Você sabe o quanto seu tio adora relembrar os velhos tempos com seu amigo de infância, não é? Os dois sempre têm histórias para contar, e quando se reúnem, gastam a tarde inteirinha com o passado.

- Que nostálgico - disse Juliet.

- Pois é. Percebe o bem que seu tio proporciona a todos?

- Claro que sim, tia Be. Titio mudou a vida de Fabiano também. Ainda bem que reapareceu no momento certo. Isso lhe trouxe boas recompensas!

- Ora, se sim.

Depois de alguns minutos observando Juliet beliscar um pão, perguntou se ela queria dizer algo.

- Já que notou... - Juliet fez uma pausa. Refletia. - Tia Be, estou pensando no que foi combinado ontem com o sr. Gentil.

- Quando você vem com essa de "sr. Gentil"...

- Estou brincando... - Sorriu e segurou as mãos de Abilene entre as suas. - Vou convidar meus amigos para virem aqui hoje, o que acha?

Ela age como se fosse minha filha, isso é gratificante...

- Por mim, você sabe que tudo bem - respondeu. - Mas sabe que não tenho o poder de decidir algo, não é, minha filha?

- Sei, mas relaxa. Só preciso de uma ajudinha da senhora. - Juliet sustentou o sorriso, e mostrou a melhor feição angelical que conseguiu. - Quero que passem esta noite aqui, sei que o titio vai contestar, mas se a senhora puder me ajudar a convencê-lo, ficaria eternamente agradecida.

Abilene fingiu pensar e assumiu uma expressão séria antes de falar:

- Mas é claro que ajudo.

As duas se abraçaram.

**********

O senhor Augusto chegou naquela hora, acompanhado de Fabiano. Um contraste gritante: um era magro, andava com passos suaves, carregava uma expressão séria no rosto e, pela silhueta, era frágil. O outro era corpulento, andava de modo desajeitado e estava sempre sorridente.

- Boa tarde - disse Fabiano, sem desfazer a expressão de alegria.

Almoçaram todos juntos, comentando amenidades do dia a dia e discutindo algumas pendências da empresa.

Na hora certa, Juliet lançou o pedido que havia discutido com Abilene. Augusto ficou sem saída, pois até Fabiano se empolgou com a ideia e acabou ajudando Juliet a convencer seu tio.

- Parece que não tenho mais voz ativa aqui - consentiu o velho. - Abilene, por gentileza, ajeite os quartos de hóspedes.

Juliet encheu seu tio de beijos e abraços e o fez rir.

- Obrigada! - disse, e piscou para Abilene.

Você merece ser feliz, menina.

Abilene a viu subir as escadas saltitante.

**********

Juliet ia ligar para seus amigos e fazer o convite.

Em sua escrivaninha, descansava o livro A murder is announced, da Rainha do Crime, Agatha Christie. Juliet já havia lido a versão traduzida para o português, Convite para um homicídio, mas sempre quis ler o original, e, graças às aulas de inglês que a tinham tornado fluente, isso era possível. Ela fitava o livro, com o telefone na orelha, sem imaginar o significado gritante que aquele título trazia naquele momento.

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora